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terça-feira, 16 de dezembro de 2025

Investidores de olho na inflação brasileira

03/12/2002 10h42 – Atualizado em 03/12/2002 10h42

A taxa de inflação será o termômetro da economia brasileira para os investidores internacionais. A avaliação é do vice-presidente do banco de investimentos Goldman Sachs International, o português Antônio Borges, em entrevista à BBC Brasil.

Borges considera excepcional o esforço realizado pelo governo para segurar a inflação, e acha que esse é o indicador que a comunidade financeira vai continuar observando no novo governo.

“Foi um verdadeiro milagre que, apesar da desvalorização do real, a inflação tenha se mantido num nível bastante moderado. Isso só foi possível graças a um sentido de disciplina orçamentária. Deve ser por aí que, se vierem a ocorrer problemas, eles vão começar a se manifestar”, afirma.

Ele diz que o ideal seria manter a inflação abaixo dos 10%. “A inflação de um dígito é boa para o Brasil. Mas isso não será fácil. Será necessário manter uma grande disciplina, especialmente na despesa pública”, afirma.

Cautela

Borges diz que os investidores estão cautelosos com a transição, esperando para ver a futura equipe de governo.

“Estamos numa situação de indefinição. Enquanto não houver clareza em relação ao caminho a seguir, é natural que os investidores tenham hesitações e até comportamentos contraditórios”, afirma.

Como dirigente de um dos principais bancos de investimento dos Estados Unidos, Borges apontou a estabilidade monetária como condição para a retomada do fluxo de capitais para o Brasil.

“O Brasil tem um potencial de desenvolvimento que todos reconhecemos. Muitas empresas gostariam de continuar a investir no país, mas isso depende do que se vai passar nos próximos meses, depende se a abertura da economia brasileira vai se manter.”

Borges atribui à indefinição a respeito da política econômica do novo governo os sinais contraditórios dos investidores no último período – as linhas de crédito à exportação estão voltando, mas o governo teve dificuldades para rolar a dívida.

“A questão fundamental é saber se há uma mudança grande do ponto de vista econômico ou se haverá uma continuidade”, avalia.

“Mesmo que haja uma grande reorientação da política brasileira, ela deve ser feita num ambiente de estabilidade, porque o Brasil tem uma capacidade extraordinária de atrair capital, desde que saiba ganhar a confiança dos investidores.”

As incertezas dos investidores estariam ligadas à compatibilidade da política macroeconômica com os objetivos sociais do governo Lula.

Outra dificuldade, na sua avaliação, é a manutenção da disciplina orçamentária nos Estados.

Uma oportunidade que o governo não deve adotar, segundo Borges, é a adoção de uma nova política para combater a corrupção e aumentar a transparência.

“Se conseguir progredir nessa área, isso só pode ter um impacto positivo na confiança dos investidores. Ao fim de muitos anos temos agora uma mudança política bastante importante, que dá a oportunidade de eliminar práticas que estavam erradas.”

Fonte: BBC

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