Lançamento do Plano Diretor Regional de Integração e Desenvolvimento marca primeiro dia do evento, que segue até sexta-feira, 10
A delegação do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS) participa, entre os dias 8 e 10 de outubro, do VII Foro do Corredor Bioceânico de Capricórnio, realizado em San Salvador de Jujuy, na Argentina. O encontro reúne autoridades governamentais, representantes de organismos internacionais, empresas, universidades e organizações civis dos oito territórios que compõem a rota – Brasil (Mato Grosso do Sul), Paraguai, Argentina e Chile – para discutir estratégias conjuntas de integração regional e desenvolvimento sustentável.
O destaque do primeiro dia foi a abertura oficial da VII edição do Foro e o lançamento parcial do Plano Diretor Regional de Integração e Desenvolvimento do Corredor Bioceânico de Capricórnio, instrumento estratégico de planejamento elaborado com apoio técnico e financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
O plano, que contou com um orçamento de US$ 600 mil e prazo de execução de 36 meses, servirá como guia estruturante para investimentos, projetos de infraestrutura e políticas públicas regionais ao longo dos próximos anos.
Organizado em três dimensões complementares, o plano apresenta uma visão integrada e sustentável do território. A primeira dimensão apresentada no Foro foi a de infraestrutura física e digital, com foco em cadeias produtivas. O diagnóstico técnico combina pesquisas documentais e levantamento de campo realizado ao longo da rota bioceânica.
A proposta é assegurar que todos os trechos da rota apresentem padrões equivalentes de infraestrutura, conectividade e serviços logísticos, abrangendo estradas, portos, fronteiras, redes de telecomunicações e sistemas de energia. Também estão previstos parques industriais e centros logísticos integrados, de modo a consolidar o corredor como um eixo logístico e produtivo continental.
“Essa etapa é decisiva para que o corredor deixe de ser um conjunto de obras isoladas e se torne um sistema integrado de infraestrutura, no qual cada trecho funciona em sinergia com os demais”, disse José Enrique Pérez, diretor da consultoria Slott, uma das responsáveis pela elaboração do plano.
Pérez destacou que a uniformização de padrões não é apenas uma questão de engenharia, mas de estratégia de desenvolvimento regional. “Infraestrutura homogênea significa condições iguais de competitividade para territórios que, historicamente, tiveram papéis periféricos na economia continental”.
Para essa etapa, já foram identificados 104 projetos prioritários, que envolvem obras viárias, melhorias de fronteira, sistemas logísticos terrestres e portuários, projetos de telecomunicações e digitalização, além da criação de nós estratégicos ferroviários e aeroportuários. A consolidação plena do plano está projetada para um horizonte de dez anos, com cerca de 80% dos projetos estruturantes executados até 2036.
Outras etapas
A segunda dimensão apresentada foi a de facilitação de comércio e processos transfronteiriços, cujo objetivo é tornar mais eficiente o fluxo de pessoas e mercadorias entre os países da rota.
O diagnóstico e o plano de ação foram elaborados a partir de um amplo processo participativo que envolveu 469 representantes do setor privado e 161 do setor público, entre empresas, associações e organismos governamentais. Foram identificadas 231 oportunidades de melhoria, abrangendo aspectos normativos, procedimentais, sistêmicos e de infraestrutura, e definidas 264 soluções consensuais para modernizar fluxos logísticos e aduaneiros.
Para Antonella Bobbio, consultora responsável pela condução técnica dessa etapa, o avanço mais importante está na criação de um espaço de governança compartilhada.
“Pela primeira vez, governos e setor produtivo dos quatro países conseguiram mapear juntos os gargalos e pactuar soluções práticas. O impacto não virá apenas das medidas técnicas, mas da capacidade de coordenar mudanças simultâneas nos diferentes pontos da rota”, afirmou.
A terceira dimensão do plano, que está em fase final de consolidação e ainda não foi apresentada, trata do desenvolvimento produtivo e comercial local. O foco está em potencializar setores estratégicos como agropecuária e agroindústria, comércio e serviços turísticos, atraindo investimentos, diversificando economias regionais e fortalecendo cadeias de valor.
A íntegra das dimensões do Plano Diretor Regional de Integração e Desenvolvimento do Corredor Bioceânico de Capricórnio já apresentadas está disponível na página do Corredor Bioceânico de Capricórnio (em espanhol).
