A sobretaxa de 50% anunciada pelo governo Donald Trump, embora só entre em vigor em 1º de agosto de 2025, já começa a provocar efeitos negativos em diversos setores da economia brasileira
A decisão de Donald Trump de impor tarifas elevadas acendeu um alerta em vários setores, incluindo o de papel e celulose, o qual Três Lagoas é campeã no ranking de Mato Grosso do Sul na exportação.
IMPACTOS NA CELULOSE
A Suzano, companhia que nasceu na cidade de mesmo nome e é líder mundial na fabricação de celulose, tem 19% das vendas líquidas destinadas aos Estados Unidos, de acordo com um levantamento do grupo financeiro Goldman Sachs.

Esse percentual é consideravelmente elevado para ser redirecionado rapidamente para outros mercados. A empresa possui contratos de longo prazo com clientes estadunidenses, com exigências de qualidade específicas, o que dificulta mudanças imediatas.
Se mantida, a política tarifária norte-americana pode incentivar compradores a buscar alternativas em países como Chile e Uruguai, além de fomentar um movimento de substituição por suprimento doméstico nos Estados Unidos.
Os números ajudam a dimensionar o tamanho da questão. De acordo com o Goldman Sachs, o Brasil exportou cerca de 2,8 milhões de toneladas de celulose de fibra curta para os Estados Unidos ano passado, volume que representa 78% do consumo americano desse tipo de produto, 14% das exportações brasileiras e 7% do mercado global.
A medida, que visa impor barreiras tarifárias a produtos brasileiros importados pelos Estados Unidos, ameaça abalar setores estratégicos e intensifica o conflito comercial entre os dois países.
Enquanto o governo brasileiro negocia alternativas para mitigar os impactos, o setor produtivo brasileiro começa a sentir o peso da medida. Em contrapartida, Brasília também sinaliza que poderá retaliar os EUA caso as tensões se agravem.
Veja abaixo outros produtos brasileiros que já registram prejuízos com a sobretaxa e quais as perspectivas para esses setores.
1. Manga: principal fruta exportada, enfrenta incertezas e as exportações foram suspensas com a proximidade do início das sobretaxas. A manga, principal fruta in natura exportada pelo Brasil para os Estados Unidos, viu suas negociações praticamente suspensas nos últimos dias.
De acordo com a Abrafrutas (Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados), o impasse tarifário ocorre justamente no momento em que a janela de embarques para o mercado americano está prestes a se abrir — a partir de agosto.
O Nordeste, maior polo produtor do país, está em alerta, com produtores falando até em risco de quebradeira no setor caso as negociações não avancem.
2. Pescados: setor ameaça suspender exportações para os EUA
70% da produção depende do mercado americano. O setor de pescados do Brasil anunciou que pretende suspender exportações para os Estados Unidos dentro de uma semana, caso a sobretaxa entre em vigor conforme previsto.
Com cerca de 70% da produção destinada ao mercado americano, a medida pode tornar inviável a continuidade das operações até que novos mercados sejam conquistados.
CONTÊINERES PARADOS E PREJUÍZOS LOGÍSTICOS

