Há mais de um mês, os brasileiros estão sentindo o impacto do tarifaço de 50% anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em cima dos produtos brasileiros exportados. Mato Grosso do Sul, referência em celulose no planeta, foi muito impactado no começo, mas, pelo visto, as fábricas do setor podem sentir alívio.
Após anunciar que o Brasil receberia a tarifa de 50%, rapidamente as empresas tentaram exportar o máximo que podiam e logo nos primeiros dias, após o anúncio, as indústrias apresentaram queda nas cotações. Desde abril, elas já estavam pagando uma taxa de 10%, mas agora, as empresas podem ‘respirar’ de forma mais tranquila, pois as vendas de celulose do Brasil para os EUA estão isentas até mesmo da “tarifa recíproca”.

Segundo mudanças recentes na lista de bens excluídos do tarifaço, previstas numa ordem executiva editada na última sexta-feira pela Casa Branca. Em nota, segundo o Globo, o presidente da Ibá, Paulo Hartung, classificou a decisão do governo americano de “muito positiva”.
“Trata-se de uma decisão muito positiva, que partiu do governo americano, acreditamos que muito graças aos esforços de clientes que levam ao governo peculiaridades de produtos e matérias-primas essenciais ao país”.
A celulose já estava na lista de exceções da sobretaxa adicional de 40%, anunciada por Trump no início de julho e entrou em vigor no início de agosto. Com o decreto da última sexta-feira, ficou de fora também da tarifa de 10% em vigor desde abril.
OUTROS PRODUTOS ‘FILHOS’ DA CELULOSE ESTÃO SUJEITOS A TAXAÇÃO
Por outro lado, outros produtos da indústria madeireira ainda estão sujeitos ao tarifaço, como ressaltou a nota da Ibá. “O novo decreto não altera as tarifas adicionais aplicadas a papéis em geral e a painéis de madeira, questões que ainda precisam ser endereçadas e estão sendo acompanhadas de perto pela Ibá e empresas associadas.”
A indústria de móveis e produtos de madeira para construção civil, cujos polos principais ficam no Paraná e em Santa Catarina, estão entre as atividades mais dependentes das exportações para os EUA.
A ordem executiva publicada pela Casa Branca faz diversas modificações no rol dos produtos sujeitos ao tarifaço. Uma longa lista de códigos da classificação americana de bens para fins de comércio exterior foi colocada em três anexos do decreto.
No Anexo 2, que lista produtos que “não estão cobertos” pelas tarifas recíprocas de 10%, estão três códigos que incluem a celulose e derivados. Segundo a Ibá, esses três itens respondem por 90% das vendas de celulose do Brasil para os EUA.
MAIOR FORNECEDOR DE CELULOSE DO PLANETA
O Brasil é o maior fornecedor de celulose do mundo, segundo a Ibá. O destaque da produção nacional é a celulose de fibra curta, usada na fabricação de papel branco, tipo ofício, e também na indústria de higiene e limpeza — papel higiênico, papel toalha, fraldas e absorventes.
As exportações de celulose do Brasil somaram US$ 6,9 bilhões no acumulado até agosto deste ano, alta de 1,4% ante igual período de 2024, segundo os dados da balança comercial, divulgados pelo Ministério de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic).
Os preços globais do insumo estão em queda, mas o valor das vendas externas subiu porque, em quantidade, houve um salto de 15,6% na comparação anual das exportações brasileiras de celulose.
SUZANO E ‘EXPOSIÇÃO LIMITADA’
A brasileira Suzano é a maior fabricante de celulose de fibra curta do mundo. Logo quando Trump anunciou a sobretaxa adicional sobre o Brasil, numa postagem nas redes sociais no início de julho, a companhia foi tida como uma das mais afetadas.

No relatório de resultados financeiros do segundo trimestre, divulgado no início de agosto, a Suzano destacou que o anúncio das tarifas recíprocas pelos EUA, no início de abril, derrubou as cotações globais de celulose. Ainda assim, a companhia ressaltou que o insumo ficou de fora da sobretaxa adicional de 40% e informou que “possui exposição comercial limitada ao mercado norte-americano”.
A Suzano tem feito investidas nos EUA. No início do ano, a companhia brasileira tentou comprar a gigante americana International Paper, com uma oferta não solicitada que chegaria a US$ 15 bilhões, segundo aventado na época, mas recuou da investida.
Depois, em junho, anunciou o investimento de US$ 1,7 bilhão numa parceria com a também americana Kimberly-Clark. Juntas, as duas companhias formarão uma nova empresa, avaliada em US$ 3,4 bilhões, para controlar suas unidades de produtos da linha “tissue” — papel higiênico, guardanapo, toalhas de papel e lenços. A americana incluiu no negócio, que envolve 22 fábricas em 14 países, apenas suas unidades fora dos EUA.