No próximo domingo (27), celebra-se o Dia Nacional de Prevenção de Acidentes de Trabalho. Instituída em 1972, a data tem como objetivo reduzir os índices de acidentes, doenças ocupacionais, fatalidades e os custos decorrentes desses eventos — um tema urgente diante do número expressivo de ocorrências no país. Entre 2012 e 2022, foram notificados 6.774.543 acidentes de trabalho, segundo dados do Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho (SmartLab). Somente em 2024, foram registrados 724 mil casos no Brasil, de acordo com o Anuário Estatístico da Previdência Social.
Os dados mostram que a maioria das ocorrências (74,3%) é de acidentes típicos, que acontecem diretamente no exercício das atividades profissionais. Em seguida, vêm os acidentes de trajeto (24,6%) e, com uma fatia bem menor, as doenças ocupacionais (1%), muitas vezes de difícil reconhecimento formal, especialmente quando envolvem a saúde mental.
Setores como construção civil e o transporte rodoviário lideram as estatísticas de acidentes. “As lesões mais comuns incluem fraturas, cortes, lacerações, contusões e esmagamentos. Esses dados revelam não apenas um problema estatístico, mas uma falha cultural que precisa ser enfrentada com seriedade”, afirma Carolina Arsie Cardoso, coordenadora de Segurança e Medicina do Trabalho do Hospital Universitário Cajuru. Ela explica que a ausência de processos bem definidos, os treinamentos ineficazes e a falta de fiscalização criam condições propícias para riscos graves — desde jornadas exaustivas até acidentes com maquinário pesado.
A gravidade do problema também se reflete na rotina dos hospitais. Só no Pronto-Socorro do Hospital Universitário Cajuru, em Curitiba (PR), mais de 3 mil trabalhadores foram atendidos em 2024 após se acidentarem durante o expediente. Em 2025, apenas no primeiro semestre, os números já chegam a quase mil ocorrências. “Mesmo com avanços na saúde ocupacional e com ferramentas de registro, como o eSocial, os números continuam altos e podem ser ainda maiores do que imaginamos. Estudos indicam que até 85% dos acidentes de trabalho não são oficialmente notificados, e dados do Ministério Público do Trabalho revelam que, em 2022, cerca de 19% dos acidentes com afastamento não tiveram emissão da Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT)”, detalha Carolina.
Quando um acidente ocupacional acontece, o SUS é a linha de frente: emergências sobrecarregadas, leitos ocupados e equipes médicas mobilizadas. No entanto, segundo a especialista, o impacto vai além do atendimento imediato. “O sistema também arca com os custos de internações prolongadas, tratamentos complexos, reabilitação física e psicológica, além de programas de reintegração profissional. Cada acidente evitado é um alívio para o trabalhador, para a empresa e para todo o sistema de saúde”, reforça.
De acordo com Eduardo Novak, ortopedista do Hospital Universitário Cajuru, a maior parte dos casos está associada a acidentes com serras (como a serra mármore), quedas de andaimes, escadas e telhados, além de lesões causadas por máquinas industriais, como moedores, trituradores e plainas. “As consequências mais frequentes são fraturas, cortes profundos, esmagamentos e traumas musculoesqueléticos”, completa.
Prevenção é fundamental
Para a especialista, a prevenção precisa ser tratada como prioridade estratégica, e não como um mero cumprimento de normas. “As empresas precisam adotar uma cultura sólida de segurança, com treinamentos contínuos, análises de risco e uso rigoroso dos equipamentos de proteção individual (EPIs). Mas também é essencial cuidar da saúde mental dos trabalhadores, monitorando fatores psicossociais e promovendo canais de apoio emocional”, aponta Carolina.
Além disso, ela destaca o papel dos próprios trabalhadores na prevenção de acidentes. “A segurança ocupacional é uma via de mão dupla. Usar os EPIs corretamente, relatar riscos, participar dos treinamentos e manter uma postura responsável também salva vidas”, finaliza, ressaltando que investir em segurança do trabalho vai além de boas práticas: trata-se de uma estratégia inteligente, com a implementação de programas de bem-estar, palestras e ações educativas que fortalecem a consciência coletiva e contribuem para a construção de ambientes mais saudáveis, produtivos e humanos.
Sobre o Hospital Universitário Cajuru
O Hospital Universitário Cajuru é uma instituição filantrópica com atendimento 100% SUS e com a certificação de qualidade da Organização Nacional de Acreditação (ONA) nível 3. Está orientado pelos princípios éticos, cristãos e valores do Grupo Marista. Vinculado às escolas de Medicina e Ciências da Vida da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), preza pelo atendimento humanizado, com destaque para procedimentos cirúrgicos, transplante renal, urgência, emergência, traumas e atendimento de retaguarda a Pronto Atendimentos e UPAs de Curitiba e cidades da Região Metropolitana.