26.8 C
Três Lagoas
domingo, 21 de dezembro de 2025

Ex-usuário ajuda no projeto de reabilitação

20/08/2004 18h17 – Atualizado em 20/08/2004 18h17

Um ex-usuário de drogas, cujo nome ele pediu para não ser divulgado, é voluntário do Projeto “Redução de Danos” do DST-Aids de Três Lagoas. “F” explicou que um dos motivos que o levou a ser voluntário no projeto foi tentar ajudar os usuários que se encontram numa situação pela qual ele já passou.

O redutor, como é classificado, trabalha na distribuição dos kits com seringas, agulhas, camisinhas, potes, lenços umedecidos com álcool e água destilada, além dos materiais informativos aos usuários da Cidade. O coordenador do projeto, Farildo de Oliveira Silva, explicou que a participação de “F” seria indispensável, já que ele conhece os pontos dos usuários e já tem maior intimidade entre eles.

CURIOSIDADE

F, explicou que começou a usar drogas aos 11 anos, cheirando cola de sapateiro. Segundo ele não havia um motivo aparente, mas sim apenas curiosidade. “Eu perdi muitos amigos que começaram a usar drogas por conta de problemas familiares, para atingir os pais, mas que acabaram destruindo a si mesmo”, comentou.

O redutor disse que depois da cola, ele passou a usar maconha, até chegar à cocaína e ao crack. “Eu usei cocaína e crack por seis anos consecutivos, quase todos os dias quando meu corpo agüentava”. F, chegava a cheirar três gramas por dia de cocaína. Conforme F, a pasta base para cocaína, a “zuca”, possui o mesmo efeito do crak, que dura cerca de 15 segundos”. Ele contou que existem dois tipos de usuários, aqueles que conseguem controlar o vício e aqueles que são controlados pela droga, onde acabam furtando para adquirir o produto. “Normalmente a pessoa não consegue ficar usando apenas em um tipo de droga, ela vai perdendo e efeito e o usuário começa a buscar drogas mais fortes”.

VÍCIO

O voluntário explicou que chegou a perder vários empregos por conta das drogas, pois não tinha forças para ir trabalha no outro dia. Além disso, “F” chegou a trocar uma moto e um veículo por drogas. “As pessoas têm que se conscientizar de que o usuário de drogas não é um bandido, mas sim uma vítima, pois ele é totalmente controlado e pelo vício”.

Um outro problema pelo qual o redutor passou foi assistir a destruição de sua família. “Eu tenho consciência de que acabei destruindo minha família, que antes era muito unida, mas que depois das drogas foi se afastando. Hoje, nós somos unidos, mas não como já fomos”. Ele contou que seus pais sofreram muito no período em que ele usava drogas e que por muitas vezes tentaram leva-lo a tratamentos.

BUSCA PELA REABILITAÇÃO

F, disse que foi internado seis vezes em clinicas de reabilitação, sendo as três primeiras por pressão da família e as outras três porque ele mesmo não agüentava mais. “O mais importante é que o usuário tenha a iniciativa de buscar uma saída. Não adianta pressiona-lo, ele tem que querer, e foi o que aconteceu comigo”.

Depois de duas recaídas, o voluntário conseguiu controlar o vício, e hoje está há oito anos sem utilizar qualquer tipo de entorpecente. “Não existe um ex-usuário, é uma luta constante. Às vezes, quando vou a bares e bebo um pouco tenho que ir embora rápido, pois sinto que estou fraquejando. O usuário tem que controlar tudo na vida, até mesmo o cigarro que ele fuma, se não o impulso o leva a voltar ao vício”.

F, relatou que algumas vezes procurou as “bocas de fumo” querendo comprar drogas, mas que até hoje teve forças suficientes para se controlar. “Graças a Deus estou conseguindo me controlar”.

O redutor explicou que sua função no projeto não é tentar tirar alguém do mundo das drogas, mas sim preservar a saúde do mesmo, mas que como conseqüência de ter um apoio, alguns acabam buscando ajuda.

RECONHECIMENTO

Silva informou que está buscando junto a prefeitura de Três Lagoas para padronizar a situação do voluntário. “Já existe um projeto na Assembléia Legislativa do Estado que defende que o redutor seja profissionalizado. Esse projeto está em fase de votação e deverá ser aceito até o final do ano”, finalizou.

Leia também

Últimas

error: Este Conteúdo é protegido! O Perfil News reserva-se ao direito de proteger o seu conteúdo contra cópia e plágio.