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quarta-feira, 24 de abril de 2024

O GOSTO MUSICAL TERCEIRO-MUNDISTA

08/02/2013 15h30 – Atualizado em 08/02/2013 15h30

Quando se ouve essas coisas que chamam de canção, me lembro do Bial chamando os BBB de heróis

Acho que é por isso que o Roberto Carlos emplaca fácil suas músicas e muitos antigos artistas estão retornando aos palcos. É tanto lixo musical, que no momento que surge algo mais palatável aos ouvidos, a durabilidade faz dela infinita

Antonio Carlos Garcia de Oliveira

O ouvido musical das pessoas tá bastante ruim. Visitar um otorrino para ouvir melhor e sintonizar rádios mais ecléticas é sempre importante. Mas, ao ouvir “hoje é dia das muié pagar motel pros homem”, “que isso novinha, essa menina tá na minha”, “te puxo, te agarro, te prendo, a gente se enrosca”, “vou te pegar, vou te pegar, levar prá casa e fazer um borogodó, hoje to preparada to com a minha lista”, “perto de papai você é santinha, quando sogrão não tá perto você perde a linha”, eu quero tchá, eu quero tchu, eu quero tcha, tcha, tcha”, “você tá com raivinha, ciuminho, eu to ligado”, “vai mexendo a bundinha, vai, descendo na garrafinha”, “quero te pegar de jeito…” “vai no banheiro prá gente se beijar, vai lá no escurinho..” e muitas outras, dá uma idéia como esse cancioneiro popular brasileiro deseduca, desvia a conduta dos jovens, trata o português como uma língua estrangeira, é lastimável sob o aspecto do respeito, trata o amor como uma espúria relação sexual, prá não falar coisa pior.

Quando se ouve essas coisas que chamam de canção, me lembro do Bial chamando os BBB de heróis. Nesses casos é preferível ouvir o bom e velho rock and roll, porque pelo menos o pessoal fala inglês e você nada entende. Ao ouvir as “canções” que soam como uma bomba nos ouvidos e nas zonas erógenas, ainda bem que a saudade nos conforta, ao relembrar como se fazia música em período tão próximo.

Acho que é por isso que o Roberto Carlos emplaca fácil suas músicas e muitos antigos artistas estão retornando aos palcos. É tanto lixo musical, que no momento que surge algo mais palatável aos ouvidos, a durabilidade faz dela infinita. Apesar de toda pobreza em nossos tempos de menino, música boa não faltava na velha “sonatta”, herança do saudoso pintor de paredes que era meu pai.

Quando hoje se ouve “boêmia, a que me tens de regresso”, música que possui uns 50 anos, cantada pelo inesquecível Nelson Gonçalves, tanto jovens como antigos lembram dela. E o Altemar Dutra com “sentimental eu sou, eu sou demais”. Era demais mesmo. E o romântico Paulo Sérgio imitador do Roberto Carlos.

Ouçam as músicas do Renato Russo, dos Paralamas do Sucesso, até do Capital Inicial. Siga o verso de Milton Nascimento: “amigo é coisa prá se guardar, do lado esquerdo do peito…”, do Zé Ramalho: “avorrai…”, do Raul: “eu nasci há dez mil anos atrás, e não tem nada nesse mundo que eu não saiba demais…”. Ufa. Temei e rezai prá que a enxurrada de coisas ruins que vem por aí, não sejam bem recebidas, porque estamos merecendo coisa melhor nas rádios e TVs do país, entretanto, para o bem dos bons ouvidos, alguns desses artistas ainda existem e os outros estão bem guardados na estante e na memória.

Antonio Carlos Garcia de Oliveira

(Promotor de Justiça)

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