08/05/2006 07h32 – Atualizado em 08/05/2006 07h32
Olair Nogueira
O destino da Brasil Ferrovias, grupo que reúne as estradas de ferro Novoeste, Ferroban e Ferronorte, já foi decidido, pelo menos é o que informou o senador Delcídio do Amaral (PT). De acordo com o ele, a empresa de alimentos América Latina Logística (ALL) Bunge comprou a empresa semana passada. A informação foi prestada no sábado, quando Amaral participava de uma reunião no Sindicato Rural de Bataguassu. Outras duas empresas também entram na briga pelo controle majoritário da empresa, MRS Logística e Copersucar.A AAL deve arcar com um prejuízo que pode chegar a centenas de milhões de reais. Será o ato final de uma seqüência de erros iniciada na década de 90, quando as ferrovias foram privatizadas, e prolongada até a atual gestão, que não conseguiu reduzir significativamente a dívida da empresa, hoje na casa de 1,5 bilhão de reais. O valor da negociação pode chegar a 500 milhões de reais, considerado o potencial de faturamento da companhia no futuro. De acordo com a revista Valor Econômico, o processo de reestruturação financeira do grupo, iniciado em maio de 2005 e concluído em outubro do mesmo ano, custou quase 1 bilhão de reais para os acionistas, se forem somados os aportes de capital, os novos empréstimos do BNDES e a conversão de dívida em participação acionária. Os fundos possuem, cada um, 25% das ações do grupo, enquanto o BNDES ficou com 43,6% de participação. Depois da reestruturação, a Brasil Ferrovias foi separada em duas holdings: Nova Brasil Ferrovias e Novoeste Brasil. A primeira reúne parte da Ferronorte e da Ferroban no corredor formado pelos trilhos de bitola larga. Já a Novoeste Brasil, que inclui o trecho de bitola estreita da Ferronorte e capta cargas no interior de São Paulo e Mato Grosso do Sul, ganhou mais atenção nas últimas semanas por ser alvo de ofertas de pelo menos quatro grupos: o consórcio coreano Asia Latin Marketing Center (Asila), a chinesa Jiancsu Zhongye Iron & Steel e a boliviana Ferrovia Oriental (controlada pelo grupo americano Genesee&Wyoming), além da ALL, única empresa a fazer oferta por toda a Brasil Ferrovias. Uma das justificativas para o interesse estrangeiro seria a possibilidade de uma futura ligação entre o Brasil e a costa do Pacífico, a partir das linhas da Novoeste. O projeto é cogitado em até 70 bilhões de reais e têm remotas chances de sair do papel, segundo especialistas em logística. Os acionistas não são os únicos a sofrer com os problemas da Brasil Ferrovias. Um estudo da Trevisan Consultores avalia que, com mais investimentos e uma gestão mais eficiente, as ferrovias do grupo poderiam estimular a atividade econômica nos estados por onde passam (São Paulo, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso) e o resultado seria uma elevação de até 1% no Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. “Existem grandes áreas de terra não cultivadas na região Centro-Oeste e pequenas indústrias no interior de São Paulo que não exportam simplesmente porque os donos sabem das dificuldades e do alto custo para escoar a produção”, afirma Dubois, da Trevisan. “Esse é o verdadeiro custo da ineficiência da Brasil Ferrovias para o País.”O interesse dos investidores é explicado pelo fato de a empresa ocupar uma posição estratégica, única no mercado de transportes brasileiro, atendendo à maior região produtora agrícola do País.ALLA Bunge Alimentos está presente no Brasil desde 1905. É a mais importante empresa na industrialização de soja e trigo. É líder na comercialização de grãos como soja, trigo, milho, sorgo, girassol e semente de algodão. É líder também na exportação brasileira no agronegócio. Integra a corporação mundial Bunge Limited, fundada em 1818, na Holanda. Está presente em 16 Estados brasileiros, com unidades industriais; de armazenamento; moinhos; centro de distribuição, escritórios; e terminais portuários. Sua sede fica em Gaspar – SC. O faturamento anual gira em torno de R$ 15 bilhões, e emprega, diretamente, mais de 7.000 pessoas.Compra de mais de 30 mil produtores rurais um volume em torno de 15 milhões de toneladas de soja, além de trigo, milho e caroço de algodão, e se relaciona regularmente com clientes em quase 30 países. É líder no mercado nacional de óleos vegetais; margarinas; gorduras vegetais; farinhas industriais e pré-misturas para panificação.Produz, na cadeia soja: farelo; óleo degomado; óleo refinado especial para as indústrias e para o consumidor final; margarinas; maioneses; e vários tipos de formulações de gorduras vegetais para as indústrias de alimentação.