21/04/2006 08h14 – Atualizado em 21/04/2006 08h14
O Dia online
Durou quase oito horas o depoimento do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, à Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. Bastos negou ter participado da quebra de sigilo do caseiro Francenildo ou ter utilizado o cargo para acobertar ou proteger o ex-ministro Antônio Palocci. “Tenho certeza da lisura do meu comportamento”, disse. O ministro é acusado pela oposição, que pede sua saída do governo, de ajudar a orientar a defesa do ex-ministro Antonio Palocci. Bastos assegurou que nunca pediu e não vai pedir demissão. “Sou ministro da Justiça e vou continuar ministro da Justiça enquanto tiver a confiança do presidente da República”, disse.Segundo ele, toda a sua atuação foi feita dentro das atribuições de ministro da justiça. “Tenho certeza de que não maculei os meus deveres de ministro. Não fui além nem aquém do que me permite fazer a Constituição”, disse. O ministro afirmou que só soube que Palocci teve acesso ao extrato do caseiro após o depoimento de Jorge Mattoso, ex-presidente da Caixa. Bastos admitiu que indicou o advogado Arnaldo Malheiros Júnior para a defesa de Palocci, mas disse que se limitou a recomendar um escritório e que não vê nisso ilegalidade. Segundo ele, mais do que um direito, a indicação foi um dever.Thomaz Bastos classificou de “mitologia” a versão de que tentou criar uma rede de proteção ao ex-ministro da Fazenda. A prova, segundo ele, é que a Polícia Federal desvendou a cadeia de fatos que levaram à quebra de sigilo. O ministro considerou as acusações um “libelo político”, fruto da disputa eleitoral.Ele rebateu, ainda, as acusações de que ainda atua como advogado para o governo. “Dizer que sou o grande advogado oculto do governo é uma grande mentira”, afirmou. O ministro disse que falou com o presidente Lula sobre a quebra do sigilo bancário só depois que o extrato do caseiro já havia sido publicado pela imprensa. Segundo ele, o presidente disse que o caso era “grave”, porque o Estado havia violado o sigilo de um cidadão. “Disse ao presidente que o fato era sério, muito grave e institucionalmente relevante”, relatou. Parlamentares do PSDB e do PFL madrugaram na comissão para serem os primeiros a fazer perguntas a Bastos. Na noite desta quarta-feira, os tucanos se reuniram para definir uma estratégia de ataque ao ministro: substituiram dois integrantes do CCJ e traçaram um roteiro seguindo o cronograma dos acontecimentos.”O ministro Márcio Thomaz Bastos sabe que não tem mais condições de ficar como ministro”, disparou o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM). O tucano quer que o ministro vá também ao Senado.Bastos se exaltou após Alberto Goldman (PSDB-SP) levantar dúvidas sobre a real motivação da saída de Palocci. “A diferença deste governo é que a imprensa não fica sozinha. O governo corta na própria carne, chega às soluções”, reagiu.Em seguida, o clima esquentou, os deputados se exaltaram e a sessão teve que ser suspensa por 10 minutos, após um bate-boca entre o líder do PT, Fernando Ferro (PE) e Roberto Magalhães (PFL-PE).O depoimento foi retomado e o ministro disse que as investigações estão sendo conduzidas de forma rígida e com a fiscalização do Ministério Público. Ele ressaltou, no entanto, que as conclusões da PF são indicativas e não podem ser consideradas um julgamento do caso. Por fim, o ministro afirmou que não vê necessidade de abrir seu sigilo telefônico para que se possa esclarecer a ida de dois de seus assessores à casa do ex-ministro Antonio Palocci. Bastos disse que, após a quebra de sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, os assessores Cláudio Alencar e Daniel Goldberg foram chamados por Palocci porque o então ministro da Fazenda estava desconfiado de que o caseiro tinha dinheiro incompatível com sua renda.