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sábado, 10 de maio de 2025

Seminário discute modelo agrícola saudável e socialmente justo

08/11/2002 11h47 – Atualizado em 08/11/2002 11h47

Evento será em Campo Grande de 11 a 13 de novembro, no teatro Glauce Rocha

Incentivar e estimular a construção de sistemas de produção sem o uso de agrotóxicos e adubos químicos, baseado em um modelo agrícola diversificado, integrado e sustentável, que valorize o saber acumulado pelos agricultores, utilizando como uma das suas principais ferramentas o manejo orgânico. Esse é um dos objetivos do I Seminário Estadual de Agroecologia de Mato Grosso do Sul, que deve reunir mais de 600 pessoas entre os dias 11 a 13 de novembro de 2002, no teatro Glauce Rocha, em Campo Grande. O evento é uma promoção conjunta do Idaterra e da Embrapa Agropecuária Oeste.

Treze profissionais da área de produção orgânica do Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Rio de Janeiro e Mato Grosso do Sul serão os responsáveis pelas exposição dos temas, sob forma de palestras, que discutirão a história da agroecologia, sua organização na agricultura familiar, sua viabilidade de comercialização e a importância da conscientização do consumidor de produtos orgânicos, entre outros assuntos.

Segundo Mário Urchei, pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste e integrante da comissão organizadora do seminário, a produção de alimentos de forma ecológica é uma tendência mundial, que vai possibilitar a inserção de pequenos produtores no mercado agrícola, garantindo a sua independência em relação aos produtos agroquímicos, maquinários e sementes, além de contribuir para diminuir problemas ambientais como erosão, degradação de solo e contaminação dos mananciais. A tudo isso, soma-se a produção de alimentos mais saudáveis. “O modelo agrícola conservador, que envolve as grandes empresas de insumos químicos, além de privilegiar apenas os grandes produtores com maior poder político-econômico, acarreta a escassez de produtos básicos, a concentração de renda, a miséria e a degradação ambiental. Por isso, a discussão desse seminário será feita não apenas na área agronômica, mas também com uma visão ecológica, econômica, política, social e cultural”, afirma Urchei.

Para essas discussões, o seminário vai reunir representantes de instituições de pesquisa, universidades, assistência técnica, organizações não governamentais, organização de produtores, movimentos sociais e agricultores. O MST, CUT, Fetagri e Cooams serão os movimentos que vão expor a sua visão sobre a agroecologia e a sua participação na construção deste modelo em Mato Grosso do Sul.

Urchei explica que o seminário terá a função de levantar propostas para aprimorar e reordenar as iniciativas para a implantação da agroecologia no estado, que hoje são muito incipientes face ao modelo agrícola dominante. Contribuindo para este objetivo, os expositores apresentarão e discutirão trabalhos e experiências destacadas e reconhecidas em diversas regiões do país.

Procura por alimentos orgânicos é maior que a oferta do mercado

De acordo com Urchei, a procura por produtos orgânicos partiu dos próprios consumidores, provavelmente assustados por notícias de intoxicações ocorridas no mundo, como a “vaca louca” na Inglaterra, alimentos contaminados por dioxinas, na Bélgica, e o surgimento de doenças não identificadas, além do problema da contaminação ambiental. Segundo dados da Gazeta Mercantil de 28/06/1999, a procura por alimentos orgânicos cresce, mundialmente, em torno de 10% ao ano, e entre 20 a 30% nos países desenvolvidos. O mercado é dez vezes maior que a produção. Para alguns produtos, o preço chega a atingir 50% mais que os dos produtos convencionais.

Segundo dados do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), só neste país, em 1997, a venda dos produtos orgânicos representou em torno de US$ 4,5 bilhões; em 2000 ficou em mais de US$ 10 bilhões. Na Europa, o valor estimado das vendas de 2000 ficou em torno de US$ 10,5 bilhões.

No Brasil, nos últimos três anos, as estimativas dão conta de ter duplicado ou triplicado os produtores que aproveitam o mercado consumidor crescente nos países ricos, além do mercado interno. Este é o caso daqueles que fazem parte da Associação de Produtores Orgânicos de Mato Grosso do Sul – APOMS, sediada em Glória de Dourados.

Segundo o coordenador técnico do grupo, Olacir Komori, a Associação conta com uma divisão especializada na cultura do café, já que esta cultura foi marcante no estabelecimento do sistema orgânico nas propriedades envolvidas. A safra 2001/2002 chegou a 2 mil sacas, sendo a primeira identificada pelo Instituto Biodinâmico – IDB. Uma parte da produção seguiu para fora do país. “Este fator qualidade reflete no sabor da bebida”, afirma Komori.

Além da cultura do café, os produtores de Glória de Dourados também estão produzindo organicamente diversas frutas, com alguns produtores se adequando para a produção de leite orgânico e despertando o interesse pela soja. A Associação foi instituída em setembro de 2000, aberta a todas as pessoas dispostas a lutar por um sistema de produção sustentável. A base que motivou a sua formação está em torno de agricultores familiares que se uniram em busca de informações para mudar a frente de degradação do meio ambiente no sistema produtivo que ocorre em Glória de Dourados, como a perda de fertilidade do solo e erosão, além dos custos de produção. A Associação procura ter seus representantes sempre participando de eventos técnicos sobre a agroecologia, presta assessoria para a conversão de propriedades para sistemas orgânicos, e tem buscado parcerias com órgãos e instituições e estabelecido intercâmbio com grupos afins.

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