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quinta-feira, 11 de setembro de 2025

Comunidade rural de Inocência contesta decisão da Arauco Celulose sobre desapropriação de terras

O impasse surgiu porque, para a obra da ferrovia, a empresa obteve na Justiça uma liminar que autoriza a desapropriação de cerca de 400 hectares de terras rurais

A construção do Projeto Sucuriu, anunciado pela Arauco Celulose como a maior fábrica de celulose do mundo, trouxe à cidade de Inocência não apenas expectativas de desenvolvimento econômico, mas também tensões sociais. O investimento de mais de R$ 24 bilhões prevê, além da planta industrial, a instalação de um ramal ferroviário para escoamento da produção.

Comunidade rural de Inocência contesta decisão da Arauco Celulose sobre desapropriação de terras

FAMÍLIAS AFETADAS

O impasse surgiu porque, para a obra da ferrovia, a empresa obteve na Justiça uma liminar que autoriza a desapropriação de cerca de 400 hectares de terras rurais. A decisão afeta aproximadamente 30 famílias de produtores locais, que alegam não terem sido ouvidas antes da medida judicial.

Segundo os produtores, a forma como o processo foi conduzido gerou indignação. “O mais alarmante não é apenas a judicialização abrupta, mas a total falta de consideração pela convivência harmoniosa que deveria existir entre a empresa e seus vizinhos”, declarou um deles ao Perfil News.

PIONEIRISMO

As propriedades atingidas são, em muitos casos, patrimônios familiares. Além da perda de áreas produtivas, os pecuaristas relatam preocupação com questões práticas, como o acesso do gado a pastagens e água dentro das fazendas cortadas pela ferrovia.

“Estamos estabelecidos na região há aproximadamente 50 anos, com um legado de trabalho e tradição familiar. Nosso pai, de 74 anos, e nossa mãe, de 67, desbravaram este lugar e, em todo esse tempo, jamais foram sequer procurados pela Arauco para serem ouvidos. Desde o primeiro contato da empresa, sempre respondemos às propostas apresentadas com contrapropostas claras, demonstrando nossa intenção de buscar um consenso e uma negociação justa para ambos os lados. No entanto, todas as nossas tentativas foram ignoradas pelos representantes da companhia. Confesso que ficamos surpresos e profundamente decepcionados com a ação judicial de desapropriação, já que sempre estivemos abertos ao diálogo e dispostos a negociar”, disse Eder Soares de Queiroz, (representante da fazenda Esteio)

INDIGNAÇÃO

Outro ponto de conflito é o valor oferecido pela empresa nas negociações. De acordo com os produtores, as indenizações propostas estão bem abaixo de preços praticados em outras aquisições de terras realizadas pela própria Arauco na região. “Essa postura, que ignora a justa compensação, cria um clima de desconfiança e indignação”, afirmou uma produtora rural.

Apesar das críticas, os moradores reforçam que não são contrários à chegada de novos investimentos. “Toda empresa que queira investir em Inocência é bem-vinda. Porém, não podemos compactuar com desrespeito à nossa classe e à cidade como um todo”, destacou a produtora rural Mariene Garcia de Freitas. Ela lembrou ainda que a postura da empresa contraria os próprios valores corporativos da Arauco, que pregam respeito e bem-estar social.

Comunidade rural de Inocência contesta decisão da Arauco Celulose sobre desapropriação de terras

“Desde que soubemos da possibilidade de a linha férrea atingir nossas propriedades, temos buscado negociar. A maioria dos produtores está disposta a vender toda a área para a Arauco, mas pelos mesmos valores pagos a outros proprietários. Não é interessante permanecer com a área remanescente após a desapropriação. Terras que antes ficavam às margens da rodovia passarão a ficar às margens da ferrovia, o que aumenta muito o risco de incêndios e desvaloriza os imóveis. Infelizmente, estamos decepcionados com a atitude de partir para a desapropriação. Não fomos consultados, não houve reunião coletiva nem audiência pública. O interesse nessa ferrovia é exclusivamente privado. Portanto, não deveria ser um processo de desapropriação, e sim de compra justa”, finalizou a médica veterinária e produtora rural, Mariene Garcia de Freitas.

EQUILÍBRIO

Para a comunidade, o que está em jogo não é apenas a questão jurídica ou financeira, mas o direito de serem ouvidos e respeitados. Enquanto o município aguarda os próximos desdobramentos, produtores rurais cobram diálogo e soluções mais equilibradas, que permitam conciliar desenvolvimento econômico com a preservação da dignidade e do modo de vida local.

ESPAÇO ABERTO

A reportagem do Perfil News deixa espaço à assessoria de comunicação da Arauco, caso queira se manifestar sobre essa pauta.

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