24/08/2009 09h42 – Atualizado em 24/08/2009 09h42
Iranilson Alves da Silva (*)
Estamos mesmo próximos do fim do mundo ! Quando imaginamos já ter visto de tudo, quando pensamos ter ouvido tudo, quando pensamos que a classe política brasileira não nos surpreende mais, quando achamos que o fim está próximo, visto que já roubaram até o fundo do poço, eis que as novidades procedentes de Brasília, desviam o foco da figura sinistra, trágica de Sarney e os holofotes da mídia se voltam para uma das figuras mais caras, mais respeitadas da política nacional, notadamente no PT, uma das figuras mais honradas e admiradas do alto de seus 10 milhões de votos, eis que o senador petista Aloísio Mercadante se chafurda na mesma lama, na mesma vala comum daqueles que esquecem sua biografia, seu passado político e, movidos por interesses escusos, interesses que não são o do povo, esquecendo os compromissos assumidos em praça pública, pisam, sapateiam sobre tais compromissos jogando sua honra aos cães sarnentos e imundos.
Mercadante, assim como outros políticos do PT, vinham resistindo bravamente à pressão do Planalto, à pressão de Lulla e não queriam mais defender nem proteger Sarney. Mercadante queria pelo menos investigar a questão da nomeação do namorado da neta do presidente do Senado. Homem honrado, limpo e sério quer era, Mercadante também estava preocupado com sua própria sobrevivência política, visto que fatalmente disputará sua reeleição ao Senado Federal. Será que depois dessa pisada de bola os mesmos 10 milhões de eleitores irão abraçar esta causa ? Mercadante não resistiu aos apelos do presidente, a quem disse não poder dizer não ! Claro que o senador petista não pode dizer não ao presidente, é óbvio e todos sabemos os motivos. Mesmo tendo um dia antes anunciado oficialmente que deixaria a liderança do PT no Senado, em caráter irrevogável, voltou atrás, traindo a confiança do povo.
Como afirmou o grande tribuno, Pedro Simon, estes têm sido dias tristes para o Senado que viu atordoado, o famigerado conselho nada ético, esconder, jogar para debaixo do tapete, a sujeira sarneysiana. Simon lamentou os rumos que o PT toma, lamentou a saída deste partido da senadora Marina Silva, que durante 30 anos fez parte do PT, aquele PT histórico, o PT de Heloisa Helena que deve ter chorado esses dias ao ver este outrora imaculado partido, hoje afundando na lama junto com Sarney, com o PMDB, com Collor, com Renan. É muito triste, é muito triste ver como a política nojenta, a política de interesses muda o caráter dos homens públicos.
O quê Lulla teria dito na noite de 5ª.feira para fazer com que Aloísio Mercadante mudasse de idéia ? O quê teria pesado na difícil decisão de voltar atrás? Em quem o povo pode confiar? A quê ponto chegamos ? Mercadante não deve ter tido uma noite de sono como os homens justos, os homens sérios e honestos. Essa tentativa desesperada de Lulla em proteger, em defender José Sarney está custando caro ao PT. Outro de seus quadros, o senador Flávio Arns, do PT do Paraná, já anunciou que deixará o partido, mesmo que perca seu mandato. Arns é um homem sério, honesto, respeitado cuja conduta é inatacável e se diz decepcionado com os rumos que o outrora partido das mãos limpas está tomando.
Mercadante está entre a cruz e a espada e sua biografia corre o risco de, à exemplo de Sarney e outros, virar folha corrida. Ele deveria ter tido a coragem, a fibra de mostrar ao presidente, a inoportunidade desse momento trágico que o PT vive. Lulla está com sua aprovação pessoal nas nuvens, mas eleições passadas mostram que nem sempre estar na frente nas pesquisas eleitorais ou em alta na opinião pública resulta em votos. Lulla como presidente é uma coisa, agora achar que transferirá este prestígio para Dilma ou outro candidato qualquer, é outra história. O eleitor não é bobo e sabe dissociar uma coisa da outra.
Lulla e PT estão pagando um preço muito alto nesse casamento incestuoso com o PMDB que é um partido desqualificado e cheio de oportunistas e aproveitadores. O PMDB vai apresentar a fatura ao PT que já é refém desse saco-de-gatos, dessa federação de grupos antagônicos chamada PMDB que é capaz de aliar-se até com o diabo em troca de poder. Lulla acabará se afundando junto os últimos petistas, pois a continuar neste ritmo, os sérios, os honestos sairão, que o digam Cristovam Buarque, Heloisa Helena, Marina Silva, e talvez Flávio Arns. Se Aloísio Mercadante quiser salvar sua honra, sua dignidade e seu eleitorado, ainda há tempo – pule fora desse barco que começa fazer água!
IRANILSON ALVES DA SILVA,55 anos, jornalista e acadêmico de Direito