Abertura do VII Foro
Na cerimônia de abertura, o vice-governador de Mato Grosso do Sul, José Carlos Barbosa, representou o estado e ressaltou a relevância estratégica do corredor para o desenvolvimento regional. Ele destacou o crescimento acelerado da indústria da transformação no estado e lembrou que a ponte sobre o rio Paraguai, que liga os municípios de Porto Murtinho, em Mato Grosso do Sul, e Carmelo Peralta, no Paraguai, materializa um sonho histórico.
“Trata-se de uma rota econômica importante, mas, mais do que isso, é um novo sonho que integra dois oceanos. Enfrentamos desafios comuns, como barreiras sanitárias e alfandegárias, defasagens de infraestrutura e o distanciamento dos governos centrais, o que reforça a necessidade de uma visão de desenvolvimento compartilhado e articulado entre os países”.
A cerimônia de abertura contou ainda com as boas-vindas do governador da Província de Jujuy, Carlos Sadir, e com as falas dos governadores dos oito territórios subnacionais integrantes da rota.
No período da tarde, ocorreram atividades simultâneas, incluindo uma programação turística aberta ao público e sessões técnicas por comissões destinadas a representantes pré-acreditados de governos, empresas, universidades e organizações da sociedade civil.
Programação do IFMS
Ao longo dos três dias do evento, a delegação do IFMS participa de painéis técnicos, rodadas de cooperação, reuniões com universidades argentinas e visitas a instituições de educação técnica e tecnológica, com o objetivo de fortalecer parcerias acadêmicas, técnicas e culturais entre Brasil e Argentina.
A agenda inclui encontros com a ministra da Educação da Província de Jujuy, Miriam Serrano, reuniões com dirigentes da Universidade Católica de Santiago del Estero (UCSE), visitas a escolas técnicas e à Universidade Nacional de Jujuy, além da assinatura de acordos institucionais.
“Participar desse espaço estratégico significa ampliar a inserção internacional do IFMS e criar condições para que nossas pesquisas, práticas pedagógicas e projetos de extensão dialoguem com outros contextos latino-americanos. Essa aproximação abre portas para experiências transformadoras tanto para estudantes quanto para servidores”, destacou o pró-reitor de Extensão do IFMS, Anderson Corrêa.
Antes da abertura oficial, representantes do IFMS participaram do pré-foro acadêmico organizado pela UniRila, a associação de Universidades da Rota de Integração Latino-Americana. O seminário reuniu instituições de ensino superior para apresentação de pesquisas e projetos em andamento relacionados ao corredor.
A participação do IFMS no VII Foro integra a Missão Internacional Brasil–Argentina para Fortalecimento da Cooperação Acadêmica, Técnica e Cultural, que busca ampliar intercâmbios, identificar oportunidades de projetos conjuntos e consolidar mecanismos permanentes de colaboração entre instituições brasileiras e argentinas.
Projeto Continental
A Rota Bioceânica de Capricórnio conecta o Centro-Oeste brasileiro ao norte do Chile, passando pelo Paraguai e Argentina, unindo os oceanos Atlântico, por meio do Porto de Santos, e Pacífico, através dos portos chilenos. A iniciativa tem como objetivos principais reduzir custos logísticos, melhorar a competitividade comercial da região e atrair investimentos produtivos para territórios historicamente marginalizados dos grandes fluxos econômicos.
O corredor envolve quatro países e oito territórios subnacionais: as regiões de Tarapacá e Antofagasta (Chile), as províncias de Jujuy e Salta (Argentina), os departamentos de Boquerón, Presidente Hayes e Alto Paraguai (Paraguai) e o estado de Mato Grosso do Sul (Brasil). A extensão total é de cerca de 250 quilômetros, ligando diretamente o Atlântico ao Pacífico.
No trajeto, destacam-se cinco passagens fronteiriças estratégicas – Porto Murtinho-Carmelo Peralta, Pozo Hondo-Misión La Paz, Paso de Jama, Paso de Sico e Estación Socompa (ferroviária) – que compõem o eixo físico de integração da rota. No lado Pacífico, o corredor se conecta a quatro portos principais: Iquique, Antofagasta, Mejillones e Tocopilla, fundamentais para a expansão do comércio transcontinental.
Desde sua primeira edição em 2022, o Foro do Corredor Bioceânico tornou-se o principal espaço de articulação política, técnica e acadêmica entre os territórios participantes. Em fevereiro de 2025, Campo Grande sediou o encontro pela segunda vez, consolidando o protagonismo de Mato Grosso do Sul na construção desse corredor de desenvolvimento sustentável.