04/08/2007 10h52 – Atualizado em 04/08/2007 10h52
O Dia
A quadra da escola de samba mais popular do Rio é tratada como espécie de ‘quintal’ dos traficantes do Morro da Mangueira. Além das bocas-de-fumo itinerantes que, como O DIA mostrou ontem, são comandadas pela criminosa conhecida como Verinha Candelária, grampos telefônicos, obtidos pela Polícia Civil com autorização judicial, revelam as regalias desfrutadas por um gerente da quadrilha, Lúcio Mauro Carneiro dos Passos, o Biscoito, durante os ensaios. Em um dos diálogos, ele fala com um amigo identificado como Marcos. De repente, passa o telefone a outro traficante, que faz o convite para curtir o ensaio da Verde-e-Rosa: “A gente sai daquele tumulto, vai pro camarote, samba é mais tranqüilo, não é aquele tumulto de baile não (…) Fica no camarote comendo e bebendo…”. Biscoito namorou, até o último verão, a modelo Fabiana Andrade. Ele chegou a mandar comparsas armados para escoltá-la pela Linha Vermelha de madrugada. Nos grampos, Biscoito faz o papel de ‘relações-públicas’ da quadrilha. É através dele que outra mulher, identificada como “mina do Júnior”, pede um favor a “alguém da quadra”. Gerente das bocas-de-fumo da Candelária, ele também promete entrada a uma ‘patricinha’, chamada de Amandinha, que pede convites para a quadra. “Há a possibilidade de você colocar eu e duas amigas pra dentro do samba hoje?”, pergunta a jovem, recebendo resposta positiva. Hoje, na quadra da Verde-e-Rosa, começam as eliminatórias do samba. Uma das composições favoritas tem a assinatura de Francisco Paulo Testas Monteiro, o Tuchinha, que ficou 17 anos preso, está solto há um ano e conseguiu um habeas corpus no último dia 27. Diálogos mostram traficantes convidando amigos para usufruir de mordomias na quadra: Traficante: Não gosta de samba não? Marcos: Gosto, só que eu tô sem tempo legal, mas eu vou aí. Traficante: A gente sai daquele tumulto, vai pro camarote, samba é mais tranqüilo, não é aquele tumulto de baile não. Marcos: O samba aí é que dia? Traficante: Todo sábado. Marcos: É na quadra. Se der, eu bato um rádio pra você e Marco pra ir aí. Traficante: Aqui é tranqüilão, fica no camarote comendo e bebendo… Marcos: Eu vou ver e passo um rádio… *** Amandinha: É o Biscoito? Biscoito: Eu mesmo. Amandinha: Oi, queridinho, é a Amandinha, tudo bom? Biscoito: Eu mesmo, pode falar. Amandinha: Olha só, há a possibilidade de você colocar eu e duas amigas pra dentro do samba hoje? Biscoito: Tem, tem. Amandinha: E como que eu faço quando eu chegar lá? Biscoito: Bate o rádio pra mim. Amandinha: Quando eu chegar eu te passo um rádio, mas tu não vai me deixar na porta igual a uma idiota não, né?! Tu vai me botar pra dentro, né?! Biscoito: Pode ir lá. Não tô falando pra tu me passar um rádio?
