01/10/2002 15h20 – Atualizado em 01/10/2002 15h20
O presidente Fernando Henrique Cardoso aproveitou, nesta terça-feira, o discurso em comemoração aos 38 anos de criação do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) para mandar um recado aos candidatos à sua sucessão.
Ao comentar mudanças que seu governo fez nas áreas de educação, saúde e reforma agrária, Fernando Henrique afirmou que o processo de mudança requer alterações institucionais e processuais complexas e que só a vontade de mudar uma situação não basta.
“Não depende só de vontade política, pois o simplismo voluntarista é falho”, alertou.
O presidente disse ainda acreditar que a sociedade brasileira tenha mudado nas últimas décadas: “Está mais democrática e exigente, com a percepção adequada das mudanças, que necessitam de debates amplos, democráticos”, frisou.
“Talvez não seja o povo que tenha essa dificuldade; quem tem maior dificuldade são os intelectuais”, afirmou.
Ao longo de um discurso de mais de 40 minutos, Fernando Henrique falou sobre a resistência dos formadores de imagem – na qual incluiu os intelectuais e a imprensa de modo geral – ao Plano Real.
“O povo entendeu mais depressa o real do que a maior parte dos que pensavam sobre a matéria”, destacou FHC, lembrando que boa parte da opinião pública brasileira chegou a classificar o Plano Real como “estelionato eleitoral”.
O presidente criticou a visão tecnocrática de alguns segmentos da sociedade para aceitar ou explicar as mudanças. São, segundo FHC, os que acreditam que a vontade política resolve tudo.
“É imaginar que as mudanças podem ser tomadas em um gabinete, ainda que respaldadas por milhões de votos”, criticou.
Segundo Fernando Henrique, as mudanças sociais devem ser entendidas como um processo e não como um ato.
“Essa talvez seja uma das mudanças mais importantes pela qual o país passou; é o reconhecimento implícito de que, sem legitimidade, as coisas não funcionam, e que ela se renova no dia-a-dia. Não adianta nem ter os milhões de votos”, disse o presidente, fazendo um alerta, sem citar nomes: “Os votos você tem no dia da eleição, no dia seguinte não tem mais nada. Tem que reconquistar todo o dia a confiança, a legitimidade”.
O presidente disse ainda que, embora ainda falte muito a fazer no país, as mudanças vão continuar, porque mudaram a mentalidade, a estrutura do Estado, a relação entre o mercado e Estado, entre empresa pública e empresa privada.
“Ou se fica o tempo todo pitolomaicamente dizendo document.write Chr(39)ah, como era bom, como era verde o meu valedocument.write Chr(39), quando o governo mandava em tudo, quando havia uma burocracia poderosa, quando o planejamento era autoritário… Isso é uma choradeira pitolomaica que não dá mais para fazer”, concluiu.
Fonte: Agência Brasil