Neste mês, a Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (ALEMS) soma esforços à campanha Novembro Azul, movimento internacional de conscientização sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de próstata e dos cuidados integrais com a saúde do homem. A iniciativa reforça o compromisso do Parlamento estadual com políticas públicas voltadas à promoção da saúde e à qualidade de vida da população sul-mato-grossense.
A campanha Novembro Azul, iniciada na Austrália em 2003, foi instituída no calendário oficial do Estado em dezembro de 2014, por meio da Lei 4.636/2014, de autoria do deputado estadual e 2º vice-presidente do Parlamento, Zé Teixeira (PSDB), e coautoria do ex-deputado Marquinhos Trad. A finalidade da legislação é promover e realizar ações integradas para a promoção da conscientização acerca da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer. “Não basta usar uma fita azul ou iluminar prédios. O que precisamos iluminar é a cabeça dos homens. Além da doença, temos que enfrentar o preconceito que impede alguns de procurar o diagnóstico precoce”, pontuou o autor da legislação, deputado Zé Teixeira.
O deputado destacou ainda que a criação da lei estadual foi apenas o primeiro passo de um trabalho contínuo de conscientização e políticas públicas voltadas à saúde masculina. “A minha lei foi o ponto de partida, mas o futuro da campanha depende de políticas públicas eficientes e da mudança cultural para que cada vez mais homens cuidem da própria saúde”, ressaltou.
Estatísticas
Números reforçam a urgência da conscientização e do acesso à informação, pilares fundamentais do Novembro Azul. No Brasil, o Instituto Nacional de Câncer (INCA) estima que, entre 2023 e 2025, surjam 71,7 mil novos casos por ano no país, correspondendo a um risco de 67,86 casos a cada 100 mil homens. Ainda segundo o Ministério, o câncer de próstata é o mais incidente na população masculina, excluídos os tumores de pele não melanoma, e o segundo que mais causa mortes no Brasil.
Em 2021, mais de 16 mil brasileiros perderam a vida em decorrência da doença, o que representa cerca de 44 mortes por dia. De acordo com dados do Ministério da Saúde, com base no World Cancer Research Fund, foram registrados cerca de 1,47 milhão de novos casos de câncer de próstata em 2022, o que torna a doença uma das mais comuns entre os homens em todo o mundo.
No Estado, de acordo com a estimativa 2023-2025 do INCA, a previsão é de 1.230 casos novos por ano. Especialistas afirmam que o diagnóstico precoce e o tratamento adequado aumentam a possibilidade de cura para 90%.
Fatores de risco e diagnóstico precoce
A idade é um dos principais fatores de risco: cerca de 75% dos diagnósticos ocorrem em homens com 65 anos ou mais. Também são considerados grupos de maior risco os homens com histórico familiar da doença, negros ou com ascendência africana. Aspectos ligados ao estilo de vida, como sedentarismo, obesidade e alimentação rica em gorduras, também podem aumentar as chances de desenvolvimento do câncer.
Conforme o Ministério da Saúde, a decisão sobre a realização de exames de rastreamento deve ser individualizada e tomada em conjunto com um profissional de saúde, considerando fatores de risco e histórico pessoal. Os exames mais comuns são o PSA (de sangue) e o toque retal, ambos simples, rápidos e essenciais para detectar alterações na próstata antes do surgimento de sintomas.
Diagnóstico precoce salva vidas
Durante entrevista para a Rádio Alems, o médico urologista André Domingos, explicou acerca do surgimento do movimento Novembro Azul. “É uma campanha que foi idealizada fora do nosso país, mas foi abraçada aqui, principalmente pela Sociedade Brasileira de Urologia, tornando-se uma das principais campanhas de saúde pública do Brasil. O Novembro Azul não se limita ao câncer de próstata. Ele busca discutir a saúde do homem como um todo, tanto como a saúde física e mental, desde a infância até a vida adulta, principalmente quem tem comprometimento urológico”, ressaltou.
Segundo ele, o câncer de próstata é o tipo mais comum entre os homens, excluídos os tumores de pele não melanoma. “É o tumor mais frequente no homem após os 40 anos, assim como o câncer de mama na mulher”, disse. A boa notícia, segundo o especialista, é que quando descoberto na fase inicial, as chances de cura chegam a 90%. Por isso, o acompanhamento médico e a realização de exames regulares são fundamentais.
Quanto à prevenção, o doutor indica: “Todo homem acima dos 50 anos deve iniciar o rastreamento, desde que tenha boa expectativa de vida. “Mas há outras situações, quem tem histórico familiar da doença, por exemplo, deve começar mais cedo, aos 45 anos. Já homens da raça negra também devem iniciar cinco anos antes dos demais”, explicou. Conforme o médico, o diagnóstico inicial é feito a partir de dois exames simples: o PSA, uma coleta de sangue, e o toque retal, realizado em consultório.
