08/12/2005 08h29 – Atualizado em 08/12/2005 08h29
Folha da Região
A queda nas exportações provocada pela valorização do real, as escassas perspectivas de reversão do quadro em 2006 e a incapacidade do mercado interno de compensar as perdas com os embarques ao exterior levaram a Calçados Azaléia, de Parobé, a desativar uma unidade em São Sebastião do Caí, a 59 quilômetros de Porto Alegre. A fábrica tinha capacidade para produzir 10 mil pares de tênis da marca Olimpikus por dia e a medida provocou a demissão de 800 pessoas, o equivalente a 10% do quadro de funcionários da empresa no Rio Grande do Sul e a 4,4% dos empregados em todo o país.Segundo o presidente da companhia, Antônio Britto, a unidade desativada vinha operando com prejuízo havia 18 meses na esperança de recuperação das cotações do dólar e da rentabilidade das exportações. Ele também cobrou do governo federal a aplicação de salvaguardas contra os calçados chineses, que concorrem em condições desiguais com os produtos brasileiros no país e no exterior.Enquanto os tênis Olimpikus são vendidos a US$ 11 no mercado externo, depois de um reajuste da ordem de 15% nos últimos 12 meses para compensar parte da valorização do real, a China cobra US$ 6 a US$ 7 por um calçado similar. “Estamos exportando empregos para a China”, protestou.Britto disse que o aumento da carga tributária brasileira, com a elevação do PIS e da Cofins, mais a pirataria e o contrabando, que dominam cerca de 30% do mercado doméstico, também contribuíram para o fechamento da unidade gaúcha. No total a Azaléia tinha 28 fábricas, sendo cinco no Rio Grande do Sul, 18 na Bahia e cinco em Sergipe, com uma capacidade instalada total de 170 mil pares de calçados femininos, infantis e tênis (incluindo a marca Asics) por dia.O volume equivale a uma capacidade de 37,4 milhões de pares por ano, mas em 2005 a produção deve ficar abaixo dos 35,6 milhões de pares de 2004 (sendo 9 milhões para exportações). Até setembro, a Azaléia fabricou 24,3 milhões de pares, com recuo de 5,1% sobre o mesmo período de 2004, mas aumentou a receita bruta em 1,4%, para R$ 724,4 milhões, graças ao melhor desempenho do mercado externo – mas ainda assim insuficiente para cobrir as perdas no exterior. No mesmo intervalo, as exportações caíram de R$ 176,9 milhões para R$ 152,3 milhões.Conforme Britto, a desativação da fábrica gaúcha, classificada por ele como de porte “médio”, é suficiente para ajustar as operações ao cenário projetado para 2006. Ontem a Azaléia divulgou nota garantindo que os funcionários afastados serão “prioritariamente” chamados para ocupar futuras vagas no Estado. Eles participarão de programas de treinamento, receberão apoio para recolocação no mercado de trabalho e permanecerão com direito a atendimento em emergências médicas durante três meses. A empresa se dispõe a oferecer “recursos materiais” ao sindicato para distribuição de cestas básicas aos demitidos.