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sábado, 3 de maio de 2025

Atol de Bikini ainda sente efeitos de testes nucleares de 1954

01/03/2004 16h17 – Atualizado em 01/03/2004 16h17

De fora, o lugar se parece com um paraíso tropical: uma ilha no meio do oceano Pacífico, onde palmeiras ao redor de uma lagoa verde-azulada intacta balançam ao sabor do vento.

Mas os moradores do Atol de Bikini têm que viver em um lugar hoje esquecido pela maior parte do mundo. Não foi assim em 1o. de março de 1954, quando o atol serviu de palco para testes com bombas nucleares.

Exatos 50 anos atrás, os EUA realizaram seu maior teste nuclear na ilha. Apelidada de Bravo, uma bomba de hidrogênio de 15 megatons foi detonada no Atol de Bikini, produzindo uma grande bola de fogo e uma nuvem de fumaça em forma de cogumelo com 32 quilômetros de altura.

Os fortes ventos gerados na explosão arrancaram os galhos e os cocos das árvores restantes de Bikini. Uma pequena frota de navios, entre os quais o USS Saratoga e a embarcação japonesa Nagato, foi tragada pela explosão para o fundo da lagoa.

A poeira radioativa espalhou-se rapidamente, chegando a Rongelap, uma ilha habitada e localizada perto dali. Os sobreviventes se lembram bem desse dia.

“Foi a primeira vez que vi o sol nascer no Ocidente”, conta Lemyo Enob, então com 14 anos. “Primeiro, eu não sabia do que se tratava. Mas então entendi que era uma grande bomba.”

O “sol” daquele dia foi uma explosão mil vezes mais forte do que a de Hiroshima, a cidade japonesa onde foi jogada a primeira bomba atômica.

Enob também se lembra dos efeitos provocados pela poeira radioativa: “Um tipo de pó caiu sobre a gente. Algumas pessoas tiveram náuseas. Outras tiveram diarréia e algumas ficaram vermelhas.”

Os testes nucleares realizados pelos EUA na ilha terminaram em 1958, mas seu legado tornou-se mais evidente nos anos seguintes, quando surgiram os efeitos de longo prazo nos moradores expostos à radiação.

Jack Niedenthal, encarregado das relações exteriores do povo de Bikini, tenta representar os interesses dele diante de governos localizados milhares de quilômetros dali.

SOFRIMENTO POR TODA PARTE

“Há muitos casos de câncer nas Ilhas Marshall”, afirma Niedenthal. “Basta apenas que cite os familiares de minha mulher. A mãe da minha mulher morreu de câncer no útero. O tio da minha mulher morreu de câncer na tireóide.”

Quase todos os moradores das ilhas podem citar um caso parecido em suas famílias.

Contando com alguns médicos apenas, o hospital de Majuro, capital das Ilhas Marshall, encontra-se frequentemente sobrecarregado. Centenas de pessoas fazem fila em busca de uma consulta.

E, segundo Niedenthal, os efeitos de longo prazo da radiação são apenas um dos problemas de saúde enfrentados pelos moradores das ilhas. A chegada de alimentos manufaturados em uma população que antes vivia apenas da pesca e da coleta de frutas provocou males antes inexistentes: diabetes, pressão alta e obesidade.

Para os moradores de Bikini, a vida mudou completamente em 1946, quando os militares dos EUA os expulsaram de suas casas.

O atol transformou-se em um local de testes e 23 bombas atômicas e de hidrogênio foram detonadas ali, para avaliar os efeitos delas sobre navios de guerra e para preservar a superioridade nuclear dos norte-americanos.

Seus maiores efeitos, porém, seriam sentidos pelas pessoas.

Os moradores de Bikini foram levados para o atol Rongerik, que tinha um suprimento muito menor de comida. Dentro de poucas semanas, eles passavam fome.

Durante os 20 anos seguintes, eles foram transferidos várias vezes. Em 1967, cerca de 150 pessoas voltaram para Bikini, apenas para serem tiradas dali novamente quando se descobriu que o Césio-137, um material radioativo, havia contaminado a cadeia alimentar do local.

UM POVO ESPALHADO

Hoje, os antigos moradores de Bikini vivem espalhados pelas Ilhas Marshall. Na ilha Ejit, crianças sem sapato brincam do lado de fora de palafitas enquanto as mulheres lavam pratos de plástico em tinas de alumínio.

Por causa dos destroços dos navios afundados no atol, o local se transformou em um paraíso para os mergulhadores. Os peixes da região já podem ser consumidos, mas os vegetais ainda não.

Os ganhos com o turismo, de toda forma, não são suficientes para sustentar os moradores das ilhas. Mais da metade da renda do país vem dos EUA em forma de ajuda e a maior parte dos moradores vive com menos de 1 dólar por dia.

Agora, a população de Bikini quer que o governo norte-americano cumpra a promessa feita mais de 50 anos atrás e que faça o lar deles ser o que era antes dos testes nucleares.

Por meio de acordos firmados entre os EUA e as Ilhas Marshall, foi criado um tribunal para julgar a questão. Os norte-americanos foram condenados a pagar 500 milhões de dólares para limpar o atol de Bikini. Mas o dinheiro nunca chegou.

Fonte:Reuters

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