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quarta-feira, 17 de dezembro de 2025

CASTILHO/SP: Sem terra japonesa é a primeira a assumir sua condição

23/03/2004 10h33 – Atualizado em 23/03/2004 10h33

Janete da Rocha Yamamoto é a primeira nikkei do Noroeste Paulista a assumir a condição de militante sem terra e a transferir moradia para um barraco de lona preta. Ela está instalada ao lado de outros 70 abrigos improvisados às margens de uma estrada vicinal, pavimentada, margeando os limites da Fazenda Ipê no município de Castilho.

Segundo Yamamoto, a finalidade do acampamento é garantir uma vaga no projeto de reforma agrária do Incra, que prevê o assentamento de aproximadamente 500 famílias na Alta Noroeste. Janete afirma ter nascido na Fazenda Pendengo, próxima do seu acampamento e também incluída na lista de improdutivas com vistas a se efetivar a reforma agrária.

Seus pais Paulo Guedes e Toyoko Yamamoto eram arrendatários de lavouras naquela fazenda quando Janete nasceu. Hoje eles moram na cidade. Guedes deixou de ser lavrador e foi trabalhar na construção de barragens hidrelétrica. Mas segundo Janete na década da década de 70 em diante, todas as famílias foram obrigadas a se mudar para a cidade, enquanto o fazendeiro decidiu plantar capim, reduzindo drasticamente a oferta de mão de obra no campo.

Hoje ela está casada com José Aparecido de Oliveira que, desempregado no Brasil foi trabalhar no Japão e junta dinheiro para que o sonho de uma propriedade rural seja realizado não apenas com a conquista dos 16 hectares oferecidos pelo governo, mas com a garantia de que ela será produtiva.

Barraco de estrela – O casal tem dois filhos, um com 13, outro com 15 anos. Um veículo Gol Volkswagen da década de 80 e uma casa na cidade de Castilho são todo patrimônio da família. O rancho à beira da estrada é de fazer inveja. Tem contra-piso de cimento e a água de chuva não entre como nos outros. Na cozinha, móveis de aço, bebedouro dágua mineral e até lâmpada que funciona com bateria. O conforto também está associado à decoração do barraco, com cortinas coloridas separando cozinha do dormitório. A sem terra não fica sem maquiagem, algumas jóias e o chinelo tradicional colorido.

Um luxo! Admite José Carlos Bossolan, um dos líderes dos sem terra. Na sua opinião o mais importante para o movimento, é que Janete enfrenta o preconceito e abre caminho para que outros nikkeis vejam a luta pela reforma agrária como um fato normal da cidadania brasileira. “Não planejamos fazer invasão de terra, nem enfrentar situação de violência, mas todos estão conscientes de que somente o fato de residir no limite da cerca de uma fazenda, já causamos um certo constrangimento e até revolta por parte de muitas pessoas desconhecidas”, afirmou Bossolan.

CAMINHOS

Depois que Janete Yamamoto chegou ao acampamento, outras duas famílias nikkeis se juntaram ao grupo. No entanto, das três vezes que nossa reportagem esteve no local, elas não quiseram gravar entrevistas nem serem fotografadas. Preferindo manter-se no anonimato, representantes dessas famílias afirmaram apenas que se sentiriam envergonhados de aparecem no jornal e até de ser motivo de chacotas por parte de pessoas que “não conhecem os objetivos do movimento”.

Para Janete, não há motivo para se esconder. Ela admite que sua história se enquadra no perfil de exigência que é feito pelo Movimento Sem Terra ou pelo grupo do Sindicato da Agricultura Familiar, para que as pessoas sejam contempladas com lotes da reforma agrária naquela região.

Atualmente mais de uma dezena de donos de fazendas enfrentam batalha jurídica para impedir a desapropriação. A presença dos acampamentos à beira da estrada, é uma das formas de pressão para que o governo federal acelere os processos de assentamento.

Mas nem todas famílias ficam 24 horas e dias a fio nos barracos. As três famílias de nikkeis, por exemplo, comparecem geralmente nos fins de semana para participar da reunião de todos os sábados às 13 horas. Eles se reúnem debaixo de uma figueira com quase cinco metros de diâmetro. Sob a sombra frondosa o grupo discute assuntos curiosos como o pagamento de R$ 30,00 para quem não fica o tempo todo no acampamento. Com esse dinheiro compra-se cestas básicas para as famílias que cuidam do acampamento. Essa semana eles enfrentaram um problema diferente: furtos. Começaram desaparecer alguns utensílios dos barracos. “Isso é uma vergonha, mas acho que vamos precisar ter uma equipe de vigilância sobre nossos próprios companheiros”, afirmou Bossolan. (Material cortesia do International Press do Japão e Jornal Nippo Brasil de São Paulo). Fonte – Andravirtual.com

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