30/09/2004 10h57 – Atualizado em 30/09/2004 10h57
Folha On line
No debate sobre os debates entre os candidatos presidenciais americanos que começam nesta quinta-feira em Miami há alguns pontos sem discussão: o primeiro, que será realizado nesta quinta-feira, dos três duelos entre o republicano George W. Bush e o democrata John Kerry será o decisivo. E ambos são bons de debate, apesar de estilos distintos.
Em debates, Kerry exibe inteligência e agilidade [embora muitas vezes com condescendência] e Bush transmite o seu recado resoluto, a despeito de tropeçar na sintaxe e na impaciência.
Nesse cenário, torna-se crucial o impacto que este primeiro duelo vai exercer sobre a elusiva camada dos eleitores que se dizem indecisos ou ainda em condições de mudar o seu voto.
No cálculo da revista Time, 19% dos eleitores estão em uma zona cinzenta e 69% deles dizem que em função dos debates podem ir tanto para os vermelhos [republicanos], como para os azuis [democratas].
Há até uma medida ainda mais dramática: uma pesquisa do Instituto Pew indica que 30% dos eleitores admitem que os debates podem influenciar o voto deles em 2 de novembro.
Confirmação
Debates nem sempre viram uma eleição (salvo momentos mágicos ou gafes monumentais), mas o consenso é que este ano eles serão, de qualquer forma, vitais.
O primeiro debate é facilmente o mais importante na medida em que no segundo e no terceiro, os eleitores buscarão confirmar as avaliações conferidas no inicial e não obter novas informações sobre os candidatos.
Stephen Hess, o consagrado especialista em presidência do Instituto Brookings, em Washington, é taxativo. Ele diz que quando Bush e Kerry estiverem debatendo questões domésticas no terceiro debate, em 13 de outubro, a eleição já poderá ter sido decidida.
Para melhorar o cacife dos seus candidatos, os assessores de campanha estão recorrendo a uma jogada clássica das disputas eleitorais. Eles baixam as expectativas sobre o presidente e o desafiante.
É sempre espetacular superar as expectativas, apesar do histórico de vitórias de cada um dos candidatos nos debates eleitorais que realmente contaram.
“Cícero”
Matthew Dowd, o estrategista de Bush, é até exagerado nesta tática de baixar as expectativas. Ele disse que Kerry é o melhor debatedor que já concorreu à Presidência, “melhor até do que Cícero”.
O grande momento de John “Cícero” Kerry foi em 1996 quando ele travou uma dura batalha por sua reeleição no Senado contra o ex-governador de Massachusetts William Weld.
Foi uma série de oito debates e Kerry conseguiu uma conexão pessoal com os eleitores (este é um árido desafio para ele, agora em 2004). O senador derrotou Weld por uma margem de sete pontos.
Para Bush, um triunfo saboroso em debates foi em 1994 quando ele concorreu ao governo do Texas e conseguiu dar cabo da retórica articulada e ácida da governadora Ann Richards.
Nos debates do ano 2000 contra o democrata Al Gore, Bush foi o grande beneficiado das baixas expectativas.
Em uma era de bombardeio maciço e instantâneo de informação (seja na mídia tradicional, seja em veículos como bloggers), os debates são rara oportunidade para a opinião pública ter acesso aos candidatos sem filtros. Mas uma importante lição pode ser extraída do duelo Bush-Gore de quatro anos atrás.
Somente um ou dois dias após o primeiro debate é que a análise se concentrou no exagero dos argumentos de Gore e na sua postura arrogante em relação a Bush, o bronco.
Um estudo da Universidade da Pensilvânia mostrou que Gore foi perdendo pontos ao longo dos dias entre os americanos que não tinham assistido ao debate. O debate após o debate também é crucial.