02/12/2004 10h51 – Atualizado em 02/12/2004 10h51
Gazeta Mercantil
A sempre tumultuada relação comercial com a Argentina não impediu que em 2004 o Brasil já assegurasse a quebra de todos os recordes de exportações ao vizinho. Com base nos resultados da balança comercial de novembro divulgados ontem pelo governo brasileiro, projeta-se para 2004 um volume de US$ 7,29 bilhões em vendas ao mercado argentino, recorde histórico – superou 1997, com exportações de US$ 6,769 bilhões.
A diferença significativa é que naqueles tempos – de real e de peso supervalorizados – as compras brasileiras da Argentina eram bem maiores, rondavam os US$ 8 bilhões – o que dava vantagem ao parceiro do Mercosul de mais de US$ 1 bilhão ao ano, tanto em 1997 quanto em 1998. Hoje, a correlação se inverteu.
O Brasil vai comprar em 2004 da Argentina em torno de US$ 5,5 bilhões, o que significará o primeiro superávit brasileiro em dez anos, de US$ 1,7 bilhão, também um recorde. Este ano o vizinho voltou a ser o segundo maior comprador do Brasil, só atrás, como sempre, dos Estados Unidos (estimam-se cerca de US$ 19 bilhões este ano), e já distante da China, cujas compras devem ficar abaixo de US$ 6 bilhões.
A balança de novembro trouxe também uma boa notícia à Argentina. As compras brasileiras chegaram a US$ 570 milhões, a melhor marca desde 2001. “É um sinal de reequilíbrio, que tende a reduzir os conflitos”, resume o especialista argentino Dante Sica, presidente do CEB, instituto que faz estudos sobre o tema. Na opinião do especialista em economia internacional da Fundação Getulio Vargas (FGV), Evaldo Alves, a balança comercial reflete o maior dinamismo do produto brasileiro.
“Houve aumento dos negócios com o Brasil porque a economia argentina está crescendo a taxas mais altas que a do Brasil. Eles poderiam até ser mais generosos com o País, mas a estratégia argentina de comércio exterior é muito mais agressiva que a nossa”, disse Alves. Para ele, a série de restrições à entrada de produtos geram ineficiência no parque industrial argentino. “Essas iniciativas não se sustentam no longo prazo”, disse o professor.
A tendência é de que o fluxo comercial entre os dois países continue crescendo, com aumento progressivo também das compras brasileiras, avalia Alves. O resultado de novembro reforça a tese. As compras de R$ 570 milhões são recorde desde julho de 2001 o que faz o especialista argentino, presidente do Centro de Estúdios Bonairenses (CEB), Dante Cica, prever tempos melhores.
“As vendas argentinas para o Brasil dão sinais de recuperação, o que tende a reduzir o déficit e a tensão”, avalia, comemorando o crescimento de vendas de bens manufaturados, como produtos químicos, plásticos, mecânicos e autopeças. O diretor da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), Mauro Laviola, é menos otimista e diz que o Mercosul está sendo desrespeitado pelo governo argentino.
“Para proteger setores considerados sensíveis, a Argentina adotou medidas que ferem o acordo regional”. Ainda este mês, na Reunião de Cúpula do Mercosul em Ouro Preto (MG), ele prevê que a Argentina tentará oficializar essas restrições comerciais. Para Laviola, apesar de continuar competitiva no setor primário, outros segmentos industriais – como bateria de automóveis, carne suína e veludo cotelê – também podem engrossar a lista de produtos sensíveis.