Tabus
André Domingos reforça importância do cuidado com a saúde do homem.
Apesar dos avanços na informação, muitos homens ainda resistem em procurar o médico. O especialista explica que o preconceito em relação ao exame de toque é um dos principais obstáculos. “O toque retal é rápido, indolor e necessário. As mulheres fazem exames ginecológicos durante toda a vida, e os homens também precisam entender que esse cuidado é natural”, destacou. Ele observou que atualmente os homens estão se tornando mais conscientes em relação aos cuidados com a saúde, seja na manutenção do peso, seja na prática de atividades físicas, seja no cuidado da saúde tanto do corpo quanto da mente.
Ele reforça que a visita ao urologista não deve acontecer apenas na maturidade. Jovens também precisam de acompanhamento, pois há doenças que acometem homens em idade fértil, como infertilidade, cálculos renais e tumores testiculares.
Sinais de alerta e prevenção
Em 80% dos casos, o câncer de próstata não apresenta sintomas na fase inicial, o que torna o rastreamento ainda mais importante. “Quando o homem começa a sentir dificuldade para urinar, dor óssea ou presença de sangue na urina, geralmente a doença já está em estágio avançado”, alertou o médico.
Além dos exames, o estilo de vida tem papel essencial na prevenção. Domingos recomenda três atitudes básicas: não fumar, evitar o consumo excessivo de álcool e manter o peso corporal adequado. “A prática regular de atividade física e a alimentação equilibrada são fundamentais. A obesidade está associada a vários tipos de câncer, inclusive o de próstata”, acrescentou.
O especialista reforçou que o urologista deve ser visto como um parceiro de longo prazo na saúde do homem. “A consulta urológica é como qualquer outra. Com o tempo, o paciente cria confiança com o médico, e isso facilita o cuidado preventivo e o tratamento de outras questões, como disfunção erétil ou planejamento familiar”, explicou.
Acesso do paciente aos exames
Domingos também destacou a necessidade de integração entre o poder público e a sociedade para garantir o acesso ao diagnóstico e ao tratamento. “Não basta oferecer o PSA e o toque retal. É preciso garantir que o paciente possa realizar a biópsia e, quando necessário, iniciar o tratamento adequado. Isso exige coordenação entre os serviços de saúde pública e privada”, afirmou.
Ele lembrou que o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece exames e consultas com urologistas em praticamente todos os municípios. “Quem não tem plano de saúde pode procurar a unidade básica de saúde, fazer o exame de PSA e ser encaminhado para avaliação especializada”, orientou.
Ao encerrar, o médico reforçou o lema que resume a essência da campanha: “Prevenir é melhor do que remediar. Quando o câncer é diagnosticado precocemente, as chances de cura são altíssimas e o paciente mantém a qualidade de vida. O importante é cuidar de si e também de quem está ao redor -família, amigos e comunidade”, finalizou André Domingos.
Orientações e autocuidado
Além da prevenção ao câncer de próstata, a campanha chama atenção para a saúde integral do homem, incentivando consultas regulares e o monitoramento de doenças como hipertensão, diabetes e colesterol alto. O cuidado contínuo é fundamental para o diagnóstico precoce e o tratamento adequado de diversas condições que afetam a qualidade de vida masculina. Sinais de alerta que merecem atenção médica: dificuldade para urinar, diminuição do jato urinário, presença de sangue na urina ou no sêmen, além de dor óssea, especialmente na região lombar ou dos quadris.
Engajamento
A ALEMS tem sido parceira constante em campanhas de prevenção e conscientização. Ao longo do mês, a sede do Parlamento estadual recebe iluminação especial na cor azul, símbolo do movimento, e promove a divulgação de conteúdos educativos em suas plataformas institucionais e canais de comunicação.
Com olhar voltado para o futuro, Zé Teixeira reforçou que a conscientização deve começar cedo, envolvendo famílias, escolas e comunidades. “Precisamos ampliar o diálogo, principalmente com os jovens. Se conseguirmos mudar a mentalidade das novas gerações, teremos homens mais conscientes e famílias mais protegidas no futuro”, finalizou o deputado.
Atendimento
As Unidades Básicas de Saúde (UBS) realizam consultas médicas, exames preventivos e encaminhamentos especializados. O Disque Saúde 136 é a central de atendimento da Ouvidoria-Geral do SUS, servindo como um canal para que os cidadãos possam fazer denúncias, reclamações, sugestões, elogios e solicitar informações sobre serviços de saúde. A ligação é gratuita e funciona de segunda a sexta-feira, das 7h às 22h, e aos sábados e domingos, das 8h às 18h.
