04/10/2002 08h14 – Atualizado em 04/10/2002 08h14
No debate da Rede Globo de ontem à noite, último dia oficial da campanha para o primeiro turno das eleições de domingo, os candidatos à Presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT), José Serra (PSDB), Anthony Garotinho (PSB) e Ciro Gomes (PPS) trocaram críticas mas conseguiram discutir propostas de governo e evitar as ofensas que marcaram a disputa eleitoral. Lula, Garotinho e Ciro, da oposição, centraram suas críticas no governo Fernando Henrique para tentar atingir o tucano Serra. Houve troca de acusações entre todos eles, mas o clima foi mais relaxado, com sorrisos e até pedidos de desculpas.
Lula, que vinha mantendo desde o início da campanha o estilo “paz e amor”, não resistiu aos 15 primeiros minutos do debate e foi o primeiro a atacar, no fim do primeiro bloco, quando provocou Serra criticando sua atuação como deputado constituinte. O candidato do PT respondia a uma pergunta de Serra sobre como a flexibilização da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) pode contribuir para o aumento do número de empregos. Sua resposta não satisfez Serra, que voltou a fazer a pergunta, e Lula reagiu:
— Não é a CLT que vai resolver o problema do emprego, mas é importante ter em conta, viu Serra, que nos direitos trabalhistas você teve nota 3,5 porque votou muito contra os trabalhadores na elaboração da Constituição. Para gerar empregos é preciso investir no crescimento da economia — disse Lula, novamente sem responder.
Em outro momento do debate, o petista chegou a ser cobrado por Garotinho:
— Lula, nesta campanha você não responde a nada.
Na réplica, Serra reagiu a Lula:
— Só para esclarecer: na Constituinte eu não votei contra os interesses dos trabalhadores, como foi dito. Ao contrário, foram emendas minhas que viabilizaram o seguro-desemprego e criaram o FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador). Essas notas a que ele se refere são outras coisas, inclusive sobre monopólios no caso da mineração.
Ainda na discussão sobre a flexibilização da CLT, Lula afirmou que, para combater o desemprego, teria sido necessária uma política de assentamento do agricultor no campo:
— A CLT data de 1940 e nós precisamos fazer com que ela seja adequada à realidade atual. Mas temos que ter clareza que gerar emprego não é só mexer na CLT. Estou propondo um pacto com empresários e especialistas para conversar sobre a estrutura sindical.
Emoção e beijos para a família no fim do debate – Serra usou parte do primeiro bloco para defender a política agrária do governo Fernando Henrique. Ele afirmou que vai dar continuidade ao processo.
— Nos últimos anos, ao longo dos dois governos do presidente Fernando Henrique, foram assentadas mais famílias do que em toda a história do processo de reforma agrária e nós vamos dar seqüência a ele — disse Serra, ao responder a uma pergunta de Garotinho sobre o que faria em relação ao MST.
Garotinho e Ciro fizeram uma dobradinha: ao responder a uma pergunta do candidato da Frente Trabalhista sobre sua política para os aposentados, Garotinho fez críticas ao governo federal. Na réplica, Ciro seguiu Garotinho.
— O atual governo teve uma atitude covarde com o funcionalismo e também com os aposentados. No Brasil é proibido alguém receber menos que um salário-mínimo, mas infelizmente encontramos aposentados que ganham menos — disse Garotinho.
No fim do debate, na despedida da campanha para o primeiro turno, os candidatos chegaram a se emocionar. Lula pediu desculpas a Serra por ter sido irônico em alguns momentos e citou São Francisco de Assis antes de ler o texto de um amigo sobre a necessidade de se tentar fazer o que parece impossível. O tucano exaltou o fato de os quatro serem de origem humilde e agradeceu o apoio da família na campanha. Na mesma linha, Ciro mandou até um beijo para a mãe. Garotinho se despediu pedindo a benção de Deus para os eleitores.
Fonte: Jornal O Globo