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Brasil pode ser 1° país a usar eucalipto transgênico para fins comerciais

06/09/2014 12h57 – Atualizado em 06/09/2014 12h57

A FuturaGene, empresa de biotecnologia pertencente à Suzano, está à frente do projeto, mas os EUA também tem um, com a Arbogen, para clima temperado

Da Redação

O Brasil pode se tornar o primeiro país do mundo a aprovar o plantio de eucalipto transgênico para fins comerciais, na esteira de um pedido de liberação feito pela empresa de biotecnologia FuturaGene, pertencente à Suzano Papel e Celulose. Mais um importante passo nesse sentido será dado hoje, com a realização de audiência pública convocada pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), em Brasília, relativa a esse processo.

Neste momento, além do Brasil, somente os Estados Unidos avaliam um pleito semelhante, apresentado pela ArboGen, também de biotecnologia, com vistas a comercializar um eucalipto geneticamente modificado que é resistente ao frio. A FuturaGene, por sua vez, desenvolveu um tipo de eucalipto que é até 20% mais produtivo que o convencional, na esteira do maior diâmetro e altura da planta.

Com o maior volume de celulose presente na árvore, haverá necessidade de áreas menores para produção da mesma quantidade de madeira obtida com o eucalipto tradicional e a idade para corte, hoje em torno de sete anos, cairá a 5 anos ou 5 anos e meio. Essa é a primeira vez que uma árvore geneticamente modificada será apreciada em audiência pública no país.

Conforme o vice-presidente de Assuntos Regulatórios da FuturaGene, Eugênio César Ulian, o projeto foi iniciado há cerca de 12 anos, em Israel, e depois da realização de testes em álamos, a empresa de biotecnologia voltou suas atenções ao eucalipto. Em 2006, foram iniciados os ensaios em campo em Itararé (SP) e, em 2007, em Angatuba (SP). “Isso confirmou o aumento de produtividade de até 20%”. Em 2010, a Suzano assumiu 100% do capital da FuturaGene, em uma operação de US$ 82 milhões.

Agora, a empresa está expandindo os experimentos em São Paulo, porém também levou o eucalipto transgênico, internamente chamado de H421 e desenvolvido a partir de um clone da Suzano que já oferecia produtividade elevada, para áreas da Bahia, do Piauí e do Maranhão – a produtora de celulose tem fábricas em São Paulo, Bahia e Maranhão. “Vamos atender à Suzano, mas há possibilidade de a FuturaGene negociar o produto com outras empresas”, comentou Ulian.

Para a indústria brasileira de celulose, a liberação do eucalipto transgênico coloca o país na vanguarda e garante competitividade ainda maior, seara em que o Brasil já é destaque mundial no que tange à clonagem tradicional de eucalipto e baixo custo de produção. “A indústria vai precisar da transgenia para evoluir”, disse a presidente da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), Elizabeth de Carvalhaes.

Segundo levantamento da antiga Associação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas (Abraf), hoje parte da Ibá, em 2012, a área de plantio de eucalipto e pinus era de 6,66 milhões de hectares no país, com 76,6% relativos ao primeiro gênero. “A transgenia resolve questões de uso da terra”, acrescentou Elizabeth.

Conforme ela, ao lançar mão de novas tecnologias, a indústria de papel e celulose nacional não busca apenas o ganho de produtividade, mas o desenvolvimento de novos produtos. Porém, as principais certificadoras florestais que atuam no país, Forest Stewardship Council (FSC) e Cerflor, que é reconhecido internacionalmente pelo Program for the Endorsement of Forest Certification Schemes (PEFC), ainda não preveem o selo para produtos geneticamente modificados.

O FSC vai debater o assunto na próxima semana, em evento específico durante sua assembleia geral, na Espanha, e a presidente da Ibá pretende incitar o debate sobre o futuro da indústria e a transgenia. O Cerflor, por outro lado, já permitiu o uso de transgênicos conforme a legislação nacional, mas a permissão foi suspensa até o fim de 2015 diante da revisão de regras do PEFC. “Se eles não certificarem, outros virão”, afirmou.

A adoção de árvores geneticamente modificadas é alvo também, há algum tempo, de críticas por parte de organizações ambientalistas com atuação local e internacional. Elas apontam, entre outros argumentos, que diferentemente das culturas transgênicas de alimentos, as de árvores podem “viver por décadas e espalhar suas sementes e pólen num raio de muitos quilômetros, e plantadas numa escala industrial invadirão e contaminarão ecossistemas”, segundo comunicado de 20 de agosto do Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais (WRM, na sigla em inglês). Para tanto, foi lançada a campanha “Stop GE Trees”, ou “Parar Árvores Transgênicas”.

Após a realização da audiência pública, o pedido da FuturaGene será levado a votação pela CTNBio, o que pode ocorrer em qualquer uma das reuniões do órgão, que ocorrem a cada um ou dois meses. Conforme a coordenação-geral do órgão, “o pedido de liberação comercial do eucalipto estará pautado nas próximas reuniões”.

“Se não houver questionamentos ou dúvidas sobre o produto que demandem respostas da empresa, ele poderá ser votado após os relatores apresentarem seus pareceres”, informou. Após a votação final e se a decisão for favorável, a Secretaria Executiva do Conselho Nacional de Biossegurança (CNBS) abrirá ainda um prazo de 30 dias para recursos.

(*) Com informações de Painel Florestal

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