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quarta-feira, 17 de dezembro de 2025

Possibilidade de doações estimula morada na rua

23/12/2004 11h23 – Atualizado em 23/12/2004 11h23

A Tarde online

Crisaelma Nery dos Santos, 30 anos, é uma das mais novas moradoras de rua de Salvador. Acampou, desde o último domingo, com os três filhos – Joelson, 4 anos, Júlia Karino, 3, e Kaíque, 4 meses – no Largo dos Mares, na Cidade Baixa, onde se juntou a outras 30 famílias.

Longe da euforia do Natal e da troca de presentes, dezenas de pessoas ocuparam, nos últimos dias, as principais praças de Salvador, fazendo da rua não só morada provisória como também ponto de mendicância.

O aumento do número de famílias nessa situação tem uma razão de ser: a busca pelos donativos de Natal.

Crisaelma, por exemplo, saiu do bairro de São Caetano, onde morava com a mãe, para tentar ganhar algum presente e alimento no Natal. “Qualquer coisa serve. Alimentos ou brinquedos. É melhor que nada”, diz.

Andar pelas ruas de Salvador nos dias que antecedem o Natal revela também o lado dramático da festa. Largo dos Mares, Largo de Roma, Largo do Papagaio, Vale dos Barris, Praça de Nazaré, Largo da Fonte Nova, viadutos das obras do metrô, Vale dos Barris, Largo do Retiro são alguns dos pontos onde essas pessoas estão ficando.

MSTS – Algumas famílias já são veteranas de outros natais, como a de Rosenilda Bonfim, 29 anos, que mora na rua há dez anos e, junto com o companheiro, Edmilson Batista Rego, exerce uma espécie de liderança junto às demais pessoas no Largo dos Mares.

Os dois chegaram a ingressar no Movimento dos Sem-Teto de Salvador (MSTS) mas, depois de desentendimentos, acabaram sendo expulsos do galpão da antiga Leste, na Baixa do Fiscal.

“Lá onde eu estava não tinha como receber nada. Aqui (no Largo dos Mares) tenho chances de ganhar presentes e alimentos”, diz Joseane Santos Filho, grávida de nove meses e com o filho Fernando, de 1 ano e 10 meses. Ela veio com a mãe da Fonte da Bica, na Avenida San Martin, para se juntar a outros pedintes.

No viaduto sob a Avenida do Bonocô, próximo ao Estádio da Fonte Nova, Rosiane Pereira de Jesus, 24 anos, chegou, com os três filhos, há um mês. “Aqui é melhor que na Barra. Lá está muito disputado”, diz. Os meninos – Alisson, Alex e Alerrandro – ganharam, ontem, os primeiros brinquedos do Natal. “É uma festa”, disse.

Muitos doam à noite e querem anonimato

Na Ribeira, a Legião da Boa Vontade (LBV) resolveu doar cestas básicas de Natal para 100 famílias pobres.

As famílias foram cadastradas com antecedência e por isso mesmo a distribuição foi feita sem tumultos.

No Largo de Roma, próximo ao Hospital Santo Antonio (Irmã Dulce), o portador de deficiência José Rabelo dos Santos, 41 anos, espera receber algum tipo de doações até amanhã, véspera de Natal. “Por enquanto não chegou nada”, disse. No largo, outras famílias também aguardam a chegada dos doadores, anônimos, em sua maioria, que distribuem os presentes ou alimentos à noite, e rapidamente vão embora.

Alguns doadores não fazem questão de aparecer e as doações são bem longe dos olhares curiosos. Tem gente que sequer sai do carro, evitando contatos prolongados com os indigentes. “Prefiro não me identificar. Faço isso por caridade. Não precisa de publicidade”, disse uma professora, que distribui, há seis anos, presentes e alimentos para crianças pobres que ficam nas transversais da Avenida Paulo VI, na Pituba.

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