18/11/2004 10h01 – Atualizado em 18/11/2004 10h01
A tarde online
Ruiverson Lemos Barcelos (PL), prefeito de Ibirapitanga, foi afastado ontem do cargo, acusado de enriquecimento ilícito e improbidade administrativa pela Justiça. O vice-prefeito Arivaldo Pereira da Silva (PL) já tomou posse, após determinação judicial cumprida pela Câmara de Vereadores. A ata de posse do vice-prefeito foi assinada pelo presidente da Câmara Municipal, Cleverson Barcelos, irmão do prefeito.
Ruiverson ainda não recorreu da decisão judicial e nem quis comentar o afastamento, com a imprensa. A sentença do juiz Fábio Mello Veiga, datada de 16 de novembro, determinou também que fosse processada a indisponibilidade de todos os bens imóveis, móveis e participação societária de Ruiverson Barcelos. O prefeito, que aumentou 50 vezes seu patrimônio entre 1997 e 2004, foi acusado de direcionar licitações para empresas de sua propriedade.
A sentença judicial determinou a quebra de sigilo bancário das empresas Lefar Projetos e Construção Civil e Serviços Gerais, Messias Santos Construtora Ltda. e Construr Construtora Ltda., pertencentes ao prefeito, bem como a suspensão dos contratos celebrados com o Posto Tenente, também de sua propriedade.
O engenheiro civil João de Almeida Farias, administrador das empresas de Ruiverson, teve seus bens imóveis e móveis indisponibilizados pela Justiça. Ele trabalhava na prefeitura e articulava as licitações vencidas pelas empresas de Ruiverson Barcelos. O juiz determinou, ainda, que a Prefeitura de Ibirapitanga apresente, em 30 dias, cópias de todos processos licitatórios e de pagamento envolvendo os contratos das empresas citadas acima.
MILIONÁRIO – Ruiverson Barcelos foi denunciado em abril deste ano, em A TARDE, em reportagem com farta documentação comprobatória sobre seu enriquecimento e utilização de “laranjas” nas empresas. Após a denúncia, o promotor Luciano Valadares Garcia abriu inquérito e constatou as irregularidades. Ruiverson perdeu as últimas eleições. Seu candidato, Sérgio Maynart, foi derrotado pelo oposicionista Eraldo Assunção (PSDB), com 1.800 votos de frente.
O prefeito conseguiu multiplicar seu patrimônio em 50 vezes, em sete anos, ou seja, desde que assumiu a prefeitura em 1997 (ele foi reeleito em 2000). Tinha R$ 118 mil em bens quando assumiu o cargo. Hoje, são R$ 5,5 milhões. E tudo está documentado em cartórios e na Junta Comercial da Bahia (Juceb).
Ele assumiu a prefeitura, pela primeira vez, sendo proprietário de uma caminhonete D-20 seminova (ano 93) no valor de R$ 23 mil, uma casa residencial inacabada em Ibirapitanga (R$ 70 mil) e uma loja na cidade (R$ 25 mil), como consta na declaração de posse do cargo em 27/06/96. De lá para cá, não acertou na loteria, mas, milagreiro, multiplicou seus bens e dos familiares.
Adquiriu o apartamento 1.201, Edifício Tahiti, Torre II, do Condomínio Residencial Paul Gauguin, no luxuoso Pituba Ville. Comprou a empresa Messias Produtos de Petróleo Ltda., que inclui três postos de combustível (Posto Tenente, em Ibirapitanga, Posto Iguape, em Ilhéus, e um terceiro em construção na BR-101, no Distrito de Itamaraty). Os postos, que abastecem os carros da prefeitura, são avaliados em R$ 2,5 milhões.
Este negócio envolveu inicialmente “laranjas” próximos a Ruiverson (pessoas simples da sua relação familiar), mas, certo da impunidade, ele assumiu as empresas. A indústria Café Kentinho também foi comprada por Ruiverson Barcelos.
No município de Maraú, adquiriu as fazendas “Ilha de Caras”, “Nova Esperança”, “Boa Sorte” e “Água Preta”. No Caminho das Árvores, em Salvador, Ruiverson comprou duas salas comerciais na Rua Frederico Simões (nº 85), além de um terreno em Campinas de Pirajá. Sua mulher, Ana Edelvira Ferreira Barcelos, adquiriu uma loja no Shopping Barra. Ruiverson mantinha mais de 18 familiares em cargos na prefeitura.