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segunda-feira, 25 de agosto de 2025

Trabalho sob calor extremo já vira alvo da Justiça e move indústria em MS

De ações por insalubridade a uniformes tecnológicos, setor busca alternativas frente às mudanças climáticas

Enquanto o governo discute mudanças na NR-15 (Norma Regulamentadora que trata da insalubridade e dos limites de exposição ao calor), os reflexos das alterações climáticas já chegam ao mercado de trabalho em Mato Grosso do Sul. Nos últimos cinco anos, a Justiça do Trabalho recebeu 70 ações de empregados que pedem adicional por exposição aos raios solares, e a indústria investe em soluções tecnológicas para proteger quem não tem escolha senão enfrentar o sol.

De um lado, a indústria desenvolve tecidos mais leves e frescos como parte dos equipamentos de proteção. De outro, a Justiça começa a receber as primeiras denúncias de condições degradantes no campo e na cidade.

Segundo a juíza Hella de Fátima Maeda, fornecer equipamentos adequados se tornou um direito estratégico. “As mudanças climáticas são uma realidade incontestável e impactam as relações de trabalho em sua totalidade. Contudo, esses efeitos se manifestam de maneira desigual, atingindo com maior severidade os trabalhadores em situação de precariedade. É fundamental que as empresas adotem medidas efetivas para proteger seus empregados”, defende.

Na outra frente, o Ministério Público do Trabalho em MS também já pressiona empresas para adotar medidas. A procuradora Claudia Noriler lembra que mais de 100 empregadores dos setores de construção civil, agroindústria e limpeza urbana foram notificados recentemente.

“São áreas em que os trabalhadores estão mais vulneráveis. Enviamos recomendações para que revisem programas de saúde e segurança, façam medições de calor em períodos críticos e ajustem horários de trabalho para evitar exposição nos momentos mais quentes”, explica.

Entre as orientações estão pausas em locais climatizados, contabilizadas como jornada, oferta de água potável e isotônicos, além de EPIs adaptados, como chapéus, protetor solar e roupas adequadas.

Prevenção na prática – Já há quem aposte em inovação. Em Dourados, a Arte Camiseteria, fundada por Gilson Kleber Lomba, de 56 anos, produz uniformes para diferentes setores com foco em sustentabilidade e proteção contra o sol.

“A sensação de calor hoje é muito maior do que no passado. O uniforme acompanha a vida do trabalhador em pelo menos um terço do dia, por isso precisa garantir saúde e bem-estar”, defende o empresário, que desde 1994 aplica princípios de ESG (Ambiental, Social e Governança) na empresa.

Entre as novidades, está uma camisa criada para quem trabalha no campo, inspirada nos modelos de pescadores. Produzida em poliamida de baixa gramatura, é leve, tem toque gelado e conta com proteção UV incorporada ao fio. O protótipo inclui amarração nas mangas, aberturas laterais e telado interno para facilitar a transpiração.

“A questão ambiental norteia praticamente toda a discussão no mundo. Acho que a questão ambiental e o bem-estar das pessoas, o bem-estar social, para essas grandes empresas têm um impacto muito grande. Um trabalhador confortável, percebendo que a empresa se preocupa com ele, é um fator que melhora o desempenho no trabalho e tem uma repercussão muito positiva na imagem da empresa”, completa Gilson.

Em Campo Grande, o assistente de logística Almir Danta Tiago, de 34 anos, vive na prática os extremos do clima durante as obras da Plaenge. Entre manhãs frias e tardes escaldantes, enfrenta sol intenso e ventos secos no dia a dia.

“Ter acesso a EPIs e uniformes adequados é um investimento essencial. Garante mais segurança, saúde e qualidade no trabalho. Sei que seremos prejudicados futuramente caso não haja mudanças no cuidado com o planeta. Essas iniciativas fazem toda a diferença”, relata.

Na construtora, os funcionários contam com uniformes de manga comprida, toucas árabes, óculos com filtro UVA/UVB e protetor solar. A hidratação é prioridade, com bebedouros a cada cinco pavimentos das torres e pausas programadas nos horários mais quentes.

Trabalho sob calor extremo já vira alvo da Justiça e move indústria em MS
Reprodução/ Campo Grande News

Em Campo Grande, o assistente de logística Almir Danta Tiago, de 34 anos, vive na prática os extremos do clima durante as obras da Plaenge. Entre manhãs frias e tardes escaldantes, enfrenta sol intenso e ventos secos no dia a dia.

“Ter acesso a EPIs e uniformes adequados é um investimento essencial. Garante mais segurança, saúde e qualidade no trabalho. Sei que seremos prejudicados futuramente caso não haja mudanças no cuidado com o planeta. Essas iniciativas fazem toda a diferença”, relata.

Na construtora, os funcionários contam com uniformes de manga comprida, toucas árabes, óculos com filtro UVA/UVB e protetor solar. A hidratação é prioridade, com bebedouros a cada cinco pavimentos das torres e pausas programadas nos horários mais quentes.

Futuro do trabalho

A discussão também avança para soluções de médio e longo prazo. Para o diretor de sustentabilidade da Fiems (Federação das Indústrias do Estado de Mato Grosso do Sul), Robson Del Casale, robotização e automação são tendências que podem reduzir riscos e esforço físico.

“A gente começou a discutir inteligência artificial, robotização e automação. Não é sobre tirar emprego, mas eliminar funções pesadas, difíceis e que muitas vezes não têm mão de obra disponível. É pensar a indústria com outro olhar”, afirma.

O avanço da tecnologia, aliado à pressão judicial e à fiscalização, mostra que Mato Grosso do Sul já se tornou um laboratório de adaptação ao clima no ambiente de trabalho.

(*) Campo Grande News

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