Uso consistente de ultrassom de carcaça, prática adotada pela sergipana Fazenda Mangabeira desde 2016, explica avanço da raça em sistemas tropicais.
O cruzamento industrial vive um novo ciclo, impulsionado pela busca por desempenho com rusticidade, combinação cada vez mais rara em meio ao avanço das raças taurinas especializadas. Em Mato Grosso do Sul, a Fazenda Boa Vista, em Nova Andradina, encontrou no Santa Gertrudis uma resposta prática para um desafio recorrente na pecuária intensiva: ganhar performance sem perder adaptação.
“Os tricross que fazíamos com Angus, Bonsmara ou Brahman nasciam muito bem, desmamavam pesados, mas no confinamento parte deles perdia desempenho por causa do nível de sangue europeu”, explica Douglas Rodrigues, gestor da fazenda há 12 anos. A virada de chave veio quando a equipe passou a selecionar touros via ultrassonografia de carcaça, buscando AOL, EGS e marmoreio elevados — indicadores diretamente ligados ao rendimento e à qualidade da carne.
Foi nessa busca por consistência que a propriedade chegou à genética Mangabeira, desenvolvida há cerca de 47 anos em Sergipe. A fazenda é pioneira no uso da ultrassonografia de carcaça e a única no país com um rebanho Santa Gertrudis 100% avaliado pelo software BIA. O touro Justus foi escolhido para compor o tricross com vacas F1, e o resultado surpreendeu.
“Esses animais nasceram com porte ideal, sem problema de parto, e o desenvolvimento foi muito superior. Abatemos com 15, 16 meses e média de 20 arrobas, com ótimo GMD e excelente padrão de carcaça. O Santa Gertrudis entregou exatamente o que faltava: performance com rusticidade”, destaca Rodrigues.
Além do ganho de peso, Douglas chama atenção para outro ponto: “É animal de pelo curto, muito mais tolerante ao calor, à pressão de parasitas e ao manejo intensivo. Isso impacta diretamente no lucro”.
Segundo a zootecnista Liliane Cunha, diretora da DTG Brasil e doutora em Produção Animal pela UNESP Botucatu, responsável pelas avaliações da Mangabeira, o diferencial está no equilíbrio entre três características-chave — AOL, EGS e MAR. AOL (Área de Olho de Lombo) está ligada à produtividade; EGS (Espessura de Gordura Subcutânea), à precocidade e terminação; e MAR (Marmoreio), ao valor agregado via qualidade da carne. “Quando você seleciona de forma consistente para as três, consegue animais que crescem rápido, terminam cedo e entregam carne de qualidade mesmo em ambientes quentes e restritivos, como o Nordeste”, explica.
Esse trabalho já colocou quatro touros Mangabeira em centrais de inseminação — Choice, Fogo, Hurricane e Hibitionist, este último nascido da própria prova de desempenho a pasto realizada na fazenda. Com a crescente demanda e agora uma parceria estratégica no Mato Grosso, a Mangabeira realiza no dia 4 de dezembro seu leilão anual, com transmissão do canal no youtube da Central Leilões e do Lance Rural, oferecendo touros e matrizes avaliados com foco em cruzamentos de alta performance.
Para Gustavo Barretto, gestor da Mangabeira, o objetivo é claro: “Nosso compromisso é democratizar uma genética capaz de produzir carne de qualidade em clima quente. Entregamos ao produtor a chance de acelerar o ciclo sem perder adaptabilidade, o grande gargalo das raças especializadas”.



