24 C
Três Lagoas
terça-feira, 17 de junho de 2025

Antes das vaias, vieram as conquistas: Uma história que começou com determinação e visão política

Por: Ricardo Ojeda

Embora eu não tenha procuração para defender a ministra Simone Tebet, é preciso fazer alguns esclarecimentos diante da repercussão negativa das vaias que ela recebeu durante seu discurso na abertura do desfile cívico em comemoração aos 110 anos de Três Lagoas.

Justiça seja feita: o desenvolvimento econômico que transformou Três Lagoas nas últimas duas décadas passa, inevitavelmente, pela atuação de Simone Tebet quando foi prefeita durante dois mandatos do município que iniciou em 2004. Naquela época, a realidade era muito diferente da atual. A arrecadação municipal mal cobria os salários do funcionalismo público e os recursos para investimentos em infraestrutura eram escassos.

DECISÃO ESTRATÉGICA

Diante desse cenário desafiador, Tebet tomou uma decisão estratégica que mudaria para sempre o perfil econômico da cidade e da região. Ela liderou uma comitiva que viajou ao estado do Tennessee, nos Estados Unidos, diretamente à sede da International Paper, com o objetivo de apresentar Três Lagoas como um polo promissor para a instalação de uma fábrica de celulose. A proposta incluiu uma série de incentivos fiscais e logísticos, que despertaram o interesse dos executivos da IP.

O resultado dessa articulação foi a instalação da primeira linha de produção de celulose no município, um projeto inicialmente liderado pela Votorantim Celulose e Papel (VCP), com a parceria da própria International Paper (atual Sylvamo). Em 19 de novembro de 2006, foi lançada a pedra fundamental da VCP, que após sua inauguração em abril de 2009, a fábrica foi o divisor de águas na história econômica de Três Lagoas.

CICLO DE EXPANSÃO

Esse primeiro investimento foi o pontapé inicial de um ciclo de expansão que não parou mais. O sucesso da planta atraiu outras gigantes do setor de celulose. Hoje, quase 20 anos depois, o Mato Grosso do Sul conta com quatro grandes linhas de produção: três operadas pela Suzano Papel e Celulose, (duas em Três Lagoas e uma na cidade de Ribas do Rio Pardo), uma pela Eldorado Brasil, que tem planos de lançar a segunda linha. Além disso, uma nova fábrica está em construção no município de Inocência pela chilena Arauco e uma outra planta da Bracell, tem projeto pata instalar em Bataguassu, consolidando ainda mais o título de “Capital Mundial da Celulose”, como Três Lagoas passou a ser conhecida.

GERAÇÃO DE EMPREGOS

Atualmente, o setor de celulose em Três Lagoas emprega diretamente mais de 12 mil pessoas e milhares de outros trabalhadores de forma indireta, movimentando a economia não apenas da cidade, mas de todo o Estado. O segmento lidera a pauta de exportações de Mato Grosso do Sul e tornou-se a principal fonte de arrecadação de ICMS para o governo estadual.

Portanto, é inegável o papel que Simone Tebet teve no início dessa trajetória. Sua iniciativa visionária foi o primeiro passo de um ciclo de desenvolvimento que hoje sustenta milhares de famílias e colocou Três Lagoas no mapa mundial da produção de celulose.

DO PROTAGONISMO AO DESGASTE POLÍTICO

Diante desses fatos, a história recente de Três Lagoas é marcada por um impressionante ciclo de desenvolvimento. Isso não pode ser contada sem citar o protagonismo da ministra do Planejamento, Simone Tebet. Assim como ela foi peça-chave na articulação que trouxe a indústria de celulose — responsável por transformar a economia local e posicionar o município como um dos maiores polos industriais de Mato Grosso do Sul —, também esteve à frente das negociações para a instalação da Unidade de Fertilizantes Nitrogenados (UFN3), cuja obra está paralisada há uma década.

FRUSTRAÇÃO

No entanto, é preciso separar os fatos. A frustração em torno da UFN3, embora legítima, não pode ser imputada diretamente a Simone Tebet. A paralisação da obra está atrelada a escândalos de corrupção que marcaram a era Dilma Rousseff, período em que a Petrobras — responsável pelo projeto — foi tragada por uma das maiores crises institucionais da sua história. Simone, embora defensora da implantação da fábrica, não teve qualquer participação nos atos que levaram à sua interrupção. Portanto, ela não deve carregar sozinha a cruz do fracasso da UFN3.

As vaias dirigidas à ministra durante o desfile cívico de aniversário de Três Lagoas, no entanto, não parecem estar relacionadas à sua atuação passada. O incômodo da população está mais ligado à sua escolha política recente: Simone, que construiu sua trajetória com o apoio do eleitorado conservador, decidiu se aliar ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva — a quem, no passado, não poupou críticas duras, inclusive chamando-o de corrupto. Essa mudança de postura foi interpretada por muitos como uma traição de princípios e dos eleitores que a confiaram como uma voz da direita.

É nesse ponto que a decepção ganha força. Como ministra do Planejamento, cargo de peso e influência, Simone Tebet poderia ter assumido a liderança pela retomada das obras da UFN3, que deixou um rastro de prejuízos — estimados em mais de R$ 100 milhões a fornecedores locais. Mas, passados dois anos e meio de governo, nenhum avanço concreto foi registrado. A omissão, neste caso, pesa.

O povo, por vezes, tem memória seletiva. Esquece que Simone foi uma das maiores responsáveis pelo salto de desenvolvimento que Três Lagoas viveu nas últimas décadas, principalmente quando prefeita. Hoje, no entanto, enxerga nela a figura da política que mudou de lado e que, até o momento, não correspondeu às expectativas geradas por sua nova função.

Os protestos e vaias durante um evento festivo podem até fazer parte da democracia, mas a história e os fatos permanecem: o desenvolvimento industrial de Três Lagoas tem, sim, a marca de uma decisão política corajosa tomada há quase duas décadas. Porém a política é feita de decisões — e suas consequências.

(*) Diretor do site Perfil News

Leia também

Últimas

error: Este Conteúdo é protegido! O Perfil News reserva-se ao direito de proteger o seu conteúdo contra cópia e plágio.