09/05/2006 08h10 – Atualizado em 09/05/2006 08h10
Midiamax News
A pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, um militante petista foi destacado para conversar com Silvio Pereira, o ex-secretário-geral do PT. O presidente deseja assegurar-se de que Silvinho, como ele o chama, não vai dar mais nenhuma declaração bombástica no depoimento que fará amanhã à CPI dos Bingos.
O presidente Lula está especialmente preocupado com o depoimento que o ex-companheiro terá de prestar, segundo informa o jornalista Josias de Souza, colunista do jornal Folha de S. Paulo. Lula leu a entrevista que Silvinho concedeu à repórter Soraya Aggege no domingo à tarde, na fazenda do ministro Walfrido Mares Guia (Turismo), em Minas.
Ontem, discutiu o assunto com auxiliares e deixou transparecer que está preocupado não com o que Silvinho disse, mas com o que ele pode vir a dizer. Para Lula, o ex-dirigente petista quis mandar-lhe um recado. Se não dispensarem a ele atenção de que se julga credor, pode causar problemas para o governo. Lula avalia que, a essa altura, tudo o que Silvinho disser, mesmo que seja mentira, será “explorado” pela oposição.
Lula surpreendeu-se com a entrevista e há cerca de dois meses, em encontro reservado que manteve com José Dirceu, seu ex-chefe da Casa Civil, o presidente perguntara sobre Silvinho e sobre o ex-tesoureiro petista Delúbio Soares. Ouviu uma resposta tranqüilizadora. Os dois estavam sob controle, disse-lhe Dirceu.
Não era bem assim. Delúbio e Silvinho foram os únicos petistas punidos pelo partido depois da explosão do escândalo do mensalão. O primeiro for formalmente expulso. O outro renunciou ao cargo de secretário-geral para evitar a expulsão. Dirceu vem monitorando a ambos. Costumava encontrar-se em segredo com os dois.
Com o tempo, porém, os encontros foram escasseando. Passaram a se comunicar por meio de um amigo comum, que é próximo também de Lula. Esse pombo-correio vinha sinalizando que Silvinho, diferentemente de Delúbio, dava sinais de descontrole. Algo que não chegou a causar espanto a Dirceu, que sempre o considerou “menos preparado” que Delúbio.
Lula fez cara de surpresa ao ser alertado ontem de que Silvinho estaria emocionalmente abalado. Acha que o partido, em especial Dirceu, não poderia ter deixado a situação chegar a esse ponto. E encomendou providências para reverter o quadro. Na opinião de Lula, afora o inconveniente de ter recolocado em cena uma crise que já estava “fora da agenda”, a entrevista de Silvinho não abriu nenhuma ferida nova. Em certa medida foi inclusive favorável ao governo.
Além de reafirmar que o presidente nada sabia acerca da coleta clandestina de recursos, o ex-secretário-geral disse que Marcos Valério esbarrou na resistência do Banco Central no instante em que tentou cavar negócios escusos no governo. O trecho da entrevista que mais desgostou a cúpula do governo foi aquele em que Silvinho fala de um encontro de dirigentes petistas com Marcos Valério, para promover um ajuste de versões. Diante de três opções – contar tudo e “derrubar a República”, calar e acabar como PC Farias (assassinado), ou o “meio termo” – Valério teria adotado a última alternativa. A versão, segundo um auxiliar de Lula, seria “falsa”.