No último dia 10 de julho, mais de 50 contêineres frigoríficos contendo cerca de mil toneladas de peixes deixaram de ser embarcados para os EUA. A pressão sobre o governo para negociar um adiamento mínimo de 90 dias da sobretaxa cresce no setor.
Estratégias para o futuro
Enquanto isso, pescadores e exportadores buscam diversificar destinos e aprimorar a cadeia logística para não ficarem reféns do mercado americano, mas a adaptação é complexa e pode levar meses ou anos.
3. Carne bovina: frigoríficos paralisam produção para os EUA
Frigoríficos no Mato Grosso do Sul suspenderam a produção voltada para os Estados Unidos após o anúncio da sobretaxa. Apesar da produção destinada ao mercado nacional seguir normal, as empresas estão em busca de mercados alternativos no exterior.
EUA, segundo maior comprador da carne brasileira
Segundo o presidente da Abiec (Associação Brasileira de Carne Bovina), Roberto Perosa, o mercado norte-americano é o segundo maior comprador de carne bovina brasileira. Contudo, a alta da tarifa tem levado o setor privado a avaliar se fará novos embarques para os EUA.
IMPACTOS NO SETOR E NA ECONOMIA LOCAL
A possível redução nas exportações americanas pode levar à queda da receita, perda de postos de trabalho e pressão sobre os preços internos, afetando toda a cadeia produtiva da carne bovina no Brasil.
4. Café: corrida para antecipar embarques antes da sobretaxa
No mercado de commodities, traders e exportadores de café têm agido rapidamente para descarregar o máximo possível de café brasileiro nos Estados Unidos antes da entrada em vigor da sobretaxa.
Estratégias como desvio de navios em meio à viagem, cancelamento de paradas em portos intermediários e até envio do produto armazenado em países vizinhos para os EUA estão sendo adotadas para tentar minimizar o impacto.
RISCO DE QUEDA NOS PREÇOS E DESVALORIZAÇÃO DO PRODUTO

A pressão gerada pela tarifação pode resultar em queda da demanda e, consequentemente, na desvalorização do café brasileiro, que é uma das principais commodities exportadas pelo país e responsável por geração significativa de divisas.
5. Aviões: Embraer enfrenta queda nas ações e prejuízos bilionários. Ações despencam mais de 8% após anúncio da sobretaxa.
No setor de bens de capital, a fabricante brasileira Embraer foi uma das empresas mais impactadas pelo anúncio da sobretaxa. Um dia após a medida ser divulgada, as ações da companhia caíram mais de 8% na bolsa.
ESTIMATIVA DE PREJUÍZO DE R$ 2 BILHÕES EM 2025
Segundo analistas do JPMorgan, a Embraer pode sofrer um impacto de cerca de 13% na receita devido à medida. O CEO da empresa, Francisco Gomes Neto, projeta que os custos com tarifas podem chegar a R$ 2 bilhões somente em 2025, podendo atingir R$ 20 bilhões até 2030, além de provocar demissões.
DESAFIOS PARA A EMBRAER E O SETOR AEROESPACIAL BRASILEIRO

A sobretaxa ameaça a competitividade da Embraer no mercado americano, que é um dos mais importantes para a empresa. A incerteza sobre tarifas adicionais pode dificultar investimentos e acordos comerciais futuros.
O governo federal vem tentando articular negociações com os Estados Unidos para evitar a implementação da sobretaxa ou conseguir seu adiamento. A expectativa é que o diálogo permita uma solução que minimize os prejuízos para os setores produtivos brasileiros.
POSSÍVEL RETALIAÇÃO BRASILEIRA EM CASO DE ESCALADA
Por outro lado, Brasília já sinalizou que está preparando medidas retaliatórias caso o conflito comercial se agrave, envolvendo aumento de tarifas sobre produtos americanos ou outras ações econômicas.
IMPORTÂNCIA DO EQUILÍBRIO NAS RELAÇÕES COMERCIAIS
Especialistas destacam que o confronto tarifário prejudica ambos os lados e que o melhor caminho é o diálogo para preservar a competitividade do comércio bilateral e a geração de empregos.
Conclusão: setores brasileiros enfrentam desafios com sobretaxa
A sobretaxa de 50% anunciada pelo governo Trump, mesmo antes de entrar em vigor oficialmente, já está provocando efeitos significativos sobre diversos setores-chave da economia brasileira, como celulose, manga, pescados, carne, café e aviões.
O impacto se reflete não apenas em perdas financeiras imediatas, mas também na expectativa e planejamento futuro das empresas e produtores.
A situação exige respostas ágeis do governo brasileiro, que busca negociar com os EUA enquanto se prepara para possíveis retaliações, além de estimular a diversificação dos mercados de exportação.
A superação desse impasse será fundamental para garantir a estabilidade e o crescimento sustentável dos setores produtivos brasileiros.