Durante a construção do projeto, Valmet coordenará uma megaoperação global que envolve 18 países e três continentes para entregar os equipamentos da maior fábrica de celulose do mundo
A multinacional chilena Arauco avança na construção daquele que já é considerado o maior projeto industrial da história do Mato Grosso do Sul — e, quando concluído, será também a maior fábrica de celulose do mundo. O Projeto Sucuriú, instalado no município de Inocência, receberá investimentos superiores a R$ 25 bilhões e terá capacidade produtiva anual de 3,5 milhões de toneladas de celulose. O início das operações está programado para o final de 2027.
O impacto socioeconômico também é colossal: serão mais de 14 mil oportunidades de trabalho ao longo da construção e, após a inauguração, aproximadamente 6 mil empregos diretos e indiretos nos setores industrial, florestal e logístico.

Mas por trás de uma estrutura fabril de tal magnitude existe uma engrenagem pouco conhecida do grande público: a logística para transportar milhares de peças e equipamentos superdimensionados, importados de vários países, para o coração do Centro-Oeste brasileiro.
Para atender o projeto, a Valmet é a empresa responsável que fornecerá a tecnologia e os equipamentos (como a linha de produção de celulose), cujo transporte do local de fabricação (nacional ou internacional) até o canteiro de obras em Inocência requer um planejamento logístico complexo, muitas vezes utilizando modais rodoviário, ferroviário e hidroviário, com a necessidade de licenças e rotas especiais.
Para compreender a complexidade dessa operação, o Perfil News conversou com Cesar Augusto Hein, coordenador de Logística da Valmet na América Latina. A empresa finlandesa é responsável pelo fornecimento de tecnologia de processo, automação e serviços — o maior contrato da história da companhia.
Uma operação global: 18 países na rota do Sucuriú

Os equipamentos que integram unidades como digestores, caldeiras de recuperação, evaporadores, forno de cal e sistemas de automação são provenientes de 18 países, entre eles:
China (maior fornecedora), Finlândia, Alemanha, Suécia, Índia, Japão, EUA, Bélgica, Noruega, Estônia, Polônia, Holanda, Turquia, Portugal, Taiwan, República Tcheca, Lituânia e Vietnã.
Boa parte das peças já está em fabricação e embarque nos países de origem. O tempo médio de viagem marítima até o Brasil é de aproximadamente 50 dias.
Portos estratégicos e uma rota calculada ao milímetro
A logística marítima foi dividida em dois eixos:

- Porto de Santos (SP): recepção exclusiva do Balão da Caldeira, um dos equipamentos mais pesados de todo o projeto.

- Porto de Paranaguá (PR): entrada das demais cargas do empreendimento.
Depois de desembarcadas, as peças seguem por transporte rodoviário até Inocência (MS), atravessando rodovias estaduais e federais, cidades e trechos com restrições estruturais — um percurso que exige planejamento minucioso e autorização especial para centenas de viagens.
Um exército sobre rodas: 60 mil carretas ao longo do projeto
Os números da etapa terrestre impressionam:
- Mais de 4 mil veículos já estão previstos na fase inicial, entre carretas, caminhões e veículos de suporte.
- A projeção chega a 12 mil carretas até junho do próximo ano.
- Ao longo de todo o cronograma, ao longo do projeto serão mais de 60 mil carretas transportando cargas do porto até o canteiro de obras.

As transportadoras Pesado Minas S/A e DiCanalli são as responsáveis pelo deslocamento dos equipamentos.
Ao todo, cerca de 100 profissionais atuam diretamente no comando logístico da Valmet no projeto.
Peças colossais e transporte milimétricoEntre as maiores estruturas transportadas estão:

- Balão da Caldeira: 28 m de comprimento, 3 x 3 m de seção e 318 toneladas (chegando a 507 toneladas no conjunto transportado).
- Boiler Banks: 28 m de comprimento e 30–40 toneladas cada.
- Separadores de topo: 6,09 m de altura e 7,05 m de largura.
As cargas superdimensionadas — cerca de 500 itens especiais — requerem escolta particular, apoio da Polícia Rodoviária Federal, paradas programadas e restrições de velocidade. No caso do balão da caldeira, por exemplo, o limite operacional é de 20 km/h.
O volume da engenharia logística
Apenas em materiais metálicos e estruturais, a operação inclui:
- 20 mil toneladas de estruturas metálicas (25% já entregues).
- 6 mil toneladas de tanques (50% entregues).
- 6 mil toneladas de tubulações (1 mil toneladas já recebidas).
- Forno de cal: 22 peças brasileiras e 8 importadas.
- Cerca de 3 mil contêineres e 1.100 cargas do tipo break-bulk já previstas.
O pico de entregas está programado para janeiro a maio do próximo ano, com aproximadamente 400 entregas mensais.
Apoio institucional e segurança nas estradas
A complexidade das cargas exige:
- Apoio da PRF, DNIT, concessionárias e prefeituras para escoltas e intervenções temporárias.
- Ajustes em rodovias: remoção de sinalização, reforço de pontes, desvios e travessias urbanas.
A comunicação com a população será realizada:
- Pelas concessionárias, na saída dos portos;
- Por ações conjuntas de marketing da Valmet e Arauco, nos municípios próximos ao canteiro.
Compromisso ambiental e tecnologias limpas no transporte
Segundo Hein, a logística foi estruturada com rigor ambiental:
- Uso de frotas novas com motores Euro 6, reduzindo emissões.
- Caminhões equipados com placas solares, diminuindo o tempo de motor ligado para uso do ar-condicionado.
- Parceiros especializados em operações de baixo impacto ambiental.
Um marco para a indústria sul-mato-grossense

Com o Projeto Sucuriú, Inocência passa a integrar o mapa global da celulose, atraindo investimentos bilionários e impulsionando a infraestrutura regional. A operação logística, uma das maiores já realizadas no país, é peça-chave para que a fábrica entre em operação dentro do cronograma e coloque o Brasil, novamente, na liderança mundial do setor.
A travessia das gigantescas estruturas pelos portos, estradas e fronteiras estaduais é apenas uma amostra da engenharia complexa que sustenta o maior projeto industrial do Mato Grosso do Sul — e um dos mais impressionantes do planeta.



