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Três Lagoas
quarta-feira, 1 de outubro de 2025

Três Lagoas: potência econômica, progresso social em marcha lenta

Por: Fernando Jurado

Três Lagoas vive hoje um paradoxo que desafia qualquer leitura simplista sobre desenvolvimento. Somos, sem dúvida, uma das cidades mais pujantes do Brasil em termos econômicos. Com um PIB per capita de R$ 130.583,32, ocupamos a 115ª posição nacional entre os 5.570 municípios brasileiros. No Mato Grosso do Sul, estamos atrás apenas da capital, Campo Grande. A indústria de celulose nos projetou para o mapa da produção nacional, e os números não deixam margem para dúvida: somos vanguarda econômica.

Mas quando olhamos para os indicadores sociais, a história muda de tom.

Segundo o Índice de Progresso Social Brasil (IPS Brasil), Três Lagoas ocupa a 1.025ª posição nacional em 2025, com pontuação de 62,59. No ranking estadual, somos o 4º colocado, atrás de cidades com menor expressão econômica. Essa distância entre o que produzimos e o que vivemos revela um descompasso que precisa ser encarado com seriedade.

De onde saímos e onde chegamos

Três Lagoas: potência econômica, progresso social em marcha lenta

“Em 2010, Três Lagoas tinha um PIB per capita de aproximadamente R$ 18 mil. Hoje, esse número é mais de sete vezes maior. O salto econômico é impressionante: saímos de uma posição modesta para figurar entre os 120 municípios mais ricos do Brasil. No entanto, o IPS Brasil mostra que, no mesmo período, o progresso social cresceu apenas 4,59 pontos — de cerca de 58 para 62,59. Em termos de ranking, subimos de aproximadamente 1.600º lugar para 1.025º, uma evolução tímida se comparada à explosão econômica.”

Essa estagnação não é apenas estatística. Ela se reflete na dificuldade de acesso à saúde especializada, na insegurança urbana, na baixa inclusão produtiva da população local e na persistente desigualdade de renda. Enquanto os caminhões carregam riqueza para fora, muitos cidadãos ainda esperam que essa prosperidade bata à porta.

O que os números revelam

Os dados do IPS Brasil mostram metodologicamente que os maiores desafios de Três Lagoas estão concentrados em saúde e bem-estar, segurança pessoal e oportunidades de inclusão social — áreas em que o município registra pontuações abaixo da média nacional, indicando uma defasagem em relação a outras cidades do país.

Mas a realidade vivida pelos moradores vai além dos gráficos. A população enfrenta diariamente problemas que não aparecem plenamente nos indicadores oficiais, como:

*A falta de centros de educação infantil (creches), que limita a inclusão das famílias no mercado de trabalho e impacta o desenvolvimento das crianças;

*A longa espera por exames e tratamentos médicos especializados, que gera angústia e compromete a saúde pública;

*A degradação da paisagem urbana, que afeta o orgulho cívico e a qualidade dos espaços públicos;

*E a crescente insegurança nas ruas, que mina a sensação de bem-estar e liberdade.

Essas percepções reforçam que, apesar dos avanços pontuais em infraestrutura e saneamento, há uma urgência em políticas públicas mais eficazes, que dialoguem diretamente com as demandas reais da comunidade.

O desafio da próxima década

Três Lagoas precisa transformar sua potência econômica em justiça social. O crescimento não pode ser apenas medido em toneladas de celulose ou em bilhões de reais. Ele precisa ser sentido nas ruas, nas escolas, nos postos de saúde e na mesa das famílias.

Ou seja, enquanto o treslagoense vive, do ponto de vista econômico, como se já estivesse na próxima década, no âmbito do progresso social seguimos presos a indicadores que nos mantêm estagnados na década passada.

A cidade que lidera o PIB precisa também liderar o progresso humano. E isso exige mais do que números: exige visão, coragem e compromisso com quem vive aqui.

(*) É vereador e empresário da construção civil

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