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sexta-feira, 10 de maio de 2024

Estudante de moda morre em Araraquara vítima de anorexia

18/11/2006 11h14 – Atualizado em 18/11/2006 11h14

Estadão

A universitária Carla Sobrado Cassalle, de 21 anos, morreu na quinta-feira em Araraquara, no interior paulista, vítima de complicações desencadeadas por anorexia nervosa e bulimia. Ela estava internada no Hospital Beneficência Portuguesa desde segunda-feira, depois de sofrer duas paradas cardíacas. A jovem foi enterrada nesta sexta no Cemitério São Bento.

Carla morava em Araraquara e estava no terceiro ano do curso de Moda, da Faculdade Anhembi Morumbi, em São Paulo. O laudo do Instituto Médico-Legal (IML) não diagnosticou a causa da morte.

Esse foi o segundo caso na semana de morte por complicações decorrentes de uma anorexia, que é um distúrbio alimentar no qual a pessoa perde o apetite e fica longas horas sem comer. Na terça-feira, a modelo Ana Carolina Reston Macan, de 21 anos, morreu vítima da doença, depois que o seu quadro se agravou e evoluiu para uma infecção generalizada. A jovem tinha cerca de 40 quilos e 1,74 metro.

 

Família

O pai de Carla, o engenheiro civil Antônio Carlos Cassalle, diz que a menina não aceitava a doença e que, há mais de um ano, tomava remédios diuréticos baseados em pesquisas feitas através do site de relacionamentos Orkut. Ela media 1,70 metro e pesava 45 quilos. Na fase mais crítica há um ano chegou a pesar 38 quilos. Cassalle conta que o problema da jovem com a balança começou há cinco anos. Ele não tinha muito contato com a filha que morava com a mãe e os avós. “Nós sabíamos que ela tinha anorexia e a alertávamos, mas ela nunca quis tratamento efetivo”, diz o engenheiro.

Uma tia, que preferiu não divulgar o nome, convivia com a estudante e lembra dos tempos de idas e vindas a hospitais. “Fizemos tudo o que foi possível. Ela foi internada várias vezes ficando, durante um período, monitorada por enfermeiras 24 horas que a auxiliavam para que não vomitasse.” Já o pai da garota conta que em muitos momentos, durante o tratamento, a jovem apresentou melhora e chegou a engordar, mas, logo depois, voltava a emagrecer abusando dos remédios. Em São Paulo, ela teria começado as pesquisas na internet. A família nunca desconfiou. Cassale não sabe como ela comprava os medicamentos sem receita médica.

 

Tratamento

Preocupada com o estado de saúde da garota, no começo do ano, a mãe e os avós fizeram a universitária trancar a faculdade de moda para que o tratamento fosse feito sob supervisão dos parentes em Araraquara. “Ela nunca aceitou que estava doente e achava que isso era implicância nossa”, diz um tio, que preferiu o anonimato. Os familiares só ficaram sabendo nas últimas semanas que a jovem tomava um vidro de remédios diuréticos para emagrecer. Colegas de Carla contaram que ela era muito vaidosa e adorava festas.

Para o tio que acompanhou todo o processo de evolução da doença da universitária, talvez, o convívio com o mundo da moda possa ter confundido a sobrinha. Para o psicólogo Carlos Eduardo do Carmo Oliveira, casos como o de Carla são chamados de distonia que nada mais é do que um erro alto da percepção, ou seja, mesmo estando magra, ao se olhar no espelho, a pessoa se vê gorda e fora dos padrões estereotipados de beleza.

Um outro psicólogo que acompanhou a estudante por quatro meses não quis comentar o caso. Ele apenas comentou que a jovem resistia muito ao tratamento. Os médicos que a seguiram no hospital também não falaram alegando “questões éticas”.

Em seu Orkut, dezenas de amigos deixavam mensagens de carinho e saudades. Alguns pediam notícias sobre o motivo da morte. Em seu perfil, a jovem se qualifica através de algumas palavras: “Tenho defeitos e também muitas qualidades, não na mesma proporção nem na mesma intensidade.” No Orkut ela diz que não é perfeita. No espaço virtual não existe nenhuma referência a pessoas anoréxicas, apenas algumas comunidades sobre modelos.

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