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segunda-feira, 15 de setembro de 2025

IFMS certifica mulheres indígenas de Amambai em curso de cabeleireiro

Curso oferecido a 44 mulheres faz parte do Programa Teko Porã, realizado em parceria com o Ministério dos Povos Indígenas para fortalecer o Povo Guarani Kaiowá

Fortalecer a crença de que são capazes de gerar renda e transformar a própria realidade. O curso de cabeleireira oferecido a mulheres e jovens Guarani Kaiowá do município de Amambai é uma das metas executadas pelo Programa Teko Porã, parceria entre o Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS) e o Ministério dos Povos Indígenas (MPI).

A certificação das 44 indígenas que concluíram o curso foi realizada no último dia 10, na Escola Estadual Indígena Mbo Eroy Guarani Kaiowá. As mulheres e jovens certificadas são da Aldeia Amambai e da área de retomada Guapo’y Mirim Tujuri.

Estavam presentes na cerimônia o secretário-executivo do MPI, Eloy Terena, e a reitora do IFMS, Elaine Cassiano, que ressaltou o impacto transformador da educação profissional para melhoria das condições de vida das comunidades.

“Esse momento é muito significativo porque reafirma o compromisso do IFMS com a transformação social. Ver essas mulheres concluindo o curso, confiantes e preparadas para gerar renda, mostra a força do Programa Teko Porã e o impacto que podemos alcançar quando unimos política pública e respeito à cultura indígena. O certificado não é apenas um papel, mas o caminho de novas possibilidades para essas mulheres e suas famílias”.

Cada uma das mulheres certificadas recebeu um kit completo de cabeleireira com tesoura, pente, escova, máquina de corte, secador, prancha alisadora, borrifador, capa de corte e outros acessórios. Com o material, as indígenas podem colocar em prática o que aprenderam e gerar renda para a família.

O curso foi uma das ações executadas pela Meta 2 do Programa Teko Porã, que visa fomentar ações de fortalecimento de mulheres e jovens indígenas Guarani Kaiowá.

Para a coordenadora da meta e professora de História do IFMS, Cryseverlin Santos, a formação cumpriu com seus objetivos.

“Diante de um cotidiano de violência, preconceitos e invisibilidade, o curso de cabeleireira mostrou às indígenas que elas podem acreditar em si mesmas, conquistar seus sonhos e transformar a realidade em que estão inseridas”.

Na avaliação de Cryseverlin, a formação cumpriu com sua função.

“Além de colaborar para a geração de renda e o cuidado com a família, é uma inspiração para a comunidade. Ver essas mulheres se dedicando, superando as dificuldades e concluindo o curso com tanta alegria é uma vitória coletiva”, celebra a coordenadora.

Protagonismo 

Cilei Benites, 21, é uma das 44 indígenas que receberam o certificado do curso de cabeleireira. A jovem, que concluiu o ensino médio, mora com a irmã mais nova na Aldeia Amambai. Ambas recebem um salário mínimo por mês do Programa Bolsa Família.

Para aumentar a renda, Cilei está sempre em busca de formação. Dessa forma, tornou-se a primeira trancista da comunidade. O curso de cabeleireira do Programa Teko Porã foi a oportunidade para ampliar o conhecimento e oferecer novos serviços.

“Agora posso fazer trança indígena e trabalhar como cabeleireira na nossa aldeia. E isso pode melhorar muito a minha vida porque para cortar o cabelo a gente precisa ir na cidade”, explica.

Mais do que aprender uma profissão, a jovem Guarani Kaiowá compreendeu que é possível sonhar com um futuro melhor.

“Quero montar um salão aqui na minha aldeia. É uma profissão de orgulho e dignidade, é oportunidade de transformar, levando autoestima e confiança para a comunidade. Agora temos um talento especial para trabalhar, é uma arte que vai nas mãos e que o resultado final faz as pessoas se sentirem lindas e maravilhosas”, comenta.

Sobre a cerimônia de certificação, Cilei descreve como um importante momento de sua vida.

“Eu me senti realizada, valorizada, foi uma conquista para mim. E na hora que eu peguei o certificado senti muita alegria, deu vontade de abraçar todo mundo. Esse curso do Programa Teko Porã foi muito importante para a nossa comunidade”, finaliza.

Formação 

Com carga horária de 42 horas e duração de cinco semanas, o curso foi oferecido pelo cabeleireiro Marcos Rogério, profissional com mais de 30 anos de experiência.

As aulas ocorreram no Parque Indígena de Amambai, na Escola Estadual Indígena Mbo Eroy Guarani Kaiowá e na Escola Municipal Polo Indígena Mbo Erenda Tupa’i Nandeva.

As participantes tiveram aulas sobre a história da barbearia e do cabeleireiro, ética profissional, normas de higiene, estrutura, fisiologia e tipos de cabelo, cuidados específicos, técnicas de corte, coloração e tratamentos, além da prática supervisionada.

A coordenadora da Meta 2 destaca que o formato garantiu às mulheres aprenderem dos conceitos básicos até técnicas avançadas, com espaço para aperfeiçoar as habilidades. E que curso foi muito além do que aprender uma profissão.

“Os encontros eram momentos de união, trocas de saberes e empoderamento. A formação mexeu com a autoestima dessas mulheres, que agora sabem da importância de cuidar do visual para se sentirem confiantes”, finaliza Cryseverlin.

Meta 2 

Tem como objetivos específicos promover iniciativas que fortaleçam a identidade cultural e a saúde mental de jovens e mulheres indígenas Guarani Kaiowá, e incentivar a autonomia por meio de projetos produtivos, proporcionando segurança alimentar e geração de renda para as comunidades.

Formada por profissionais das áreas de antropologia, audiovisual, economia, psicologia, sociologia e zootecnia, a equipe da Meta 2 do Programa Teko Porã já executou outras ações em comunidades Guarani Kaiowá, como cursos de artesanato, oficina de casais e brincadeiras com as crianças.

Entre as ações em fase de planejamento estão cursos voltados à criação de galinhas e formação de roças na comunidade Kurussu Ambá, no município de Coronel Sapucaia.

Teko Porã 

Lançado em abril deste ano, o ‘Programa Teko Porã: Fortalecimento do Bem Viver do Povo Guarani Kaiowá’ investe em ações para o fortalecimento territorial, cultural, social e econômico das comunidades que vivem na região sul de Mato Grosso do Sul.

Por meio do Termo de Execução Descentralizada (TED) do Ministério dos Povos Indígenas no valor de R$ 6,8 milhões, o IFMS é responsável por executar oito metas que buscam fomentar a autonomia indígena, segurança alimentar, preservação cultural e proteção ambiental.

Além dos mais de 140 indígenas que recebem bolsa para participar da execução das metas, o programa conta ainda com outros 50 bolsistas que atuam em diversas áreas, como antropólogos, engenheiros ambientais, sociólogos, entre outros profissionais. 

O plano de trabalho prevê que as metas sejam finalizadas até março de 2026.

Mais informações sobre estão disponíveis na página do Programa Teko Porã.

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