Bombeiros atendem a uma média de quatro ocorrências por dia. Incêndios domésticos ajudam a sobrecarregar sistema de saúde; “tem que registrar Boletim de Ocorrência, esse tipo de incêndio é crime”, alerta Comandante do Corpo de Bombeiros
O número de ocorrências de queimadas em Três Lagoas cresceu 30% em relação ao ano passado, segundo números do Corpo de Bombeiros. São atendidas, em média, quatro ocorrências por dia.
Em meio à pandemia de uma doença que ataca fundamentalmente o sistema respiratório e sobrecarrega o sistema de saúde, o dado é alarmante. “O tempo seco já faz aumentar naturalmente as alergias respiratórias. Com a Covid é ainda pior”, afirma o Coronel Arruda, Comandante do Corpo de Bombeiros de Três Lagoas.
A preocupação é grande. No ano passado, de janeiro até o dia 3 de agosto foram registradas 155 ocorrências de queimadas; neste ano, até agora, foram 202. Os últimos três meses, entretanto, concentram a maior parte das ocorrências: foram 173, contra 126 no mesmo período do ano passado. Um acréscimo de quase 40%.
Por isso, o comando dos Bombeiros decidiu reunir a cúpula do meio ambiente para tomar decisões mais enérgicas no que tange à punição e legislação. Na próxima quinta-feira, 6, acontecerá uma reunião envolvendo autoridades municipais, estaduais, Ministério Público e serviços de segurança para definir medidas mais severas de fiscalização e punição.
Cidade, campo e florestas
De acordo com o Coronel Arruda, a principal preocupação, hoje, são as queimadas urbanas. “As florestas plantadas têm estrutura própria das empresas, com monitoramento e atuação local. Nas fazendas não recebemos relatos de incêndios, a não ser aqueles que ocorrem à beira das estradas, causados por terceiros”, disse.
No entanto, no meio da cidade, o fogo causado em terrenos baldios e em áreas públicas atinge em cheio a população local, agravando condições de saúde. Para coibir esse tipo de ação, é importante que os moradores denunciem os incendiários – que podem até ser presos, caso seja comprovado que a atitude tenha causado danos à fauna e flora ou à saúde de alguém.
Mas, para que a denúncia seja efetiva, é preciso deixar claro os papéis de cada um dos entes dessa equação.
Bombeiros apagam; PMA e SEMEA multam
Para quem denunciar? Quem responde a esse questionamento é o comandante da Polícia Militar Ambiental, Tenente Rocha. “Durante a semana, em horário comercial, as pessoas podem fazer as denúncias à Secretaria do Meio Ambiente, pelo telefone (67) 3929-1248. Aos finais de semana, feriados ou no período noturno, as denúncias podem ser feitas para nós, no telefone 3929-1360”.
“Caso o denunciante tenha vídeo do flagrante do incêndio, melhor”, afirma o Tenente. Toda a denúncia pode ser feita de forma anônima, pelo WhatsApp, que é o mesmo telefone da PMA (3929-1360).
Já o Comandante dos Bombeiros diz que é essencial que os atingidos registrem Boletim de Ocorrência. “É crime ambiental e, como tal, precisa ser registrado e investigado”, afirma o Coronel Arruda.
O Corpo de Bombeiros não tem poder de autuação; a ele cabe a tarefa de apagar os incêndios. “Muitas vezes as pessoas não querem levar a denúncia adiante para não arrumar briga com os vizinhos, só querem que o fogo seja apagado. Aí ligam para os Bombeiros. Mas é importante que nos acionem, ou que avisem à Secretaria do Meio Ambiente, para que essa pessoa seja autuada e não volte a repetir o comportamento”, afirmou o Comandante da PMA.
Segundo ele, o apoio da Secretaria de Meio Ambiente é fundamental para a PMA conduzir o trabalho. O efetivo do policiamento ambiental é de 15 homens; desses, cinco estão em treinamento em Campo Grande, reduzindo a equipe a dez pessoas – que são responsáveis pelo atendimento a toda a área de Três Lagoas, Água Clara, Brasilândia, Selvíria e parte de Inocência.
Multas
De acordo com Legislação Municipal, a multa por queimadas em terrenos baldios é de 100 UFIM’s por lote, o que chega a pouco menos de R$ 500. No entanto, de acordo com o Comandante da PMA, há legislações de nível estadual e federal que também podem ser aplicadas. “As multas para queima ao ar livre podem chegar a R$ 3 mil”, afirma o Tenente Rocha.
Segundo o Coronel Arruda, apesar dos Bombeiros não serem o órgão autuador, os militares podem efetuar a prisão em flagrante dos incendiários.
De onde vem o costume?
Resultado de uma cultura de décadas, a questão de lixo acumulado e mato cortado ainda é resolvida à base do fogo por muitas pessoas. Segundo o Comandante do Corpo de Bombeiros, Coronel Arruda, essa prática vem da época em que se renovava o pasto ateando fogo à área antiga.
“Muitas pessoas que trabalhavam em fazenda mantiveram o hábito quando vieram à cidade”, conta o comandante do Corpo de Bombeiros de Três Lagoas, Coronel Arruda.
De acordo com o oficial, os climas bem definidos na região ajudam a concentrar o fogo nesta época do ano. “Durante a primavera e verão temos tempo quente e muita chuva, o que faz o mato crescer. Depois, durante a estiagem acentuada, o tempo seco, as pessoas aproveitam para limpar as áreas, fazer as roçadas e, depois, ateiam fogo nos resíduos”, afirma o Coronel.
E o que fazer com o lixo?
A dica do comandante dos Bombeiros é não deixar acumular. Realizar roçadas periódicas, com o mato ainda baixo, e pedir auxílio à Prefeitura para recolher lixos maiores, como sofás velhos.
