(*) Ricardo Ojeda-Perfil News
Escrevo este texto com a franqueza que o tema exige. Não tenho nada contra quem escolhe viver nas ruas — cada um é dono da própria vida. Mas tenho, sim, profunda preocupação com as condições degradantes às quais essas pessoas se submetem. A rua não é digna, não é segura, não é saudável. E não adianta romantizar: muitos dos que ali estão travam uma batalha diária contra dependências químicas que empurram qualquer esperança de recomeço para o fundo do poço.
O que me choca é que, ao contrário do que muitos supõem, grande parte dessas pessoas tem família, tem casa, tem gente que se importa. Mas o vício, a fuga e a opção por esse estilo de vida são, para muitos, mais fortes do que a razão ou o afeto. E essa é uma escolha que reverbera sobre toda a cidade.
Não posso — e não vou — concordar com cenas como as que têm se espalhado por Três Lagoas: barracas montadas no centro, na rodoviária, na Filinto Müller e, agora, no nosso principal cartão-postal, a Lagoa Maior. Isso ultrapassa a questão social. É desorganização urbana, é insegurança pública, é abandono do espaço coletivo. As fotos que circulam não mentem: o cenário está se deteriorando diante dos nossos olhos.
E não venham dizer que é falta de ação do poder público. O município oferece o Centro Pop, um espaço digno, equipado e preparado para acolher essas pessoas. Mas, na maioria das vezes, o atendimento é recusado. Preferem acampar em pontos estratégicos da cidade, ou dormir na área da Biblioteca Municipal, como se esses locais fossem extensão do próprio quintal.

Desse jeito, a situação não vai melhorar. Vai aumentar. Vai atrair mais gente nas mesmas condições, vai transformar espaços públicos em zonas de ocupação permanente, vai multiplicar problemas sanitários, de segurança e de convivência.
Se o prefeito Dr. Cassiano Maia não enfrentar isso de forma imediata e firme, o cenário se tornará incontrolável, insustentável e perigoso. Não falo por achismo. Já denunciei, aqui mesmo, casos de atentado ao pudor, ameaças e furtos envolvendo pessoas que vivem nessas condições. Fechar os olhos não fará o problema desaparecer — vai apenas torná-lo maior.

E, sinceramente, se ninguém tomar providência, começo a me sentir no direito de fazer o mesmo: montar minha barraca na Lagoa Maior para aproveitar a brisa e a paisagem. Afinal, se virou terra de ninguém, por que só alguns teriam esse privilégio?
(*) Ricardo Ojeda
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