23/03/2006 09h31 – Atualizado em 23/03/2006 09h31
Folha On line
O blog do jornalista Josias de Souza, colunista do jornal Folha de S. Paulo, traz hoje que o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, deixou de ser uma unanimidade no governo e abriu-se uma divisão entre os auxiliares mais próximos de Lula que compõem o núcleo decisório do governo. Uma parte acha que o presidente deveria afastar Palocci do Ministério da Fazenda, sendo que Lula realizou nas últimas horas uma rodada de consultas entre ministros e assessores mais próximos sobre a situação de Palocci. Um dos consultados interpretou a iniciativa como uma evidência de que o próprio presidente está em dúvida quanto à conveniência de manter o ministro no governo. Os defensores da saída de Palocci acham que a situação do ministro se complicou com o surgimento de evidências do envolvimento da Caixa Econômica Federal e do próprio Ministério da Fazenda na operação que resultou na quebra ilegal do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa e no vazamento dos extratos do caseiro para a imprensa. O governo já sabe quem extraiu os dados dos computadores da Caixa Econômica. Chegou-se ao nome em função dos rastros identificados nas cópias dos extratos. No meio da tarde desta quarta-feira, a Caixa prometeu que divulgaria os resultados de uma sindicância interna. Subitamente, o banco oficial recuou. As informações foram, porém, repassadas ao Palácio do Planalto. Brasília respirou uma atmosfera envenenada durante todo o dia. Um boato desceu a Esplanada dos Ministérios em direção ao Congresso: Palocci teria pedido demissão. Levaria com ele o assessor de imprensa da Fazenda, Marcelo Netto, apontado por integrantes da CPI dos Bingos como responsável pelo vazamento dos dados bancários de Francenildo. Em público, Netto tem evitado falar sobre a acusação. Privadamente, nega participação no episódio. À noite, duas pessoas próximas a Lula desmentiram ao blog que o ministro houvesse sido demitido. Palocci teve, de fato, uma longa conversa com o presidente, no Planalto. Disse a Lula que a última coisa que deseja é criar problemas para ele e para o governo. Os dois avaliaram juntos a conjuntura. Concluiu-se que é mesmo delicada a situação do ministro. Lula recomendou-lhe serenidade. A principal preocupação do governo no momento é tentar evitar que a violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo seja caracterizada como um crime de Estado. O ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça) disse a Lula que é essencial individualizar responsabilidades e punir exemplarmente os envolvidos. O presidente deu razão ao auxiliar. Ao retardar a divulgação dos dados já apurados pela Caixa Econômica, o Planalto ganha tempo, para unificar o discurso. A oposição aproveita para faturar. José Agripino Maia (RN), líder do PFL no Senado, disse que o prazo de 15 dias solicitado pela Caixa para concluir a sindicância é um “escárnio”. “Estão tentando encontrar um Delúbio (Soares)”, diz ele, numa alusão ao fato de o ex-tesoureiro petista ter assumido todas as culpas no escândalo do mensalão. Palocci está abatido. Há uma semana não comparece ao Ministério da Fazenda. Prefere despachar num gabinete do Palácio do Planalto. Ali, diferentemente do que ocorre no prédio da Fazenda, o ministro pode entrar pela garagem, evitando o contato com jornalistas. E por que o ministro, sempre afável com repórteres, desenvolveu essa súbita aversão à imprensa? O próprio Palocci deu a resposta a um colega de ministério. Receia que, numa eventual entrevista, as perguntas resvalem para temas pessoais. Dá-se de barato no governo que Palocci esteve mesmo na “mansão do lobby”, aquela casa alugada por pessoas que o assessoraram na prefeitura de Ribeirão Preto para fazer negócios e promover festas. Diz-se, porém, que Palocci não tomou parte dos encontros de lobby da casa. Suas visitas diriam respeito apenas ao cotidiano pessoal do ministro. Daí o receio do contato com os jornalistas. Em reunião promovida na última terça-feira no Planalto, em que se discutiu a estratégia de defesa de Palocci no Congresso, o líder do PT na Câmara, Henrique Fontana, disse ao ministro que estava sustentando que ele não esteve na tal casa. E Palocci: “Você não deve dizer que eu não fui. Isso só eu posso dizer.” Na mesma reunião, o ministro Ciro Gomes (Integração Nacional) e o deputado Arlindo Chinaglia, líder do governo na Câmara, sustentaram a tese de que a ida de Palocci à casa da “República de Ribeirão”, foco da oposição no Congresso, deveria ser ignorada nas manifestações públicas dos aliados do governo. O importante a realçar seria o fato de que o ministro não tomou parte de nenhum negócio ilícito.




