11/12/2003 09h17 – Atualizado em 11/12/2003 09h17
São Paulo – O Prêmio Multicultural Estadão 2003 já tem seus vencedores. O documentarista Eduardo Coutinho, o maestro Moacir Santos e o cineasta Ruy Guerra foram ganhadores na categoria criadores, enquanto o Canal Brasil foi distinguido na categoria fomentadores. A votação, realizada pela internet, contou com a participação de quase 2 mil pessoas cadastradas, que compõem o colégio eleitoral formado por jornalistas especializados, profissionais que trabalham diretamente na área cultural e outros que atuam em áreas não artísticas, mas tangenciais (historiadores, antropólogos, publicitários).
A cerimônia de entrega será realizada no dia 16, no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, numa festa fechada para convidados. Os três criadores premiados receberão R$ 30 mil cada um e láurea, assinada pelo artista plástico Artur Lescher. Já o fomentador eleito terá seu trabalho destacado, porém, de acordo com o regulamento da premiação, não vai receber recursos. Isso por causa de sua condição profissional ou jurídica, ao envolver empresários, instituições, profissionais em cargos políticos ou executivos.
Um dos vencedores do prêmio, o cineasta moçambicano Ruy Guerra é um dos mais respeitados nomes do cinema brasileiro. Cursou em Paris o Idhec, Institut des Hauts Études Cinématographiques, antes de chegar ao Brasil, em 1958, aos 27 anos. Aos 31, rodou o primeiro filme, Os Cafajestes. Seu filme seguinte, Os Fuzis, é considerado um dos clássicos da estética da fome associada ao Cinema Novo. Atualmente, está envolvido com o próximo filme, Veneno da Madrugada, baseado numa obra de Gabriel García Márquez. Quando soube de sua indicação para o Prêmio Multicultural Estadão, o cineasta se disse honrado com a lembrança, mas tinha dúvidas sobre a vitória, que se confirmou agora. “Acho um prêmio importante, que tem significado especial para a área da cultura”, afirmou Ruy Guerra, ao comentar sua presença na lista dos ganhadores.
O documentarista Eduardo Coutinho recebeu a notícia de sua vitória em Portugal, onde participa de um festival de cinema nacional, próximo ao Porto, como homenageado. “É um prêmio interessante, porque outras pessoas escolhem você para concorrer não é você quem se inscreve”, descreveu. Até hoje, Coutinho é o único, na história do prêmio, a ser indicado duas vezes. “Nesta segunda vez, eu precisava ganhar”, brincou. Coutinho chegou a pensar em largar o cinema e descambar para o jornalismo. Não voltaria ao cinema se não fosse pelo filme Cabra Marcado para Morrer (1984), quando optou definitivamente pelo documentário. Traz em sua filmografia outras obras de referência no formato, como Theodorico, o Imperador do Sertão (1978) e o mais recente Edifício Master (2002).
Moacir Santos é também tido como referência, mas no campo da música. Regente, arranjador, multiinstrumentista, compositor e professor trocou o Brasil pelos Estados Unidos, mas deixou seu nome escrito na história da música brasileira. Foi professor de Nara Leão, Baden Powell e Airto Moreira, entre outros. Com Vinicius de Moraes, compôs canções como Menino Travesso e Triste de Quem. É citado nos versos da canção O Samba da Bênção, de Baden Powell e Vinicius. Esteve no Brasil como convidado especial do Free Jazz Festival, ao lado de Radamés Gnattali, em 1985, entre outras aparições em solo brasileiro. Para o músico, sua indicação para o prêmio foi “um profundo incentivo para continuar a jornada” e conta que ele se sentiu “lisonjeado” com a escolha.
Entre os fomentadores, o Canal Brasil sensibilizou a maioria do eleitorado como devotada prestadora de serviço ao cinema nacional. Há cinco anos no ar, veiculado em tevê por assinatura, tem como bandeira divulgar a produção nacional como um todo, dos clássicos em preto-e-branco aos filmes contemporâneos. Depois de vencer a crise financeira, a atual batalha da emissora é estar no menu de todas as operadoras de TV. Por isso, o diretor do canal, Wilson Cunha, acredita que a premiação tenha vindo em boa hora. “Para nós, é gratificante. Dou parabéns ao Estadão (O Estado de S. Paulo) por ter um prêmio e o prêmio ter uma preocupação com a identidade brasileira”, disse.
Diversidade
Realizado pelo sétimo ano consecutivo, dez criadores culturais e quatro fomentadores foram indicados para o Prêmio Multicultural Estadão. Na categoria criadores, ao lado de Eduardo Coutinho, Moacir Santos e Ruy Guerra, concorreram os músicos do Duo Assad, o escritor Francisco Dantas, a coreógrafa Lenora Lobo, a musicóloga e educadora Lydia Hortélio, o ensaísta Muniz Sodré, o grupo de teatro Oi Nóis Aqui Traveiz, a artista plástica Rivane Neuenschwander.
Já o Canal Brasil disputou com os também fomentadores: Jornadas Internacionais de Cinema da Bahia, evento de resistência, renovação e conhecimento, organizado por Guido Araújo; a Fundação Museu do Homem Americano (Fundham), por meio da diretora-artística do Pró-Arte Fundham, Lina do Carmo, e seu Festival Interartes, realizado no sítio arqueológico da Serra da Capivara, onde Lina desenvolve pesquisas coreográficas; e o Centro Universitário Maria Antônia (dirigido por Lorenzo Mammi), em São Paulo, que firmou perfil de atuação ligado à investigação artística.
A escolha dos nomes ficou a cargo de uma comissão independente – e renovada a cada ano -, composta por nove membros representativos da cultura nacional, com acompanhamento dos curadores Yacoff Sarkovas, consultor especializado em patrocínio e comunicação empresarial; Helena Katz, jornalista e crítica de dança; e Dib Carneiro Neto, editor do Caderno 2. Pelo segundo ano consecutivo, o prêmio tem o patrocínio da Serasa, empresa de informações de análises econômicas e financeiras sobre crédito do Brasil, fundada em 1968.
O prêmio contempla justamente a pluralidade cultural brasileira, sem distinção de atuação ou localização geográfica. O que une indicados com tamanha diversidade de atuação é, acima de tudo, o fato de serem catalisadores de transformações no processo cultural. O prêmio traz à luz, no mesmo plano de importância, a produção cultural como um todo. Este ano, houve algumas novidades, como painéis eletrônicos exibindo vida e obra dos indicados, espalhados por regiões estratégicas de São Paulo.
Fonte: MSN