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quarta-feira, 18 de junho de 2025

Cazuza – o tempo não pára mostra um retrato romântico e realista do grande poeta do Rock Brasil

01/06/2004 11h03 – Atualizado em 01/06/2004 11h03

Cazuza, o tempo não pára, de Sandra Werneck e Walter Carvalho, é o primeiro filme biográfico-romanceado da Geração 80 do Rock Brasil, que perdeu duas figuras seminais: o próprio Cazuza e Renato Russo -sem contar seu outro nome de ponta, Herbert Vianna, ainda às voltas com as seqüelas de um acidente sofrido há três anos. O longa não vai fundo no desvario de Cazuza, que, como admitiu sua mãe, Lúcia Araújo, daria um filme pornográfico, mas também não adoça a figura que se tornou um dos maiores expoentes da música brasileira. Um ditado cruel diz que a morte faz bem a qualquer carreira artística e não foi diferente com Cazuza, que adquiriu outra dimensão após sua morte de Aids no dia 7 de julho de 1990, com 32 anos.

Encarnado à perfeição por Daniel de Oliveira, que viveu o personagem por dois anos, o filme é fiel ao homossexualismo, ao consumo de drogas e à personalidade escancarada que o levava a subir nas mesas do falecido restaurante Real Astória, um dos points do fervilhante Baixo Leblon da época, insultando todo mundo. Os problemas que ele causava dentro do Barão ficam bem claros, como as brigas com Roberto Frejat por causa de sua irresponsabilidade, incluindo o incidente no Radar Tantã, uma danceteria paulista, em que Frejat arrombou a porta do banheiro onde Cazuza se trancara para cheirar cocaína a dois minutos de entrar no palco.

Da fase anterior ao Barão, aparece apenas Cazuza cantando a música document.write Chr(39)document.write Chr(39)Edelweissdocument.write Chr(39)document.write Chr(39) numa montagem esculhambada de document.write Chr(39)document.write Chr(39)A noviça rebeldedocument.write Chr(39)document.write Chr(39) feita no curso de teatro do Circo Voador, ministrado por Perfeito Fortuna, do grupo Asdrúbal Trouxe o Trombone. A noviça era um travesti e Cazuza o capitão Von Trapp, que soltava o gogó numa versão trash da canção do folclore austríaco.

A separação do Barão Vermelho e a trajetória inicial do grupo aparecem muito en passant. Há menção ao empurrão de Caetano Veloso cantando “Todo amor que houver nesta vida” num show no Canecão, rasgando-se em elogios ao Barão, mas nada sobre o papel vital de Ney Matogrosso, amigo íntimo de Cazuza, que abriu as portas para o rádio gravando “Pro dia nascer feliz”, do segundo disco da banda. document.write Chr(39)document.write Chr(39)Bete Balançodocument.write Chr(39)document.write Chr(39), o grande estouro, seguido de “Maior abandonado”, passa sem explicações sobre sua importância na carreira deles, a primeira como tema do filme homônimo, do falecido Lael Rodrigues, a segunda como música de trabalho do terceiro LP. Uma das cenas parece ser do lançamento deste disco no Circo Voador, quando uma multidão ficou do lado de dentro e outra de fora, o momento de consagração, bem como a apresentação no Rock in Rio em 15 de janeiro de 1985, dia da eleição indireta de Tancredo Neves como o primeiro presidente civil desde 1964.

A morte de Tancredo, em abril de 85, é mostrada na TV no momento em que Cazuza está de cama com uma infecção, a primeira manifestação da Aids. Na real, ele se internou no Hospital São Lucas, em Copacabana, onde não recebeu a visita de nenhum dos companheiros do Barão porque acabara de chutar o balde, largando a banda para seguir carreira solo quando o quarto disco estava pronto para ser gravado. Mas uma visita foi inspiradora: um beija-flor entrou no quarto, desencadeando a balada document.write Chr(39)document.write Chr(39)Codinome beija-flordocument.write Chr(39)document.write Chr(39) (daria uma bela cena, mas não está no filme).

Um dos grandes momentos é a cena da praia quando Cazuza, num desespero total, conta ao companheiro e produtor Ezequiel Neves, o Zeca, que o médico acabara de lhe dizer que estava com Aids (foi em 1987). Na realidade, Cazuza recebeu a notícia com tranqüilidade e deu a notícia a Zeca numa caminhada do Leblon até Ipanema, quando foi para casa contar aos pais. Como o próprio Zeca diz, por questões dramáticas para a telona, houve um tratamento mais forte daquele momento que acaba criando uma das mais belas cenas do filme.

Na virada, Daniel dá um show de interpretação, saindo do escancaramento da primeira parte para uma interpretação contida e sofrida, sempre dosando a emoção pelo lado certo, além do grande esforço que fez para perder 20 quilos e retratar os momentos finais de Cazuza. Em nenhum momento Sandra e Walter foram piegas ou exageraram nas cores dramáticas, transmitindo de maneira contida a luta de Cazuza numa época em que a doença ainda reinava sem controle. Os momentos de maior debilidade, já precisando ser carregado, são de grande emoção, especialmente na tomada em que seu segurança o leva nos braços para tomar um banho de mar e Cazuza flutua em meio às leves ondas.

Fonte: Globo On Line

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