Há exatos onze anos da partida de Manoel de Barros, um dos maiores poetas brasileiros, escritores, professores e pesquisadores se reuniram no Auditório Paulo Freire da UNIRIO para celebrar sua obra e refletir sobre a atualidade de seu pensamento. O evento, transmitido ao vivo, teve mais de oito horas de duração, reunindo cerca de 200 participantes entre acadêmicos e admiradores do poeta pantaneiro que reinventou a linguagem e a poesia brasileira.
Com participação de especialistas da UFRJ, UNIRIO, USP, UFGD e Universidade do Pampa, o encontro foi organizado pelo professor Elton Luiz Leite de Souza, mestre em Filosofia e Comunicação e Cultura (UFRJ/UNIRIO), um dos maiores estudiosos da obra de Manoel. De Mato Grosso do Sul, estiveram presentes o jornalista e escritor Bosco Martins, autor do livro “Diálogos do Ócio” (Editora UFMS), e as gestoras do Museu Casa-Quintal Manoel de Barros, Valéria Arruda e Raylla Mirela.
Ao abrir a conferência, Elton destacou a “potência do pensamento e a simplicidade erudita” do poeta, citando o verso “Na ponta do meu lápis só tem nascimento” como símbolo da criação incessante de Manoel. Para o pesquisador, o livro “Diálogos do Ócio”, de Bosco Martins, é “uma obra belíssima e fundamental — o estudo mais revelador já feito sobre o universo poético de Manoel de Barros”.

Um dos vários momentos de emoção do encontro foi a leitura feita por Bosco Martins de um trecho do capítulo “Nequinho”, em que retrata a convivência entre Manoel e sua esposa Stella Barros, companheira por mais de 60 anos.
O autor lembrou que “Stella foi o esteio, a crítica e a inspiração do poeta — a mulher que lhe deu chão e asas”.
As palavras ecoaram entre aplausos e reações online de corações e palmas projetadas no telão do auditório.
Valéria Arruda, do Museu Casa-Quintal, reforçou o papel de Stella como guardiã da memória do poeta:
“Ela foi a força silenciosa por trás da poesia. Manoel só podia ser livre porque Stella lhe dava esse espaço. Eles se amavam em respeito e admiração mútua.”
Os pesquisadores ressaltaram que Manoel de Barros criou uma linguagem ecológica, integradora e universal, capaz de revelar a beleza das coisas simples.
Para o professor Écio Pisetta, “sua poesia rejeita o lugar comum e busca o desaprender como forma de sabedoria”.
Já o professor Marcos Aurélio Marques destacou que “Manoel lança luz sobre as coisas que não vemos — o Pantanal, a Amazônia, as miudezas do mundo”.
O poeta via a infância como estado permanente de liberdade e poesia, resumindo seu pensamento na frase: “liberdade a gente aprende com as crianças”.
Segundo o professor Nilton dos Anjos, “ler Manoel é um santo remédio — e sua dependência não causa nenhum dano”.
O encerramento trouxe a lembrança carinhosa de Elton Leite sobre o modo singelo do poeta se comunicar. “Manoel não atendia telefone nem gostava de cartas datilografadas. Queria o gesto humano, o toque da palavra viva”, contou.
Entre emoção e aprendizado, a homenagem reafirmou que Manoel de Barros continua vivo em suas invenções, nos seus neologismos e no olhar que vê grandeza nas pequenas coisas.
Um poeta que nos ensinou que a poesia nasce do “criançamento” — e que desinventar o mundo pode ser o caminho mais belo para compreendê-lo.



