A tão aguardada retomada da Malha Oeste começa a sair do papel e deve ganhar contornos definitivos em 2026. O Governo Federal, por meio do Ministério dos Transportes, prevê lançar em abril do próximo ano o edital de concessão do trecho ferroviário, com leilão marcado para julho. A expectativa é que a nova licitação viabilize a revitalização da ferrovia, hoje com diversos segmentos deteriorados e trechos abandonados, especialmente entre São Paulo e Mato Grosso do Sul.
Se concretizada, a reativação da linha férrea representará um avanço significativo para o escoamento de cargas da região de Três Lagoas — sobretudo celulose — e poderá aliviar a pressão sobre rodovias que há anos sofrem com excesso de caminhões e aumento de acidentes.
Investimento bilionário e reestruturação do projeto

A Malha Oeste, que liga Mairinque (SP) a Corumbá (MS), acumula problemas operacionais e infraestrutura depreciada após anos de investimentos insuficientes por parte da antiga concessionária. Em 2023, estudos da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) estimavam aportes de R$ 18,9 bilhões para reestruturar a ferrovia. Hoje, esse valor já supera R$ 35 bilhões.
O desafio central é tornar o sistema economicamente viável. Cargas tradicionais de Mato Grosso do Sul — especialmente produtos agrícolas — não têm sido suficientes para sustentar a operação. Durante negociações anteriores, a Rumo Logística chegou a manifestar interesse apenas em cerca de 300 km do trecho, destinados ao transporte de celulose e minério, considerados mais rentáveis, pretendendo devolver à União mais de 1,6 mil km.
O impacto direto para Três Lagoas

A região de Três Lagoas é uma das maiores produtoras de celulose do mundo, mas grande parte da carga ainda depende de rodovias. A Eldorado Brasil utiliza exclusivamente o modal rodoviário, enquanto a Suzano opera com um sistema rodoferroviário que conecta suas fábricas a terminais da Malha Norte, até chegar ao Porto de Santos.
A expectativa é que a revitalização da Malha Oeste, aliada à construção de novos ramais privados, reduza drasticamente o fluxo de caminhões nas BR-262 e BR-158 — trechos que registram desgaste acentuado e altos índices de acidentes desde a instalação da antiga VCP, em 2009.

Diversas empresas do setor florestal e do agronegócio já obtiveram autorização para construir ligações ferroviárias próprias. Eldorado, Suzano, Arauco e MRS Logística planejam interligar fábricas e terminais da região a pontos estratégicos da rede ferroviária nacional, ampliando a eficiência logística.
Um novo arranjo ferroviário
O plano federal de modernização inclui renegociações de concessões e investimentos privados estimados em US$ 4,6 bilhões. Entre as medidas previstas estão:
- revitalização de 137 km de trilhos com R$ 2,7 bilhões em investimentos;
- devolução de 650 km no trecho paulista, que poderá ser destinado ao transporte de passageiros;
- manutenção da bitola estreita entre Campo Grande e Corumbá;
- rebitolagem do trecho entre Campo Grande e Três Lagoas para permitir maior capacidade de carga;
- integração da ferrovia à Malha Paulista, conectando o estado ao Porto de Santos.
Atualmente, a Malha Oeste cobre 800 km entre Corumbá e Três Lagoas, além de 355 km entre Campo Grande e Ponta Porã. A modernização promete transformar esse eixo em um corredor logístico competitivo e alinhado às necessidades do mercado global.
Olhar voltado para a Bolívia e para o comércio internacional
A reativação também reforça o potencial de integração com países vizinhos. Com a adequação da bitola, cargas bolivianas — como grãos e etanol — poderão acessar o mercado brasileiro com maior agilidade.
“Essa revitalização não é só logística, mas estratégica para todo o Estado”, afirma Jaime Verruck, secretário de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação de Mato Grosso do Sul (Semadesc). Segundo ele, a ferrovia pode ampliar as rotas de exportação, fortalecer a presença de Mato Grosso do Sul no comércio global e reduzir custos operacionais das cadeias produtivas.
Menos caminhões, mais eficiência
Para setores como o de celulose, que movimenta volumes crescentes, a ferrovia é vista como solução urgente. A sobrecarga das estradas não só encarece o transporte, mas também deteriora o pavimento e aumenta o risco de colisões.
Com o avanço das audiências públicas e a articulação entre governos do Brasil e da Bolívia, cresce o otimismo de que o leilão de 2026 inaugurará um novo ciclo de desenvolvimento ferroviário no Centro-Oeste.
“Com a ferrovia ativa, Mato Grosso do Sul ganha competitividade em escala global”, resume Verruck.




