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sexta-feira, 26 de abril de 2024

Doutorado na escola do mal

15/09/2002 07h08 – Atualizado em 15/09/2002 07h08

Fernandinho só tirava notas altas no primário. Mais de 20 anos depois, seu currículo é uma coleção de atrocidades e covardia

Aos 10 anos de idade, quando não estava em sala de aula, Fernandinho desfilava com ripas de madeira na cintura – armas imaginárias – pelas ruas do Parque Beira-Mar, bairro pobre perto do Centro de Duque de Caxias. Na Escola Municipal Joaquim da Silva Peçanha, perto de casa, onde cursou o primário, ele era um dos melhores alunos e costumava dizer aos amigos que queria ser famoso.

O que nenhum dos colegas imaginava, porém, é que, 25 anos depois, Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, se tornaria o mais cruel dos criminosos do Rio – o bandido que, quarta-feira, comandou um banho de sangue no presídio de Bangu 1 e circulava desenvolto pelos corredores da cadeia, enquanto os cidadãos do Rio se encarceravam em casa, durante as 23 horas de duração do motim. Feita refém sem saber, a população já temia as conseqüências de ataques de traficantes que, nas favelas, estavam prontos para acatar as ordens que o chefe dava pelo celular na frente de autoridades: descer os morros e espalhar o terror pela cidade, caso a polícia tocasse nele.

O histórico escolar de Fernandinho Beira-Mar mostra que ele foi um bom aluno no primário, entre 1975 e 1978, com média 7 em todas as disciplinas. No 4º bimestre da 2ª série, por exemplo, só tirou notas 10. “A mãe dele era uma pessoa humilde, mas que fazia questão de ver o filho estudando. Era sempre uma das primeiras a renovar a matrícula do filho”, contou uma funcionária da Secretaria Municipal de Educação de Caxias, já aposentada, que preferiu não se identificar, referindo-se à faxineira Zelina Laurentino da Costa, que tinha de trabalhar duro em casas de família para criar os filhos.

“Fernandinho acabava ficando sob os cuidados de duas irmãs, mas dificilmente gazeteava”, lembra a mesma funcionária, que não se recorda de atos de rebeldia do futuro criminoso sanguinário. “Ele era inquieto, mas inteligente. Nunca foi reprovado. Fazia das suas, mas professores e colegas gostavam muito dele. O problema era quando se aborrecia. Aí, ninguém chegava perto”, afirmou um antigo colega, que também preferiu não se identificar.

Garoto era viciado em assistir a filmes violentos na televisão

Ex-vizinhos contam que Beira-Mar era um garoto apaixonado por filmes de ação, com cenas de perseguição, lutas e tiros. “Lembro do Fernandinho com seus 12 anos. Alternava traquinagem com momentos de timidez. Mas, quando o viam enfezado, todos tratavam de deixá-lo em paz”, descreveu outro antigo colega.

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