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sábado, 20 de abril de 2024

Com pandemia acelerada, médico vira noite para tentar salvar pacientes

Sem horário para atender, médico paranaense contou história de homem que estava com 75% do pulmão comprometido e agora voltou a tocar trompete

A história se repete em todo o país. Com a reaceleração da pandemia, médicos de várias partes do país deixam de lado seus compromissos pessoais, até mesmo com a família, para tentar salvar pessoas acometidas pelo coronavírus.

Um desses médicos é o ginecologista Laércio Ceconello, que atua na linha de frente no estado do Paraná. Ele faz parte do Projeto Paraná Vencendo a Covid e fez parte de uma reportagem publicada pelo Perfil News em janeiro, onde conta os resultados do seu trabalho com cerca de 1.100 pessoas.

Em relato emocionado, o médico contou como o tratamento imediato ao paciente Sérgio Roberto dos Santos, que o procurou já com os pulmões comprometidos, pode fazer o homem voltar a tocar trompete. Acompanhe:

“Era 23/01/2021, 23h30, depois de uma manhã, tarde e noite intensas de consultas por Covid, recebo um telefonema de uma desconhecida: “Dr, sou estudante de medicina e meu tio está em estado grave devido à Covid. Precisava que o senhor o ajudasse. O senhor pode?

Minha esposa acordou com o toque e reclamou: “Você está passando dos limites! Volte a dormir que amanhã começa tudo de novo!

Não consegui recusar. Atendi, fiz a consulta por telemedicina naquela mesma noite, naquele mesmo horário, conjuntamente com tio e sobrinha. Neste horário em cidades pequenas as farmácias estão fechadas, mas com a intimidade entre as pessoas, a família conseguiu a abertura e iniciou algumas medicações ainda naquela noite.

A estudante tinha toda razão. Febre alta, oxigenação baixa, dificuldade respiratória.
Realmente grave!

Era mais um caso que se tornou cotidiano no país todo: paciente com mais de 7 dias de evolução, sem utilizar o tratamento precoce, tomografia com comprometimento pulmonar muito importante (muitas vezes acima de 50%), estando extremamente sintomático e liberado por algum serviço médico com receita de sintomáticos ou antibiótico inadequado para a gravidade do caso.

Com pandemia acelerada, médico vira noite para tentar salvar pacientes
Tomografia mostrava comprometimento dos pulmões. Foto: Divulgação

Infelizmente não se tratava mais de caso de Covid em estágio inicial. Inicial seria do primeiro ao quarto dia (máximo no quinto dia) do início dos sintomas, onde temos a janela de oportunidade de tratar a primeira fase da doença com antivirais, objetivando suprimir a progressão da doença. Tratava-se de caso em fase avançada.

Ainda tínhamos uma pequena janela de oportunidade de tratar a segunda fase, a fase de inflamação pulmonar, antes que chegássemos à temida terceira fase, que é irremediavelmente hospitalar e em geral terrível para o paciente e familiares.

Com pandemia acelerada, médico vira noite para tentar salvar pacientes
Paciente que estava com os pulmões comprometidos hoje vive vida praticamente normal. Foto: Divulgação

Tanto eu quanto o paciente Sérgio lutamos juntos desde o primeiro momento. Ele realmente foi um paciente exemplar, seguindo todas as orientações.

Utilizamos todos os meios possíveis: antibióticos potentes, anticoagulante, corticoide em dose correta (alta dose pra quem tem altos índices de inflamação), adjuvantes ao corticoide, fisioterapia respiratória e até oxigenoterapia no período do sono (hospital da pequena cidade paranaense cedeu gentilmente um cilindro de oxigênio após laudo que fiz explicando a necessidade).

Pois bem, após 10 dias de acompanhamento intensivo por telemedicina o paciente de 52 anos, sem comorbidades importantes, com tomografia com 75% de comprometimento está fora de perigo, sem sintomas graves , respirando bem em ar ambiente, com boa oxigenação e com exames de sangue que demonstram o controle da infecção e inflamação pulmonar.

Sérgio tocará seu trompete novamente, já o está fazendo como parte da fisioterapia conforme combinamos. Que emoção será ouvir uma música inteira antes da alta definitiva!

Em 20 anos de casamento foi a primeira vez que descumpri ” uma ordem da patroa” e algo deu certo. Espero não demorar outros 20 para que o mesmo ocorra novamente.

Laércio Ceconello

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