A BR-262, uma das rodovias mais importantes de Mato Grosso do Sul, segue cumprindo um triste papel: o de expor diariamente motoristas e passageiros a riscos extremos. Entre Três Lagoas e Campo Grande, o cenário é de abandono, descaso e perigo constante. Falta sinalização, faltam acostamentos em longos trechos, inexiste terceira faixa nos pontos mais críticos — e, como se não bastasse, as passagens de nível se transformaram em verdadeiras armadilhas.
Denúncias feitas ao Perfil News escancaram uma realidade alarmante. As passagens de nível mais perigosas estão localizadas nas proximidades do Rio Verde, logo após o perímetro urbano de Água Clara, no sentido Ribas do Rio Pardo, e também no trecho entre Ribas do Rio Pardo e Campo Grande. Em ambos os locais, a falta de manutenção é gritante e inaceitável.
Motoristas são obrigados a fazer verdadeiros malabarismos para atravessar os trilhos. Os dormentes estão soltos, os trilhos desnivelados e há buracos profundos que tornam a passagem quase impossível. Em muitos casos, a única alternativa é invadir o acostamento — quando ele existe — ou seguir pela contramão, em plena rodovia de tráfego pesado. Uma manobra desesperada, perigosa e potencialmente fatal.
FIM DE ANO
O risco é ainda maior neste período de fim de ano, quando o fluxo de veículos aumenta consideravelmente. Caminhões, carretas e ônibus dividem espaço com carros de passeio em uma estrada já conhecida pelos altos índices de acidentes. Não por acaso, a BR-262 ganhou o macabro apelido de “Rodovia da Morte” — título construído à base de tragédias, feridos e vidas perdidas.
O trecho está prestes a ser concedido à iniciativa privada, por meio de leilão conduzido pelo Governo do Estado. A rodovia federal, antes sob responsabilidade do DNIT, foi repassada ao Estado de Mato Grosso do Sul, que licitou a concessão de aproximadamente 870 quilômetros de rodovias federais e estaduais. O consórcio vencedor promete investir mais de R$ 10 bilhões em obras e manutenção ao longo de 30 anos, com o objetivo de criar um corredor logístico eficiente para a indústria de celulose e outros setores estratégicos.
Mas a pergunta que não quer calar é simples e urgente: até lá, quem cuida da vida de quem trafega pela BR-262?
A concessão futura não pode servir de desculpa para a omissão no presente. A rodovia precisa de intervenções imediatas, conservação básica e, sobretudo, reparos urgentes nas passagens de nível. Cada dia de atraso é um risco a mais. Cada buraco ignorado pode custar uma vida.
Se nada for feito agora, não se trata mais de “possibilidade” de acidente. Trata-se de uma tragédia anunciada — e evitável.




