Mais duas vidas foram perdidas nesta terça-feira (26) em mais um acidente fatal na BR-262, entre Ribas do Rio Pardo e Campo Grande. Duas carretas colidiram de frente, matando seus motoristas e interditando a rodovia por horas. A tragédia escancara uma realidade cruel. Enquanto famílias choram, o imbróglio bilionário da duplicação da estrada segue sem solução.
PROMESSAS QUE NÃO SAEM DO PAPEL
A BR-262 é um dos principais corredores logísticos de Mato Grosso do Sul e peça-chave no escoamento da produção de celulose. Mas, apesar de sua importância, é também uma das rodovias mais letais do Estado, concentrando junto com a BR-163 dois terços dos acidentes registrados em 2025. Foram mais de 120 ocorrências só neste ano, muitas delas fatais.
Enquanto motoristas arriscam a vida em pista simples, mal sinalizada e sobrecarregada de caminhões, a tão falada duplicação continua travada em disputas jurídicas e políticas.
GUERRA DOS CONSÓRIOS E ATRASOS SUCESSIVOS
Em maio deste ano, o consórcio K&G Rota da Celulose venceu o leilão para administrar e investir cerca de R$ 10 bilhões em mais de 870 km de rodovias, incluindo a BR-262. Porém, de acordo com o site primeira página, o segundo colocado, Caminhos da Celulose, entrou com recurso alegando falhas apontando vícios nas documentações, que foi aceito pelo secretário de Estado de Infraestrutura e Logística, Guilherme Alcântara de Carvalho.
O Governo de Mato Grosso do Sul suspendeu prazos, a disputa chegou ao STF, e a novela parecia sem fim. Até que, agora, o Diário Oficial (DOE), desta quarta-feira (27), oficializou a decisão que inabilita o consórcio K&G e confirma o Caminhos da Celulose como novo habilitado. A mudança reacende esperanças, mas também aumenta as incertezas.
DEVERES DA EMPRESA VENCEDORA
A licitação, registrada como Concorrência 01/2024, tem como objeto a concessão para recuperação, operação, manutenção, conservação, implantação de melhorias e ampliação de capacidade em trechos das rodovias MS-040, MS-338 e MS-395, além de segmentos das federais BR-262 e BR-267.
Ainda segundo o portal primeira página, no leilão, o Consórcio Caminhos da Celulose apresentou desconto de 8% na tarifa de pedágio, valor que representa aporte de R$ 195.619.568,80. A reportagem procurou o EPE (Escritório de Parcerias Estratégicas) do Governo do Estado para informações das novas etapas do processo diante da confirmação de inabilitação e aguarda retorno.
ROTA DA CELULOSE
Ao todo, 870,3 quilômetros de rodovias da região leste de Mato Grosso do Sul serão entregues à iniciativa privada:
• BR-262 entre Campo Grande e Três Lagoas;
• BR-267 entre Nova Alvorada do Sul e Bataguassu;
• MS-040 entre Campo Grande e Santa Rita do Pardo;
• MS-338 entre Santa Rita do Pardo e entroncamento da MS-395;
• MS-395 entre o entroncamento da MS-338 e Bataguassu.
PROJETO BILIONÁRIO
O valor estimado do projeto é de aproximadamente R$ 10,098 bilhões, sendo R$ 6,907 bilhões (CAPEX) e R$ 3,191 bilhões (OPEX). A concessão prevê recuperação, operação, manutenção, conservação, implantação de melhorias e ampliação de capacidade do sistema rodoviário pelo prazo de 30 anos.
Serão 115 km em duplicações, 457 km de acostamentos, 245 km em terceiras faixas, 12 km de marginais, implantação de 38 km em contornos de municípios, 62 dispositivos em nível, 4 dispositivos em desnível, 25 acessos, 22 passagens de fauna, 20 alargamentos de pontes e implantação de 3.780,00 m² obras de arte especiais. A malha passa a ter 100% de acostamento.
PROGRAMA ESTRADA VIVA
A concessão prevê o atendimento às diretrizes do programa Estrada Viva, do Governo do Estado, para preservação da fauna silvestre. Entre eles, a implantação de dispositivos de prevenção de acidentes como passagens de fauna, tela condutora, placas de alerta e lúdicas, controladores de velocidade bem como serviço de Resgate e Reabilitação de Fauna e ações de educação ambiental dos usuários e comunidade em geral.
IMBÓGLIO PAGO COM VIDAS
Enquanto o imbróglio judicial e politicamente continua, cada dia de atraso na duplicação está custando caro. O acidente de ontem é apenas mais um número em uma estatística que não para de crescer. A BR-262 ganhou o apelido de “Rodovia da Morte” porque, ano após ano, continua somando tragédias e não ainda não há previsão concreta para que o cenário mude.
(*) Pollyanna Eloy