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quinta-feira, 28 de março de 2024

Casal Garotinho herda “brizolismo”

14/10/2002 09h13 – Atualizado em 14/10/2002 09h13

Secretária de Ação Social do governo de Anthony Garotinho, Rosinha Matheus (PSB) se elegeu governadora do Rio de Janeiro como herdeira de uma tradição clientelista e assistencialista adotada por Chagas Freitas (PMDB), nos anos 70, por Leonel Brizola (PDT), nos 80 e 90, e por seu marido, a partir de 1998.

Com 51% dos votos válidos, Rosinha reaglutinou o eleitorado de antigos redutos brizolistas e chaguistas (Baixada Fluminense e zonas oeste e norte da capital), que havia se pulverizado a partir de 1994 entre o PT, de Benedita da Silva, e o PSDB, do ex-governador Marcello Alencar. Graças ao marido, Rosinha também incorporou os votos do interior.

“Há uma continuidade no padrão de negociação política entre Executivo e políticos locais desde Chagas até Garotinho, passando por Brizola”, afirma o historiador Carlos Eduardo Sarmento, da Fundação Getúlio Vargas.

Governador do antigo Estado da Guanabara (1971-1975) e do Rio (1979-1983), Chagas Freitas comandava uma rede de lideranças locais que, em troca de obras e cargos, faziam campanha para políticos chaguistas. Era a chamada política da “bica d”água”.

“Tratava-se do acesso aos bens públicos mais básicos. Aquilo que devia ser universalizado, necessitava da figura do intermediário, que fazia o contato entre população e poder público”, diz Sarmento.

Com a abertura política, no início dos anos 80, as associações de moradores ocuparam o papel dos antigos chefes locais e o chaguismo perdeu força política.O que facilitou a transferência de votos da Baixada e das zonas oeste e norte para Brizola, então uma liderança histórica e carismática, recém-chegada do exílio, que se elegeu governador, em 82.

“Mas, ao contrário do chaguismo, o brizolismo assumiu [o governo” sem máquina. Brizola se elegeu sem maioria na Assembléia e foi obrigado a compor com o PMDB chaguista para governar”, afirma o cientista político João Trajano Sento-Sé, da Uerj (Universidade do Estado do Rio).

Os chefes locais do chaguismo foram substituídos em boa parte por líderes de associação de moradores. Ex-presidente do Conselho de Representantes da Famerj (Federação das Associações de Moradores do Rio), Almir Paulo de Lima diz que alguns secretários “cooptavam” lideranças comunitárias em troca de voto.

“Em alguns casos, as associações de moradores tiveram participação até na indicação de funcionários para os Cieps”, afirma.

Sarmento confirma a prática: “O sistema de admissão de alunos nos Cieps

[Centros Integrados de Educação Pública” era assistencialista. Havia uma demanda muito maior do que ofertas de vagas. Eram usados padrões políticos de seleção”.

Religião

Eleito governador pelo PDT em 1998, com apoio do PT, Garotinho levou ao assistencialismo político um novo ingrediente: o vínculo religioso. “Garotinho usou as igrejas, o templo, como fórum de intermediação política, como fazia o Brizola com as associações de moradores e Chagas com os seus líderes locais”, afirma o cientista político Antônio Carlos Alkmim, da PUC do Rio.

Para Sento-Sé, da Uerj, é muito cedo, porém, para falar em “garotinismo”. “Em 1998, o Garotinho tem um desempenho muito bom na capital em função da aliança com o PT, principalmente com Benedita. O primeiro pleito que ele pode ser identificado como fenômeno eleitoral é a partir da eleição da Rosinha este ano.”

Na geografia do voto, Brizola, Garotinho e, agora, Rosinha conseguiram, percentualmente, mais votos na Baixada que no Estado.

Enquanto no Estado a governadora eleita teve 51,3%, no antigo reduto brizolista ela conseguiu 63,1%. Brizola, em 1990, teve 60,8% dos votos no Estado e 72,6%, na Baixada. No segundo turno de 1998, Garotinho teve 46,9% no Estado e 49,2% na Baixada.

Para Alckmin, que estudou os mapas eleitorais das eleições para governador desde 82, a diferença é que, enquanto Brizola cresceu da capital e da Baixada para o interior, Garotinho fez o caminho inverso.

“Garotinho só entrou no eleitorado do Rio, especificamente os da zona oeste e norte, por causa da aliança do PDT, seu partido, com o PT de Benedita.”

Fonte: Folha de São Paulo

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