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quarta-feira, 24 de abril de 2024

ARTIGO: Aplicação de fungicidas em milho: verdades e mitos

23/04/2013 11h55 – Atualizado em 23/04/2013 11h55

André Luís F. Lourenção

Entre dez e doze mil anos atrás, no período da pedra polida, alguns indivíduos de povos caçadores e coletores observaram que parte dos grãos que eram coletados na natureza para a sua alimentação poderiam ser enterrados, isto é, “semeados” a fim de produzir novas plantas iguais às de sua origem. Com perdão aos historiadores, podemos considerar essa tentativa, guardando as devidas proporções da época, como a primeira forma de experimentação agrícola.

Desde então, as demandas sociais e climáticas vêm aguçando a curiosidade de homens do campo e estudiosos da área. A população cresce exponencialmente, e a falta de alimentos nunca deixou de assombrar muitas nações. Em relação às demandas climáticas, de tempos em tempos sofremos com situações, anunciadas ou não, de secas severas, geadas, pragas e doenças. Esses fatores abastecem nosso propósito de ajustar e melhorar nossos sistemas produtivos.

O sistema de cultivo soja-milho safrinha vem se adaptando cada vez mais a estas condições. A cultura da soja é realmente o carro-chefe, tendo grandes esforços e estudos em sua base. Já a cultura do milho safrinha, mais recente no cerrado, vem ganhando fôlego a cada ano, alimentada com bons preços e aumento de potencial produtivo da cultura. Com cada vez mais “tecnologias embarcadas“ nas sementes, confere-se valores de ouro ao peso dessa cultura. Neste contexto, extremamente favorável, verdades e mitos surgem e desaparecem com grande velocidade. Como na época da pedra polida, muito é difundido no “boca-a-boca”, sem bases técnicas. Citarei aqui alguns destes pontos, sem nenhuma pretensão em ser o detentor da verdade, mas baseando-me em resultados de pesquisa:

  • O milho safrinha evoluiu e muitas vezes precisa de aplicação de fungicidas para proteger a planta e garantir potencial produtivo – Verdade! Com o alto investimento da cultura, em áreas com histórico de doenças com índices suficientes de chuvas, a aplicação de fungicidas pode trazer excelentes respostas.

  • É necessário realizar aplicação de fungicidas em todos os materiais de forma preventiva, pois o milho de alto investimento responde – Mito! É possível, em áreas com menor pressão de doenças, com híbridos de ciclo precoce e com índices menores de chuvas, colher milho sem grandes perdas por doenças.

-Híbridos sensíveis a doenças sempre respondem a pelo menos uma aplicação de fungicidas. Mito! Muitas vezes, o grau de sensibilidade a doença é tão alto, que apenas uma aplicação de fungicidas não é suficiente. Você daria uma aspirina a um portador de hanseníase visando tratá-lo? Cada caso é diferente e alguns híbridos, geralmente de ciclo super-precoce, precisam de um cuidado especial.

  • Aplicação de fungicidas durante o pendoamento causa perdas na polinização do milho. Mito! Não há evidências científicas de que os fungicidas afetem a polinização do milho. Há indícios de que o óleo mineral dificulte a germinação do grão de pólen por formar uma barreira física, mas nada comprovado.

  • Híbridos de milho respondem de formas diferentes a aplicação de fungicidas. Verdade! A Fundação MS vem trabalhando nos últimos anos tentando ranquear híbridos quanto à tolerância as doenças. Trabalho este extremamente complicado, pois a diversidade de materiais no mercado se renova em pelo menos 10% a cada ano. Portanto, em cinco anos, 50% dos híbridos hoje testados não estarão mais disponíveis no mercado. Há também grande variação climática, principalmente em regiões de transição, como o Mato Grosso do Sul, onde o complexo de doenças se alterna a cada ano.

  • Outra grande verdade: o produtor precisa exigir das empresas detentoras de sementes que disponibilizem ao mercado híbridos com boa tolerância a doenças, pois híbridos sensíveis requerem duas ou mais aplicações. Este custo soma-se àquele já orçado pelo produtor. Caso o híbrido seja reconhecidamente sensível, o posicionamento deve ser claro.

  • Cito aqui uma última verdade: nós, curiosos, não mudamos muito desde a primeira semente, enterrada na terra, pra ver se dali nascia uma planta, com mais semente.

André Luís F. Lourenção é engenheiro agrônomo formado pela UFGD em 2002, mestre em entomologia e conservação da Biodiversidade (UFGD, 2005) e doutor em agronomia (UFGD, 2011). Na Fundação MS, ocupa o cargo de Gerente Técnico-Científico.

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