O medicamento é autorizado pela Anvisa e vendido legalmente no Brasil, mas custa cerca de R$ 1,5 mil
Por Nathalia Santos
Em Três Lagoas, a luta da auxiliar administrativa Fabrícia Raiane dos Santos Corrêa virou um movimento que pode beneficiar muitas famílias no Brasil. Mãe do João, adolescente com paralisia cerebral, epilepsia e autismo, ela tenta garantir o fornecimento gratuito do canabidiol (CBD) pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
A batalha começou após os médicos que acompanham João, um neurologista e um psiquiatra, prescreverem CBD 200 mg para auxiliar no controle das crises convulsivas. O medicamento é autorizado pela Anvisa e vendido legalmente no Brasil, mas seu custo é elevado: R$ 1.435 com desconto para um frasco de 30 ml, suficiente para apenas 15 dias de tratamento.
“Hoje o João toma 1 ml de manhã e 1 ml à noite. Isso significa que precisamos de pelo menos dois frascos por mês. Se não houver ajuste na dose, já são quase R$ 3 mil mensais. Para quem vive de salário e do benefício de prestação continuada dele, é impossível manter”, conta Fabrícia.
Ela explica que iniciou o tratamento há pouco tempo e que ainda pode haver alterações na dosagem, o que aumentaria o gasto. “É angustiante saber que existe um remédio que pode ajudar seu filho, mas que você não tem condições de comprar por muito tempo.”
MOBILIZAÇÃO POR MUDANÇA
Diante dessa realidade, Fabrícia decidiu agir. No dia 7 de agosto de 2025, lançou um abaixo-assinado online pedindo a inclusão do CBD na rede pública de saúde. Em menos de dez dias, o documento já havia reunido 185 assinaturas e 2.241 visualizações.
O movimento se inspira em um exemplo já em prática: o estado de São Paulo distribui gratuitamente o medicamento para alguns pacientes por meio do SUS.
“Conheço mães de Andradina que recebem em casa o frasco de canabidiol, com todo acompanhamento certinho. Quero que o mesmo aconteça aqui. Não é só pelo João, é por todas as famílias que precisam”, afirma.
O QUE DIZ A LEI EM MS
O pleito de Fabrícia encontra respaldo legal no estado. Em 2024, foi sancionada a Lei nº 6.317, de autoria do deputado Pedro Kemp (PT), que autoriza o fornecimento de produtos industrializados à base de cannabis para tratamento de doenças, síndromes e transtornos de saúde.
A norma determina que o fornecimento ocorra em caráter de excepcionalidade e siga protocolos clínicos definidos pela Secretaria de Estado de Saúde (SES). É necessário que haja prescrição médica com diagnóstico detalhado e Código Internacional de Doenças (CID).
A lei também obriga a criação de uma comissão permanente para atualizar protocolos e diretrizes, além de estabelecer prazos, condições e procedimentos para o acesso. A dispensação deve estar de acordo com as regras da Anvisa, garantindo a segurança e qualidade do produto.
UM PROBLEMA NACIONAL
Apesar da liberação pela Anvisa, o preço do canabidiol no Brasil continua alto. Segundo entidades ligadas a pacientes, muitas famílias acabam recorrendo à Justiça para garantir o acesso, o que sobrecarrega o sistema e gera decisões desiguais.
Organizações médicas e associações de pacientes defendem que a incorporação do medicamento ao SUS é uma medida de saúde pública e de equidade social.
“Estamos falando de crianças e adultos que podem ter melhora significativa na qualidade de vida. É um tratamento caro, mas o custo social e emocional de não tratar é muito maior”, afirma Fabrícia.