Especialistas destacam como a presença paterna fortalece vínculos emocionais e impulsiona o desenvolvimento integral do indivíduo
Ao longo da história, a figura paterna foi tradicionalmente associada ao provedor financeiro e ao guardião da autoridade familiar, presente principalmente como símbolo de disciplina e sustentação econômica. Em eras agrárias e industriais, o pai raramente participava das rotinas afetivas do lar, concentrando-se no trabalho fora de casa enquanto a mãe cuidava dos filhos.
Na atualidade, a figura paterna vive uma redefinição: o pai participa ativamente da educação, do cuidado cotidiano e das expressões emocionais, compartilhando tarefas domésticas e dedicando tempo de qualidade aos filhos. Essa evolução reflete mudanças culturais, maior valorização da paternidade afetiva e o reconhecimento, por parte da sociedade, de que a presença paterna é tão essencial ao desenvolvimento infantil e juvenil quanto o suporte materno.
A importância da figura paterna
A interação pai-filho traz benefícios importantes e estimula áreas cerebrais ligadas à regulação emocional e ao processamento de recompensas, podendo ser importante na construção da autoestima e na gestão de estresse. Além disso, crianças com laços paternos sólidos tendem a desenvolver relações interpessoais saudáveis, e capacidade de empatia e cooperação.
Segundo a educadora, psicóloga e gestora da Escola Internacional de Alphaville, de Barueri/SP, Ana Claudia Favano, a importância da figura paterna se torna amplamente positiva quando os exemplos são valorosos e trazem bons aprendizados a serem absorvidos e incorporados na vida da criança, pois elas na verdade aprendem com as atitudes paternas que vivenciam e bem menos com o que ouvem deles.
“Quando o pai se envolve ativamente, oferecendo apoio emocional e participação nas rotinas diárias, ele fortalece a sensação de segurança dos filhos, essencial para que eles explorem o mundo com confiança”, diz Ana Claudia. “Os pais que hoje conseguem impor limites aos filhos com consistência e coerência, sem abrir mão de regras combinados, valores e princípios fundamentais, são os que mais terão contribuído para a verdadeira formação do caráter de futuros adultos equilibrados”.
Ela acrescenta, ainda, que em ambientes escolares, a presença paterna, quando é realmente efetiva, ajuda a ampliar a capacidade de formação de habilidades de autorregulação. “Assim quando ambos os genitores estão presentes, observamos como é fundamental, pois conseguimos um alinhamento único na tomada de decisões”.
Como outra pessoa pode ocupar a figura paterna?
Em situações de ausência paterna por motivos diversos — como separação, falecimento ou distância profissional —, outras figuras de cuidado podem exercer papéis fundamentais no desenvolvimento emocional e social das crianças. Avôs e avós, tios, madrastas ou padrastos, e tantos outros adultos significativos podem oferecer vínculos potentes e inspiradores, desde que pautados na consistência afetiva e no compromisso com o bem-estar da criança.
“O que realmente fortalece esse vínculo é a presença sensível, a escuta ativa e a disponibilidade emocional. Independentemente do laço biológico ou do papel formal na família, é a qualidade da relação que proporciona segurança, referências emocionais e modelos de comportamento”, observa a coordenadora pedagógica da Escola Bilíngue Aubrick, da capital paulista, Renata Alonso.
A figura paterna nas novas configurações de famílias
As configurações familiares na sociedade atual são amplas e diversas. Modelos como famílias monoparentais (com apenas um responsável), famílias recompostas (formadas após novas uniões), famílias homoafetivas e famílias multiculturais representam variações legítimas e enriquecedoras do convívio familiar.
Essas estruturas se afastam do modelo tradicional centrado exclusivamente na figura do pai e da mãe, mas mantêm algo essencial: a presença de adultos responsáveis, atentos e afetivos, que exercem de forma equilibrada os papéis de cuidado, orientação e referência emocional.
A orientadora educacional Maria Teresa Casamassima, do Brazilian International School – BIS, de São Paulo/SP, destaca que em configurações familiares não convencionais, o fator mais importante é a segurança emocional oferecida. Segundo ela, “a diversidade de figuras parentais enriquece a rede de apoio, ampliando as oportunidades de aprendizado e de expressão afetiva das crianças”.
Para o desenvolvimento saudável das crianças, é fundamental que exista: um ambiente de respeito, afeto e estabilidade emocional, comunicação clara entre os cuidadores e referências consistentes de afeto e disciplina
“Esse olhar valoriza não só a estrutura familiar, mas, sobretudo, a qualidade das relações entre adultos e crianças. É essa qualidade que forma o alicerce do desenvolvimento emocional, cognitivo e social dos pequenos”, diz Maria Teresa.
As especialistas:
- Ana Claudia Favano é gestora da Escola Internacional de Alphaville. É psicóloga; pedagoga; educadora parental pela Positive Discipline Association/PDA, dos Estados Unidos; e certificada em Strength Coach pela Gallup. Especialista em Psicologia da Moralidade, Psicologia Positiva, Ciência do Bem-Estar e Autorrealização, Educação Emocional Positiva e Convivência Ética. Dedicada à leitura e interessada por questões morais, éticas, políticas, e mobiliza grande parte de sua energia para contribuir com a formação de gerações comprometidas e responsáveis.
- Maria Teresa Casamassima é educadora, com formação em Letras e Pedagogia com especialização em bilinguismo. Atua há mais de trinta e cinco anos na área da educação, com sólida experiência na promoção de práticas pedagógicas. É orientadora educacional do Ensino Fundamental – Anos Iniciais no Brazilian International School (BIS), em São Paulo. Em sua função, acompanha o desenvolvimento acadêmico e socioemocional dos alunos, colaborando com professores e famílias para garantir uma formação integral e um ambiente escolar acolhedor e estimulante.
- Renata Alonso é formada em Pedagogia e pós-graduada em Psicomotricidade, com mais de 15 anos de experiência em educação bilíngue. Sua grande paixão são as crianças bem pequenas, e seus estudos são voltados à primeira infância, crianças de 0 a 3 anos. Com um olhar atento ao desenvolvimento integral dos pequenos, Renata acredita que essa fase da vida é crucial para a formação de indivíduos seguros, criativos e capazes de se expressar com confiança. Seu trabalho visa proporcionar um ambiente acolhedor e estimulante para o aprendizado, sempre com foco no cuidado e no afeto.