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quarta-feira, 16 de julho de 2025

Índios ajudam a resgatar vítimas de acidente com avião, o pior ocorrido no Brasil

01/10/2006 11h36 – Atualizado em 01/10/2006 11h36

UOL/Folha

Os trabalhos de resgate às vítimas do acidente com o Boeing da Gol que caiu sexta-feira (29) em Mato Grosso foram retomados na manhã deste domingo. O avião, que fazia o vôo 1907, transportava 155 pessoas –149 passageiros e seis tripulantes– e, segundo a Aeronáutica, é “remotíssima” a chance de haver sobreviventes. É o pior acidente da aviação brasileira.Até a interrupção das buscas, no final da tarde deste sábado, a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) não confirmava nenhuma morte, embora considerasse remota a possibilidade de encontrar pessoas com vida. Já o tenente-brigadeiro José Carlos Pereira, presidente da Infraero, afirmou que “é impossível que alguém tenha sobrevivido”.O avião, que havia saído de Manaus com destino ao Rio, deveria fazer uma escala em Brasília. Ele perdeu contato por volta das 17h de sexta, após um incidente não esclarecido com um jato executivo Legacy, fabricado pela Embraer. Os destroços do Boeing foram encontrados na manhã de sábado, aproximadamente 20 horas depois do horário estimado da queda, em uma área de mata muito fechada, a 200 km do município de Peixoto de Azevedo (MT).O Legacy, com sete pessoas a bordo, entre eles dois repórteres do “The New York Times”, conseguiu pousar na base aérea de Cachimbo, no sul do Pará. Os destroços do Boeing foram localizados ontem pela manhã na fazenda Jarinã, no norte de Mato Grosso, na fronteira com o Pará. A Infraero disse que há indícios de que o avião caiu praticamente na vertical, a mais de 400 km/h, até o seu nariz se chocar com o solo.Com a dificuldade de atravessar a mata a pé, dois militares foram lançados de pára-quedas e outros desceram de helicópteros por meio de rapel para buscar sobreviventes. Índios caiapós também ajudam na busca. Um grupo com 11 indígenas caiapós, liderados por Megaron Txucarramãe, começou a percorrer ontem uma distância de cerca de 40 km entre a aldeia Piaruçú, cerca de 300 km de Colíder (MT), até a confluência dos rios Jarinã e Xingu para ajudar no resgate das vítimas do vôo 1907.

    

“As equipes da Força Aérea já percorreram toda a área do acidente sem encontrar nenhum vestígio, nenhum indício de sobrevivência possível. Apenas corpos e pedaços de corpos e mais pedaços de corpos, nada além disso”, afirmou ontem o presidente da Infraero à Folha Online.Para ele, o trabalho de resgate de vítimas e destroços deve levar “de dois a três dias”. “A operação tem uma logística extremamente complicada. Precisa ter cuidado para preservar as identidades. A retirada [das vítimas] deve ser feita por helicóptero, um a um.”As torres do Cindacta (Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle do Tráfego Aéreo) em Brasília não teriam detectado a possibilidade de colisão porque o Legacy desapareceu dos radares, conforme apurou a Folha. Entre as possibilidades apontadas estão mudança de rota, pane no sistema elétrico da aeronave ou falha de um dos radares.ÍndiosPor telefone, de Colíder, Megaron Txucarramãe, 56, disse que o avião caiu na terra indígena Capoto-Jarinã, mas nenhum dos 80 índios que vivem na aldeia Piaruçú, localidade mais próxima da queda da aeronave, viu o acidente.”Estão todos tristes. De repente, caiu um avião grandão desse tipo dentro da nossa área. É muito ruim”, disse Megaron, que é administrador regional da Funai de Colíder.BuscasO brigadeiro Antonio Gomes Leite Filho, representante do comando-geral da Aeronáutica, disse que as buscas continuarão até que as equipes envolvidas encontrem um número de corpos considerado satisfatório –muitos estão mutilados. “Enquanto não houver uma contagem que atenda suficientemente a quantidade das pessoas, a Força Aérea permanecerá no local, investigando e procurando até o limite que considerarmos que a probabilidade é zero ou que se acabaram as chances”, disse. Os destroços estariam espalhados por uma área de mais de um quilômetro.

 Efe

Ele informou que o recolhimento os corpos serão levados até a base militar do Cachimbo, onde passarão pelos peritos do IML de Mato Grosso. Cumprindo essa etapa, os corpos serão encaminhados para as cidades de origem das vítimas.As causas do acidente ainda são um mistério. Por enquanto, não foi confirmado oficialmente se a queda do Boeing teria sido causada por uma colisão com o jato Legacy, fabricado pela Embraer, que conseguiu fazer pouso de emergência sem feridos na base aérea da serra do Cachimbo. Os sete ocupantes do Legacy permaneciam incomunicáveis, e o teor do depoimento dos dois pilotos à Aeronáutica não havia sido divulgado.

 Efe

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva divulgou nota lamentando as mortes e decretou três dias de luto nacional.A Polícia Civil de Mato Grosso instaurou inquérito criminal para identificar a responsabilidade das pessoas envolvidas no acidente. Além dos pilotos dos dois aviões, Oliveira levantou também a possibilidade de ter havido erro por parte dos controladores de tráfego aéreo que monitoravam a região no momento do acidente.PerguntasEste é o primeiro acidente grave na história da Gol, que começou a voar no início de 2001, e o maior da história do país. Antes, o pior acidente havia sido registrado em junho de 1982, quando um Boeing 727-200 da Vasp bateu em uma montanha da serra de Aratanha, a 30 quilômetros de Fortaleza, causando a morte de 137 pessoas.

 Efe

Segundo o tenente-brigadeiro José Carlos Pereira, piloto experiente, é preciso descobrir o motivo de dois aviões bem equipados e novos estarem no mesmo nível, quando deveriam estar a uma distância mínima de 300 metros. “São aviões com equipamentos anticolisão. Precisamos saber por que eles não evitaram o acidente”, disse o tenente-brigadeiro.Pereira também levantou a necessidade de esclarecimentos acerca do fato de qual avião estaria acima ou abaixo do nível correto, e ressaltou que a altura das aeronaves, entre 36 e 37 mil pés, é completamente visualizada por radares.Na velocidade em que os aviões estavam, de acordo com Pereira, seria impossível aos pilotos fazerem qualquer identificação visual de outro avião. No entanto, os equipamentos deveriam ter alertado sobre a possibilidade de rotas coincidentes.Quando isso acontece, o sistema alerta o piloto com sinais sonoros e luminosos, além de orientar o procedimento. “O piloto não precisa raciocinar, basta seguir a orientação”, explicou.Para o comandante Marques Peixoto, agente de segurança de vôo e diretor do Sindicato dos Aeronautas, o acidente pode ter sido causado por uma conjunção de fatores. Segundo ele, ocorrências como essa não ocorrem em função de um único fator, “mas de quatro a sete fatores que se alinham”. Todas as possibilidades, segundo Peixoto, têm de ser analisadas.

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