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sábado, 10 de maio de 2025

Católicos mantém tradição de não comer carne na Sexta-feira Santa

05/04/2007 14h04 – Atualizado em 05/04/2007 14h04

Embora a maioria dos católicos – praticantes ou não – deixa de comer carne vermelha na quinta e sexta-feira santa, a Igreja não considera pecado a quebra desta tradição que vem sendo mantida geração após geração. De acordo com o padre Sanches, pároco da Igreja Sagrado Coração de Jesus, a partir do Concílio do Vaticano – ocorrido entre os anos de 62 e 65 – a abstinência da carne nesse período deixou de ser obrigatória. Segundo ele, a atual norma da igreja é que sejam praticados atos de penitência na quarta-feira de cinzas e na sexta-feira santa, como forma de sacrifício pela morte de Cristo e também com um gesto de solidariedade para com as pessoas que padecem de fome. Nesse caso, o fiel é aconselhado a fazer apenas uma refeição e abdicar-se de alguma coisa que goste muito, como o refrigerante, o sorvete ou o cigarro, por exemplo. Quanto à carne, há a apenas a sugestão de abstinência do alimento. O ato de comer carne, porém, não é considerado pecado, segundo informou o padre, que admite haver uma indisposição das pessoas em se privar de alguma coisa. “O mundo já sofre tantas privações, que acaba ficando difícil privar-se voluntariamente”, reconhece. Conforme manda a tradição, além de não poder comer carne, na sexta-feira santa seria proibido até mesmo realizar qualquer tipo de atividade, pelo menos até o meio dia. No passado, as mulheres sequer varriam suas casas. Não se podia também pagar ou receber alguma conta. TRADIÇÃO

Por causa da tradição familiar, o vendedor de churrasquinho Luciano Barbosa Dias, 32 anos, não come carne de jeito nenhum na sexta-feira, segundo ele, em respeito ao sofrimento de Jesus Cristo. Entretanto, trabalha normalmente e diz ser um dos dias em que mais vende. “O povo esqueceu o que é Páscoa; para a maioria, significa apenas ovo de chocolate”, critica. De família católica, também devido à tradição, Dalva Aparecida de Campos Alves, 34 anos, não come carne na sexta-feira. Sem entender muito o sentido de tal abstinência, ela diz que deixa de comer simplesmente por causa da religião. Em sua opinião, de uns anos para cá a páscoa passou a ter sentido meramente comercial. Já o pintor Joaquim Moreira da Silva, 51anos, não vê nenhum problema em comer carne nesse dia, embora na época de seus pais a tradição era mantida. “Eu como normalmente, não por abuso, mas por achar que não tem problema nenhum”, diz. Maria Buono, 42, representante de vendas, é outra que não está nem ai para a tradição. Evangélica há 16 anos, ela diz que isso não passa de lenda, que nunca seguiu mesmo quando era católica. “Minha avó tinha essa besteira de não comprar peixe na semana santa, ai eu saia procurando uma casa onde tinha carne para eu poder comer”, brinca. “Eu creio que comer carne é o menor pecado que existe”, diz, citando o seguinte ensinamento de Jesus Cristo: “Não é o que entra pela boca que contamina o homem; mas o que sai da boca, isso é o que o contamina” (Mateus 15:11). O motorista Raimundo Gomes da Costa, 58 anos, começa a se abdicar da carne na quarta-feira e só volta a ingerir o alimento no sábado de aleluia. Nesse período opta pelo peixe. Sem trabalhar na sexta-feira, ele diz que nesse dia nem os passarinhos cantam e também não se paga e nem recebe conta, fato confirmado pelo aposentado Eduardo Vicente, 73 anos. Carlos Deusidero dos Santos, 38 anos, também não come carne, “mas é só mesmo por não comer, porque eu trabalho normalmente e se me tirarem do sério eu até xingo”, afirma. Em tempos remotos, na sexta-feira santa era difícil encontrar carne para comprar, uma vez que todos os açougues fechavam suas portas. Hoje, com o produto disponível em todos os supermercados e nas lojas de conveniência, já não é tão difícil fazer um churrasco nesse dia, que é considerado santo.

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