19/11/2002 10h18 – Atualizado em 19/11/2002 10h18
RIO – O arquiteto Rodolfo Gigante Iannuzi, de 26 anos, foi assassinado com quatro tiros no rosto durante uma festa à fantasia na madrugada de domingo na cidade serrana de Miguel Pereira. O assassino abordou a vítima enquanto ela conversava com uma jovem. Sem dar tempo a Rodolfo de esboçar qualquer reação, o criminoso atirou quatro vezes com uma pistola calibre 45. Dois tiros atingiram o rosto do arquiteto e dois feriram duas outras pessoas. Já caído, Rodolfo foi baleado mais duas vezes, também no rosto. No crime pode estar envolvido um integrante de uma das famílias mais violentas do interior do estado: os Avelino, de Vassouras.
O assassinato foi descrito por amigos do arquiteto que estavam no baile e nesta segunda-feira compareceram ao seu sepultamento, no Cemitério São João Batista, em Botafogo. Eles disseram que, na hora do crime, estavam distantes de Rodolfo, mas que outras pessoas presentes ao evento – que reuniu mais de dois mil participantes num galpão da Secretaria municipal de Turismo – contaram ter visto o assassino atacando a vítima. Apesar disso, a 96ª DP (Miguel Pereira) não conseguiu uma testemunha para identificar o autor dos disparos. O arquiteto era de classe média alta e morava numa cobertura no Humaitá, no Rio.
Nesta segunda, o delegado titular da 96ª DP, Altair Queiroz, não foi à delegacia. Segundo um policial, apenas os seguranças do baile foram ouvidos. Ainda de acordo com esse policial, não foram feitas diligências nem busca de testemunhas porque na cidade todos alegam que não viram o crime.
O motivo do silêncio pode estar no principal suspeito do homicídio: Joppert Avelino, de 19 anos. Rodolfo, na hora em que foi atingido, conversava com uma ex-namorada do acusado. O rompimento do romance acontecera há poucos dias.
Joppert é de uma família associada a mais de uma dezena de crimes. Segundo um inspetor que não quis se identificar, numa ligação para a delegacia de Miguel Pereira, um pessoa apontou Joppert como autor do crime. Além disso, outra pessoa, também pedindo anonimato, disse que viu o rapaz cometendo o crime e que vai testemunhar.
- Não quero acusar ninguém injustamente – disse o pai de Rodolfo, o estatístico Francisco Iannuzi. – Mas estive na cidade no domingo e era voz corrente que o assassino é este jovem da família Avelino. Mas as pessoas têm medo e muitos me disseram em tom de alerta que era para eu ter cuidado, porque a família é muito violenta.
Francisco disse que vai lutar por justiça e já está procurando advogados para cuidar do caso.
Na pequena cidade, ninguém se identifica ao falar da família Avelino, numa lei do silêncio parecida com a de uma favela. No entanto, nas esquinas e nos bares, o assassinato era motivo de conversas em voz baixa. Alguns moradores que estavam no baile e já conhecem a fama da família Avelino foram unânimes em acusar Joppert como o autor dos disparos.
- Foi o Avelino. Vindo dele não é surpresa. Ele sempre foi arruaceiro e tem o mesmo temperamento do pai – disse uma jovem que, com medo, não deu o nome.
Mas houve também quem defendesse o acusado, como uma pessoa que já conviveu com Joppert. Segundo ela, o rapaz é extremamente educado e respeitador.
- Jamais esperaria isso dele – disse ela.
Uma jovem que participou do baile contou que estava perto de Rodolfo quando ele levou os tiros. Ela contou que não houve discussão: o criminosos chegou, afastou algumas pessoas e atirou, demonstrando sangue-frio:
- Ouvi os disparos ao meu lado. Só depois as luzes se acenderam e dez minutos depois os seguranças chegaram. O rapaz que atirou fugiu sem ninguém fazer nada – lembrou.
A professora de educação física Fabiana Jordão Gomes, de 21 anos, foi uma das pessoas feridas pelos disparos. Moradora do Rio, ela foi pela primeira vez à cidade para participar da festa. Fabiana contou que eram cerca de 3h30m quando se assustou com um barulho e uma repentina dor no pé direito.
- Estava escuro e fui para uma área mais clara. Quando vi, o pé estava ferido. Realmente não vi quem fez os disparos – disse a jovem, que está com a bala alojada no pé.
A outra pessoa ferida foi um rapaz de Paraíba do Sul. Ele foi atingido de raspão na coxa.
Apesar de a entrada de armas ser proibida no recinto, Petar Vrcibradic, de 26 anos, amigo de Rodolfo, contou que amigos dos organizadores e pessoas conhecidas na cidade entravam sem ser revistadas. Segundo ele, armas eram passadas por um basculante, sem que fosse tomada qualquer providência pela organização do evento, que foi avisada.
O prefeito de Miguel Pereira, Fernando Pontes, negou que tenham entrado armas no baile. Segundo ele, que alugou o galpão para os organizadores do evento, todos foram revistados na entrada. O prefeito disse que o baile transcorria sem problemas e que a polícia militar fora informada do evento. A juíza da comarca de Miguel Pereira, Viviane Alonso, contou que só nesta segunda soube do fato e que apenas expedira um alvará proibindo a entrada de menores no evento. A juíza afirmou ainda que um comissário esteve no baile e autuou os organizadores porque foram encontrados menores.
O sepultamento de Rodolfo foi acompanhado por mais de cem pessoas. Sua mãe, Elisabete Iannuzi, e seu irmão, Flávio, acompanharam o cortejo amparados por amigos e parentes. Entre os amigos, o clima era de revolta. Também havia o medo de que o crime fique impune, devido ao histórico de crimes atribuídos à família Avelino. Petar afirmou que o arquiteto era uma pessoa pacífica e jamais se metera em confusão.
- Ele estava particularmente feliz porque havia passado numa prova e faria um estágio na Itália – lembrou o amigo.
O deputado estadual Carlos Minc (PT), presidente da Comissão Contra a Impunidade da Assembléia Legislativa, disse que, se necessário, vai convocar autoridades para depor sobre o caso. Segundo ele, não é possível que um crime cometido nessas circunstâncias não seja esclarecido.
Fonte: Jornal O Globo